Reforma de 200 milhões de reais muda sistema de embarque em Guarulhos
Obra vai unificar terminais 1 e 2, até dezembro de 2016. Capacidade do aeroporto aumenta dos atuais 42 milhões para 48 milhões de passageiros por ano
Em janeiro de 1985, quando foi inaugurado, o Aeroporto Internacional de Guarulhos era considerado um empreendimento faraônico. Construído em uma área de 12 quilômetros quadrados, com espaço para transportar 7,5 milhões de passageiros por ano e uma pista de 3 000 metros de extensão, parecia imponente demais para as necessidades de trinta anos atrás. Nesse caso, no entanto, não houve exagero. Ocorreu justamente o contrário. Rapidamente, o local acabou sendo soterrado pela crescente demanda por viagens de avião na capital. Em 2010, no auge do descompasso entre a infraestrutura oferecida e a superlotação dos saguões, o local chegou a operar com 5 milhões de pessoas além da sua capacidade.
Há cerca de um ano, felizmente, a situação melhorou um pouco. Aberto em maio de 2014 e com operação integral desde outubro, o Terminal 3 absorve 24% do movimento geral do aeroporto. No ano passado, Cumbica recebeu 39,5 milhões de usuários, o 29º maior fluxo do mundo. Mas, enquanto o novo e moderno espaço opera confortavelmente — pode crescer dos atuais 9 milhões de passageiros anuais para 12 milhões, com folga —, a parte antiga de Guarulhos continua apertada. Pelos terminais 1 e 2, passam 26 milhões de pessoas por ano, 1 milhão acima do limite aceitável.
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Para alargar esse funil, a concessionária GRU Airport iniciou neste mês uma reforma completa por ali. Quando estiver pronto, em dezembro de 2016, o complexo terá sua capacidade ampliada dos atuais 42 milhões para 48 milhões de passageiros por ano. Mesmo grandiosa, realizada a um custo de 200 milhões de reais, não se trata de uma obra de expansão, mas de remanejamento e reaproveitamento de áreas hoje inutilizadas. Somente com o quebra-quebra de paredes e a desativação de ambientes como um auditório, uma capela ecumênica, antigos escritórios da Infraero e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e até uma minigaleria de arte (sem nenhuma exposição no momento), o ganho será de 23 000 metros quadrados em espaço de circulação, além de 4 600 metros quadrados destinados a lojas.
Estão previstas três mudanças fundamentais. A maior delas envolve o embarque, que passará a ser centralizado: depois de realizarem o check-in na companhia aérea, todos os passageiros de voos domésticos e parte dos internacionais (cerca de 20%) vão ingressar na área restrita do aeroporto pelo mesmo ponto. O local escolhido é a interligação entre os terminais 1 e 2, onde hoje está uma loja de doces da Kopenhagen (que sairá dali em breve). Uma vez ultrapassados os controles de raio X e de passaportes (no caso dos voos para o exterior), os viajantes se dividirão de acordo com o portão de embarque e o destino. Atualmente, esse processo é bem mais confuso — há quatro entradas, duas em cada prédio.
A segunda novidade diz respeito à nomenclatura. O atual Terminal 4, o “puxadinho” por onde passam 3 milhões de passageiros por ano, vai chamar-se Terminal 1. “É uma questão de lógica; ele está situado geograficamente antes dos outros”, explica o presidente da GRU Airport, Marcus Santarém. Já o 1 e o 2 passarão a ser um só. Com o embarque unificado, tudo vai se chamar Terminal 2 (veja os detalhes no quadro acima). Apesar de a reforma completa só ficar pronta no fim de 2016, a troca de nomes já deve começar a valer a partir de novembro deste ano.
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A terceira e última modificação envolve a parte comercial. O aeroporto conta hoje com 220 lojas, incluindo livraria, lanchonetes e restaurantes (como os americanos Red Lobster e Olive Garden). O problema é que metade dos estabelecimentos está localizada no Terminal 3. Quem viaja pela “parte velha” acaba sofrendo um pouco mais para encontrar no caminho ofertas de bom nível. Essa realidade vai mudar. “Até maio, teremos 32 novos pontos, a maior parte no que chamamos de ‘lado ar’, ou seja, onde se fica esperando o avião”, explica o diretor comercial da concessionária, Fernando Sellos. Já no Terminal 3, além da recém-inaugurada unidade da Apple, o pacote inclui oito novas lojas de marcas como Cartier e Montblanc no free shop.
Ao redor do mundo, o passageiro tem o costume de embarcar rápido e aproveitar as facilidades da área exclusiva. Um exemplo é o aeroporto de Miami: há poucas opções de lazer no espaço comum e muitas lojas e restaurantes no lado de dentro. No Brasil, é o contrário. A maior parte da diversão consiste em ficar nas áreas comuns do aeroporto, geralmente acompanhado dos amigos e familiares, e esperar até o último minuto para entrar nas zonas de controle. Com as mudanças em curso, Cumbica ficará mais próximo da tendência internacional na distribuição de produtos e serviços.
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O setor de desembarque também sofrerá ajustes para dar agilidade à chegada a São Paulo. Quem sai dos aviões tem à disposição vinte esteiras nos terminais 1 e 2. No fim do ano que vem, esse número chegará a 24, com a instalação de mais quatro. As antigas, com três décadas de operação, serão recauchutadas. Com isso, pretende-se melhorar um dos maiores gargalos do aeroporto: a espera das malas. A recomendação da Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata, na sigla em inglês) é que todos os pertences despachados sejam devolvidos aos donos em até 25 minutos (voos domésticos) e quarenta minutos (internacionais). Atualmente, cumprem-se ali apenas 67% da primeira meta e 69% da segunda.
“O passageiro não quer saber se a culpa é nossa ou da companhia aérea, ele quer a bagagem no prazo”, diz Santarém. O estacionamento é outro ponto que merecerá atenção especial. Há no espaço um total de 8 452 vagas, que costumam atender bem o viajante que chega de carro. Em janeiro de 2016 haverá mais 979, um acréscimo de 11%. Os planos para o próximo ano incluem ainda a abertura de concorrência para a construção de um edifício-garagem, semelhante ao que existe por lá. “É raro, mas em horários de pico já chegamos a ter 100% de lotação, por isso a necessidade de aumentar a oferta”, comenta Sellos.
Quando assumiu a operação das mãos da Infraero, em 2013, a GRU Aiport tinha como missão principal acomodar os passageiros que viriam para a Copa do Mundo de 2014. Em um ano e meio, a concessionária construiu o Terminal 3, hoje responsável por 80% dos voos internacionais. Na quinta-feira (20), foi inaugurado por ali um hotel da bandeira Tryp com oitenta quartos, para uso exclusivo de viajantes em conexão e da tripulação oriunda de longos voos internacionais. No período inicial da gestão, dedicado a expandir rapidamente o aeroporto para aumentar o conforto dos usuários, a companhia responsável por Cumbica deixou em segundo plano as áreas antigas.
Nos terminais 1 e 2, que continuaram a concentrar 69% dos 830 pousos e decolagens diários, deu apenas um “banho de loja”: reformou os banheiros, trocou a sinalização (as placas em preto e branco transformaram-se em amarelo e preto, seguindo padrões internacionais) e incrementou a iluminação. “Isso aqui já foi bem pior, você ficava horas nas filas, mal tinha lugar para sentar”, diz o estudante de direito Lucas Obici, de 20 anos. “Mesmo assim, ainda é visível a diferença de qualidade entre o Terminal 3 e os outros”, completa. Na última terça (18), ele chegava de uma viagem de férias de Madri, na Espanha, e pegaria um voo de conexão para Maringá (PR), onde mora.
Dos terminais para fora, existe muito trabalho a ser feito no Aeroporto de Guarulhos, que ficou velho demais para abrigar algumas das novas tecnologias. A GRU chegou a anunciar que até a Copa do Mundo conseguiria iniciar as operações do Airbus A380, o maior jato comercial do mundo, com capacidade para até 853 passageiros, utilizado por companhias como Air France e Emirates. Em fevereiro do ano passado, porém, os planos foram por água abaixo quando a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) vetou a certificação categoria F, necessária para receber o superjato. O motivo: a pista, de 3 700 metros de extensão, precisa ser reformada e ganhar 7,5 metros de área lateral, uma espécie de “acostamento”. “No nosso contrato de concessão está escrito que temos até dezembro de 2016 para nos adaptar”, diz o presidente Marcus Santarém. “Mas temos todo o interesse de adiantar o cronograma. Estaremos prontos para o A380 em novembro, antes da alta temporada.”
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