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Amaury Jr. e sua doce vida

Colunista eletrônico mais bem-sucedido do país vive um cotidiano de eventos glamourosos

Por Alvaro Leme
Atualizado em 6 dez 2016, 09h04 - Publicado em 18 set 2009, 20h33

São José do Rio Preto, 1964. Um adolescente acompanha de olho comprido o entra-e-sai dos brotinhos no Automóvel Clube, point dos grã-finos. Filho de um casal de professores cujos rendimentos davam para as contas da casa (e olhe lá!), Amaury de Assis Ferreira Júnior não tinha dinheiro para fazer parte daquela turma. São Paulo, 2007. Um cinqüentão de paletó bem cortado recebe tratamento de rei no restaurante A Bela Sintra, nos Jardins. Vai fumar, surgem com um isqueiro. Quer beber, um bom vinho lhe oferecem. Satisfeito, levanta-se e vai embora sem precisar pagar. Afinal, trata-se de Amaury Jr., o homem para quem as portas dos ricos estão sempre abertas.

A trajetória de ascensão social do rapazinho humilde começou quando ele percebeu que, como jornalista, conseguiria circular à vontade entre a elite rio-pretana. Assim, aos 14 anos, nasceu sua primeira coluna, no mural do Instituto de Educação Monsenhor Gonçalves, o mais importante da região. “Ficava esperando de longe a reação das pessoas”, lembra. De lá para o jornal local onde ganhou seu próprio espaço, aos 16, foi um pulo. Aos 21, quando cursava a faculdade de direito de Rio Preto, era colunista respeitado e requisitado na cidade do interior paulista. Com 27 anos, casado e pai de dois filhos, veio tentar a sorte na capital. Trabalhou em telejornais, rádio, veículos impressos… E teve a grande sacada de sua vida em 1982, quando criou o Flash, programete de cinco minutos exibido na TV Gazeta, em que mostrava festas badaladas da cidade.

Um quarto de século e mais de 30.000 entrevistas depois, Amaury comanda hoje, aos 56 anos, um programa que leva seu nome, exibido pela RedeTV!. De terça a sexta, quando vai ao ar da 0h05 à 1h30, alcança audiência média de 2 pontos. O ibope sobe para 3 pontos aos sábados, dia em que é exibido das 22h à 0h30. Amaury passou pela Record e pela Bandeirantes, onde se consolidou como pioneiro do colunismo social eletrônico no Brasil. Ganha cerca de 600.000 reais mensais – mais os rendimentos de outras empreitadas como DVDs, reportagens institucionais para empresas (que são exibidas somente para os funcionários), palestras e negócios como o CD que acaba de lançar, com as músicas que toca entre suas entrevistas. “Nos Estados Unidos, um cara que fizesse tudo o que faço seria biliardário”, afirma, enquanto bate o pé direito, inquieto, na varanda de seu apartamento de 500 metros quadrados, com vista para o Parque do Ibirapuera.

O imóvel, onde vive com a mulher, Celina, ocupa um andar inteiro de um prédio de altíssimo padrão. É decorado com sofás italianos e mesas de vidro belga. Ali, duas coleções dele têm lugar de destaque: uma DVDteca com 12.000 títulos, a maioria documentários, e dezenas de bonequinhos, do Pernalonga aos Beatles. Como os filhos (Amaury, de 32 anos, e Maria Eduarda, de 30) casaram e mudaram, seus quartos abrigam atualmente roupas e sapatos que não cabem mais no closet do pai. Só as gravatas são mais de 600, que ganhou de amigos e patrocinadores. “Se comprei umas cinco, foi muito”, conta ele. Em troca da exibição de seus nomes nos créditos do programa, marcas como Ricardo Almeida, Paul & Shark e Camargo Alfaiataria fornecem peças sem cobrar. “Todo apresentador faz isso”, diz ele, que também tem 200 pares de sapatos, quase todos feitos sob medida. Amaury, que descalço mede 1,76 metro, fica 3 centímetros mais alto quando calça um deles. Outra permuta é com restaurantes (como o A Bela Sintra, citado no início desta reportagem, o Catherine e o La Tambouille). O acordo permite que o colunista e alguns de seus funcionários façam suas refeições na faixa.

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Amaury suou para conquistar essas facilidades e o prestígio de que desfruta. Ainda sua, aliás. Pelo menos três vezes por semana, ruma para o cenário que se tornou seu habitat: os eventos. Ironicamente, ele diz ter aversão a esse agito todo. “Odeio festa”, jura de pés juntos. “Não vou curtir, mas sim trabalhar”, explica. A impressão que se tem, diante das câmeras, é bem o contrário disso. Animado, falante e, vá lá, meio grudento, segurando o braço de seus entrevistados, pergunta coisas constrangedoras, com um sorriso nos lábios. Esse agarra-agarra – ele quase sempre termina suas conversas com um estalado beijo na bochecha das moças – fez surgir recentemente um boato de que tinha se separado de Celina. O casal desmente a história. Mas ela confessa que sente, sim, ciúme. “O maior defeito dele é pensar em trabalho o tempo todo”, queixa-se a matemática de formação, administradora das contas da Callme Comunicações, empresa do colunista. Atua também como uma espécie de freio para o marido workaholic. Quer dizer, tenta. Para conseguir tirar férias, leva quase um ano planejando (e às vezes ele cancela em cima da hora). Amigo desde os tempos da Gazeta, o colega Fausto Silva confirma. “Amaury ficou suspenso das pizzadas na minha casa por uns três meses”, conta o apresentador. Motivo: quebrou a regra, estabelecida por Faustão, de que os jornalistas não podem apurar notas e reportagens durante os encontros.

Apesar dos boatos que desperta, o jeito íntimo com que trata seus entrevistados ajuda o apresentador a descolar notícias exclusivas e a convencer gente que, em princípio, rejeita a idéia de conversar com ele. Aconteceu com Gisele Bündchen. “Ele passou um papo na mãe dela, que a convenceu a falar conosco”, lembra Leandro Sawaya, diretor do Programa Amaury Jr. Sempre levanta o moral de seus convidados com elogios e, de repente, esperto, desfere perguntas que eles não esperavam. Quis saber, por exemplo, o que Paulo Maluf comia na cadeia – foi o primeiro, em 2005, a entrevistá-lo logo que saiu da cana. Nos anos 90, quando veio à tona o romance entre os então ministros Bernardo Cabral e Zélia Cardoso de Mello, convenceu Cabral a falar do caso. “Podem me chamar de bajulador, mas sempre arranco de um convidado o que ele tiver de interessante.”

Os eventos que merecem cobertura são discutidos numa reunião de pauta, toda segunda, no estúdio da Callme Comunicações, que emprega sessenta pessoas. Pelos cálculos de Amaury, dos cerca de vinte eventos que acontecem semanalmente em São Paulo, somente três valem a pena. Às vezes, acaba indo a um dos outros dezessete – por motivo puramente comercial. É que, de cada programa, em média 50% do que aparece é conteúdo pago, que ele chama de “infomercial”. Ou seja, uma publicidade disfarçada de reportagem. “Não cobramos se é a estréia de um espetáculo bacana ou um aniversário importante”, diz Marcelo de Carvalho, vice-presidente da RedeTV!. “Mas existe uma tabela de preços para coberturas institucionais.” E quanto vale o show? Bem, isso varia. Se Amaury em pessoa der o ar da graça, um infomercial de seis minutos sai por 150.000 reais (dependendo da negociação, esse valor cai até 30%). Se for um de seus repórteres, custa a metade. Essa prática rendeu ao apresentador a pecha de jabazeiro – que ele odeia, naturalmente. No jargão jornalístico, jabá é o termo usado para referir-se a dinheiro, favores ou produtos dados em troca de reportagens.Graças ao programa, Amaury tem seis passaportes abarrotados de carimbos dos quatro cantos do mundo. Para a Disney, já foi mais de vinte vezes. Neste ano, esteve até agora em Paris e Milão. Como as viagens são a trabalho, não precisa pagar por elas. De tanto circular pelos cinco continentes, descobriu aí outro filão: os guias turísticos. No ano passado, visitou as cidades alemãs antes da Copa do Mundo e criou um livro com 100 dicas de programas. A obra é legal e vendeu 35 000 exemplares. Em junho último, lançou em parceria com a revista Caras um DVD sobre Orlando, na Flórida. “Agora, estou com vontade de ir para Nova York”, conta ele, que diz ter agendada para setembro uma entrevista com o cantor Elton John em Londres. Um de seus destinos mais freqüentes é Punta del Este, no Uruguai, onde fica um dos patrocinadores do programa, o cassino e hotel Conrad. Por falar no mundo das apostas, Amaury foi um dos grandes divulgadores de paraísos dos jogadores como Las Vegas e Atlantic City. Ele diz conhecer tudo sobre esse universo graças à amizade com o empresário Ciro Batelli, brasileiro que se tornou seu amigo quando era vice-presidente da rede de hotéis Caesars. E ele se arrisca no jogo? “Só nos caça-níqueis”, afirma. “Nunca mais que 200 dólares.” Batelli, que hora ou outra faz as vezes de repórter para Amaury em Las Vegas, onde mora, gosta de lembrar do dia em que, depois de dividirem duas garrafas de champanhe Dom Pérignon com a cantora Shirley Bassey, o colunista chegou a dançar lambada com ela. “E olha que, no início, ela nem queria conversa.”

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Apesar de declarar que não se dá conta da passagem do tempo, visita a dermatologista Ligia Kogos a cada três meses, desde 2003. Ela aplicou Botox na testa e nas laterais dos olhos do apresentador e receitou cremes contra rugas e manchas. “Um deles tem o chamado ‘efeito Cinderela’ “, conta a doutora. Hein, como é? “Desamassa o rosto instantaneamente, deixando a pessoa com uma expressão descansada.” Amaury também pratica dança de salão com uma personal trainer e faz terapia, coisa que nunca admitira até maio deste ano, quando começou a encarar duas sessões semanais. Seu ponto fraco é o cigarro: dá conta de meia dúzia deles num único almoço. Conseguiu se abster das tragadas durante cinco anos. Voltou no ano passado, quando aconteceu outra grande mudança: emagreceu 13 de seus 87 quilos. Para manter os 74 quilos atuais, fez reeducação alimentar e toma Xenical três vezes por dia. A perda de peso deixou um excesso de pele no pescoço, a famosa papada, prontamente eliminada com um lifting. Foi o único procedimento cirúrgico a que se submeteu, diz ele. “Disseram que fiz lipo e mexi no rosto, mas não é verdade”, afirma. “Tenho medo de entrar na faca.”

Outra coisa que o assusta é a violência. Teme pela segurança dos filhos e da mulher – que, para se protegerem, não gostam de se deixar fotografar –, além de sua própria. “Já fui assaltado oito vezes”, diz. Três delas, quando circulava a bordo de um de seus carrões (um Jaguar S-Type e um Chrysler 300C). Nada, porém, parece ser tão capaz de assustá-lo, embora ele não diga isso com todas as letras, quanto a remota possibilidade de um dia voltar àquela época de vacas magras da infância. Quando as portas lhe eram fechadas. Quando não participava da turma. Quando não era, enfim, Amaury Jr… “Ser bem tratado e bajulado vicia.”

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