O que Mantém um Homem Vivo?
- Direção: Renato Borghi
- Duração: 120 minutos
- Recomendação: 14 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
Em 1973, recém-saídos do Teatro Oficina, Renato Borghi e Esther Góes protagonizaram um espetáculo apoiado na consistência de um texto. A dramaturgia tradicional andava fora de moda, tanto porque era difícil driblar a censura dos militares como por causa do experimentalismo, transformado em regra no diálogo com a vanguarda. A peça-manifesto O que Mantém um Homem Vivo?, baseada em obras do alemão Bertolt Brecht, ganha mais uma releitura, quase cinco décadas depois, dirigida por Borghi, que contracena com Elcio Nogueira Seixas e Georgette Fadel, sob a supervisão de Diego Fortes. Os dias de hoje não podem ser definidos como ditatoriais nem como de esperanças renovadas, ao contrário das vésperas da redemocratização, em 1982, quando Borghi e Esther recorreram ao roteiro pela segunda vez. É impressionante, no entanto, como as cenas se mostram contextualizadas em um país que atravessa um conflito de identidade. A bondade se faz representada em trecho de A Alma Boa de Setsuan (1941), interpretado por Georgette e Nogueira Seixas, em que uma prostituta é questionada sobre como pode ser proprietária de uma loja. Com Borghi e Georgette, Galileu, Galilei (1943) traz à tona o cientista acuado diante da oposição da Igreja. Em tom absurdo, Georgette ainda brilha como o perplexo juiz de Terror e Miséria no Terceiro Reich (1938), gerando risos da plateia seguidos de associação com o atual momento político. A delação atinge caráter crítico em fragmento de A Ópera dos Três Vinténs (1928) costurado com menos vigor a Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny (1930). O monólogo protagonizado por Borghi no encerramento, porém, sintetiza a mensagem do conjunto. O papel do homem, seja no palco, seja no cotidiano, tem forte ressonância na voz do artista, que, aos 82 anos, é um caso raro de trajetória construída sem concessões ou adequações aos modismos (120min). 14 anos. Estreou em 16/11/2019.