A Golondrina
- Direção: Gabriel Fontes Paiva
- Duração: 90 minutos
- Recomendação: 16 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
Sob a direção de Gabriel Fontes Paiva, o drama A Golondrina, do espanhol Guillem Clua, chega aos palcos brasileiros com bem-vinda atualidade. A trama foi inspirada no ataque terrorista ao Bar Pulse, ocorrido em Orlando, nos Estados Unidos, em 2016, uma ferida ainda recente e não restrita ao público gay e aos familiares. O protagonista é Ramon (interpretado por Luciano Andrey), sobrevivente de uma chacina praticada por homofóbicos em uma boate enquanto ele festejava o pedido de casamento do namorado, morto na tragédia. Depois de meses em recuperação, o rapaz percebe que é hora de rever o passado em relação ao companheiro e procura Amélia (papel de Tania Bondezan), uma rígida professora de canto. Com a desculpa de aprimorar a técnica vocal, ele se aproxima da musicista, uma mulher dura e pouco receptiva, que, na verdade, é a mãe do seu parceiro e renegava a homossexualidade do filho. Estão expostas as bases infalíveis para um bom e comovente melodrama, por vezes aqui levadas às últimas consequências em diálogos sentimentais e próximos do tom folhetinesco. O público não encontra dificuldades para embarcar no duelo travado entre os personagens. Ciente disso, o diretor concentrou as atenções na dramaturgia e na sua dupla de intérpretes, abrindo mão de maiores efeitos cênicos. Em uma prova do domínio técnico, Tania alcança momentos de rara delicadeza na pele da mãe que luta diariamente contra as sequelas da tragédia e, de certa forma, sofre por acreditar que tem uma parcela de culpa. A atriz consegue transmitir raiva e piedade em poucos minutos de variações. Andrey, por sua vez, ganha a cena muito mais emotivo e apela para uma energia impulsiva ao construir a dor e a revolta de Ramon. Mesmo que, em algumas ocasiões, a dramaturgia caia na previsibilidade, a peça resulta em um pungente recorte de um conflito que assombra a sociedade. E vale ressaltar o mérito do diretor e dos produtores por trazer à tona a história no calor do momento e não deixar, como é comum no teatro, o tema pulsante perder a validade (90min). 16 anos. Estreou em 19/4/2019.