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O construtor Andre Czitrom aposta em prédios populares no centro

Além das moradias populares, o construtor promove ações sociais nos canteiros de obra

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 16 nov 2018, 06h00 - Publicado em 16 nov 2018, 06h00
Andre Czitrom, engenheiro que constrói prédios populares do Minha Casa Minha Vida  (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Em 2016, o engenheiro civil Andre Czitrom decidiu apontar o foco de sua construtora, a Magik JC, para o Minha Casa Minha Vida (MCMV). Ao contrário do habitual — buscar o metro quadrado mais barato, na periferia da cidade, para encaixar o modesto valor por unidade —, preferiu mirar no centro, até então esquecido pelas incorporadoras.

O primeiro desafio foi encontrar clientes cuja renda familiar não ultrapassasse o teto de cerca de 6 000 reais, regra da prefeitura para Habitações de Interesse Social (HIS). De cada dez interessados, nove não se enquadravam no regulamento. Ainda assim, a procura foi grande, e todas as unidades em um empreendimento da Rua Frei Caneca foram comercializadas em poucas semanas. “Passei em frente ao estande, vi o decorado, fiquei encantado e preenchi a proposta”, afirma Jayme Sampaio Neto, de 33 anos. Nascido e criado na Zona Leste, ele pagará uma prestação de 1 000 reais por mês durante trinta anos para morar ali. “É menos do que um aluguel na região, e ainda por cima posso abater o saldo utilizando o meu FGTS”, comemora.

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Construção na Rua Major Sertório: prestações abaixo do valor de aluguel (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Além de apostarem em uma área inusitada para o MCMV, os projetos de Czitrom são marcados por iniciativas de participação popular. Em uma obra na Rua Major Sertório, por exemplo, a construtora transformou o terreno em uma área de convivência, com bancos, internet sem fio e uma horta, antes da chegada dos blocos de concreto. Alunos de uma escola pública da região foram convidados a fazer desenhos nas paredes, ideia reproduzida em outros canteiros.

No fim de setembro, a companhia promoveu um evento voltado a estrangeiros refugiados em um empreendimento da Avenida Nove de Julho. Chamado de Bazar Étnico, o encontro reuniu cidadãos de países como Síria e Nigéria. Por essas e outras iniciativas, a companhia é uma das 112 certificadas pelo Sistema B Brasil, movimento que objetiva um sistema econômico cujo sucesso é medido pelo bem-estar das pessoas e da natureza.

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Construção na Rua Amaral Gurgel chama atenção pelos baixos preços (Alexandre Battibugli/Veja SP)

A proposta de voltar suas baterias para o centro da cidade surgiu há pouco mais de dois anos, quando o empresário percebeu que a crise financeira responsável por derrubar o setor imobiliário de médio e alto padrões não havia atingido o mercado popular. Desde então, Czitrom, de 35 anos, adquiriu dez terrenos, de no máximo 1 000 metros quadrados cada um, iniciou as obras em quatro deles e promete entregar 1 400 unidades habitacionais a partir de 2019.

Os desafios não foram poucos. O primeiro foi convencer seu pai e sócio, o também engenheiro de origem romena Josef Czitrom, no ramo há mais de quarenta anos, de que a conta fecharia, por causa do valor dos terre- nos, mais elevado que os da periferia. “Compramos o primeiro espaço, de apenas 845 metros quadrados, na Rua Frei Caneca, bem perto do shopping, para um teste”, afirma Andre. Dali sairão 85 apartamentos de no máximo 28 metros quadrados, comercializados por até 240 000 reais, o teto do programa.

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Para fazerem a despesa caber nas receitas e ainda extraírem lucro, os engenheiros Czitrom enxugaram as plantas (os prédios não possuem garagem nem subsolo), reduziram a margem de ganhos em até 35% e apostaram em obras rápidas. A ideia é evitar que o dinheiro fique parado por muito tempo. “Prefiro negociar apartamentos menores com a garantia da Caixa Econômica Federal a me arriscar ao vender a um investidor nos dias de hoje”, afirma Andre. “O mercado convencional está saturado.” A expectativa é que o primeiro empreendimento renda um lucro líquido de 4 milhões de reais. A ideia deu tão certo que outras duas obras na mesma região, nas ruas Major Sertório e Amaral Gurgel, já começaram e uma terceira, na Avenida Nove de Julho, será a próxima.

Horta Comunitária – Divulgação
Horta comunitária beneficia conjunto de moradores (Divulgação/Divulgação)

Pós-graduado em história da arte, o engenheiro Andre Czitrom se interessa pela região central de São Paulo desde pequeno. Morador de Higienópolis, casado e pai de dois filhos, certa vez ele levou a menina mais velha para conhecer um prédio de alto padrão que havia construído em Perdizes, na Zona Oeste. “Ela me perguntou quem moraria ali, e eu não soube responder”, afirma.

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O questionamento ficou na sua cabeça até que ele teve a ideia de criar eventos e bolar reuniões entre os futuros habitantes. “Nas nossas obras não colocamos tapumes, e eu faço questão de mandar uma carta aos vizinhos explicando que haverá incômodos”, diz Czitrom. No último dia 6, por volta das 15 horas, os ruídos oriundos das obras na Rua Major Sertório eram altos, a ponto de provocar queixas. “Não vejo a hora de a barulheira acabar”, afirmou a moradora de um prédio ao lado, que pediu anonimato e confirma o envio dos informativos. “Quem quer uma obra dessa do lado de casa, né?”, pondera.

Trabalho social artístico
Trabalho social artísticos ganham novos horizontes internacionais (Divulgação)

As empreitadas da Magik JC começaram a ganhar concorrentes. No mês passado, a Eztec, uma das maiores construtoras do país, lançou no Brás a marca popular Fit Casa. Com unidades de até 38 metros quadrados, o empreendimento vai contar com quatro torres e quase 1 000 apartamentos, erguidos em um terreno de 6 000 metros quadrados próximo à estação de metrô do bairro. Desde 2009, o Minha Casa Minha Vida entregou 771 000 unidades em São Paulo. Entre 2017 e 2018, o aumento foi de 7,8%. “A chegada de novos moradores será um importante fenômeno no centro, que ganhará comércios e serviços”, afirma Claudio Bernardes, ex-presidente do Secovi, o sindicato do mercado imobiliário.

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