O Som e a Sílaba
Resenha por Dirceu Alves Jr.
Cada vez mais envolvido em direções ou versões brasileiras de musicais estrangeiros, o também ator Miguel Falabella encontra pouco tempo para o exercício da dramaturgia no teatro. O inspirado criador de peças como A Partilha e No Coração do Brasil comprova que seu estilo autoral faz falta no recente texto de O Som e a Sílaba, encenação pela qual ainda é responsável. Falabella usa sua habilidade para construir um híbrido de drama, comédia e musical de câmara, apoiado em uma típica história de filme hollywoodiano. Na trama, Sarah Leighton (representada por Alessandra Maestrini) é uma jovem autista com talento apurado para dons específicos, no caso a música. Ela vive deslocada na casa do irmão e precisa encontrar um sentido para a vida. Procura, então, a professora de canto Leonor Delise (papel de Mirna Rubim), uma mulher cheia de problemas e pouco aberta a novas relações. A resistência inicial, é claro, transforma-se em amizade, a mestra faz a discípula mover montanhas e também aproveita para recuperar os afetos perdidos. De quebra, temas como a inclusão social são abordados de um jeito sutil. Alessandra Maestrini manda bem no drama e pisa estranhamente de forma abrupta no terreno cômico, principalmente diante da interpretação econômica de Mirna Rubim. As canções líricas apresentadas pela dupla em solos e duetos, no entanto, explicitam o grande objetivo da montagem. As protagonistas esbanjam virtuosismo, e Falabella dá seu tiro certeiro: desafia uma plateia que ficaria satisfeita com a narrativa dramática em um espetáculo de canto lírico (90min). 14 anos. Estreou em 6/10/2017.