As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão
- Direção: Sergio Módena
- Duração: 120 minutos
- Recomendação: 12 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
Em suas escritas sobre o universo nordestino, Newton Moreno caminhou do dramático das peças Agreste e Imortais ao cômico de As Centenárias e Maria do Caritó. Em uma incursão musical, o dramaturgo faz de As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão um libelo sobre as provações femininas e mostra que o empoderamento não é uma atitude recente nem escolhida. Trata-se de uma reação a algo imposto. Com densidade de sobra surge a história central, focada em Serena (papel da luminosa Amanda Acosta). Ela empreende uma jornada pelo sertão em busca do filho, que, recém-nascido, foi tirado de seus braços pelo marido, o cangaceiro Taturano (o ator Marco França). Em suas andanças, encontra outras mulheres, também ligadas ou não ao cangaço, cansadas da opressão, e passa a ser seguida por elas. Nesse meio está a prostituta Deodata (interpretada por Vera Zimmermann), decidida a evitar que o destino da filha (Rebeca Jamir) seja semelhante ao seu. De viés trágico, mas permeadas por uma dose de humor, surgem Zaroia (a atriz Carol Badra) e Viúva (Luciana Lyra), contrapontos ao sofrimento de Serena. O diretor, Sergio Módena, constrói uma encenação de grande beleza visual e extrai significativos resultados do elenco feminino, em que os destaques são Amanda e Vera. Até quem não canta tão bem defende com vigor as canções criadas por Moreno e Fernanda Maia, responsável pela direção musical. A mesma unidade não é alcançada entre os atores, que, em alguns casos, beiram a caricatura, como França ou Milton Filho, ou resultam inexpressivos, a exemplo de Jessé Scarpellini. A grandeza do espetáculo, entretanto, reside no discurso realista e nada ingênuo, capaz de mostrar que a luta feminina não pode ser sustentada só por meio de palavras e, por vezes, necessita valer-se de métodos próximos aos usados pelos opressores. Um símbolo poético é o número final, de inevitável associação política e emocionante aos ouvidos do público, mesmo para quem se distraiu um pouco durante a história (120min). 12 anos. Estreou em 25/4/2019. (120min). 12 anos. Até 4/8/2019.