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“A sustentabilidade é uma agenda da humanidade”, diz criador da Virada Sustentável

Com desafio de “traduzir” temas como aquecimento global e questões de gênero, André Palhano dirige maior edição da Virada Sustentável em São Paulo

Por Humberto Abdo
15 set 2023, 06h00
Homem branco de barba dá meio sorriso. Veste camiseta branca e posa em frente a área verde.
André Palhano, fundador da Virada Sustentável. (Zeca Prado/Divulgação)
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De 16 a 24 de setembro, a 13ª Vira da Sustentável movimenta São Paulo com mais de 800 atrações espalhadas pela capital, incluindo regiões periféricas, que ganharam foco especial nas últimas edições. Além de unidades do Sesc e dos CEUs, pontos turísticos da cidade recebem shows, projeções e atividades que abordam vários aspectos da sustentabilidade — temas muito além de questões ambientais, como defende o fundador André Palhano, 47, na entrevista a seguir (confira a programação em viradasustentavel.org.br).

Como nasceu o projeto da Virada?

Surgiu da necessidade de apresentar a sustentabilidade de forma mais atraente. Víamos muito aquele discurso do “faça sua parte, seja isso, seja aquilo”. Queríamos um festival com conteúdos artísticos que gerassem reflexão e que mostrem essa diversidade de temas porque sustentabilidade envolve desigualdade social, erradicação da pobreza, questões de gênero e outras causas que normalmente não são relacionadas a esse campo. Muitos pensam que só se trata de questões ambientais.

Em entrevista à Vejinha durante a pandemia, você disse que a proposta “nunca foi ter uma virada ambiental feita para abraçar árvores”. Esse estereótipo persiste?

Sim, ainda. Até sugiro um exercício: joga “sustentabilidade” no Google Imagens e veja como sua tela vai ficar toda verdinha. Lógico que as causas ambientais são o fundamento dessa ciência, mas está na hora de ampliar a visão e entender que tudo está interligado. Cada vez mais pessoas estão entendendo que se trata de uma agenda da humanidade.

Quais são os temas deste ano?

A Virada acaba sendo sempre um reflexo dos temas mais em alta na sociedade, então temos visto bastante demanda sobre questões indígenas e mudanças climáticas.

Quais são as causas mais difíceis de traduzir ao público geral?

As mudanças climáticas são um tema que só tem se tornado mais fácil por conta de tudo o que estamos vivendo. Dez anos atrás falavam “imagina, só fez um pouco mais de frio ou calor nesse ano”. É complexo porque não é algo sempre tangível, assim como a Amazônia. Nem sempre conseguem entender a relação das chuvas em São Paulo com a preservação das florestas. Temas invisíveis à população são difíceis de explicar e temos a missão de tornar essas discussões mais palatáveis.

Existe um movimento negacionista que questiona a existência do aquecimento global. Vocês ainda são confrontados por esses grupos?

No começo éramos sim e ainda bem que existe uma coisa chamada ciência. Negacionistas do meio científico hoje são uma minoria cada vez menos ouvida e respeitada.

A programação em São Paulo terá quase 900 atrações. É um recorde?

Acho que sim. É o primeiro ano em que conseguimos voltar ao normal após a pandemia.

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O que vocês aprenderam com a edição pós-pandemia e o que mudou?

O maior aprendizado, que talvez nos diferencie dos outros festivais, é saber manter essa ocupação visual com muitas instalações, grafites e coisas no metrô, que impactam vários públicos de diferentes maneiras.

Qual foi o critério para a escolha dos locais e da programação deste ano?

A Virada, desde o segundo ano, teve essa preocupação de estar em todos os territórios da cidade, algo que conquistamos com parcerias, coletivos e com a Secretaria da Educação, por exemplo. Parte disso vem da nossa curadoria e da chamada pública, com artistas, oficineiros e grupos se inscrevendo.

De onde vêm os recursos para realizar o evento?

De patrocinadores e das leis de incentivo. O projeto total custa em torno de 4,5 a 5 milhões de reais e estamos entregando sem dúvidas um evento de 12 milhões, porque a Virada não é um evento de um único local, com meta de lucratividade.

Quais são os destaques desta edição?

Tem a obra Palavras que Salvam, pintura feita por Eduardo Srur às margens do Rio Tietê. É uma intervenção (com 250 metros de extensão) que começa no dia 22 (de setembro) e deve durar quatro ou cinco meses. Também confirmamos apresentação d’A Espetacular Charanga do França (23/9) e o show de encerramento com Adriana Calcanhotto e a orquestra Mundana Refugi (24/9), ambos no Parque Villa-Lobos. E faremos um piquenique com música (17/9) no Parque Augusta — antes fazíamos na própria rua, junto com os movimentos que queriam transformar aquele espaço num parque. E para a campanha deste ano pedimos para organizações mandarem suas “manchetes dos sonhos” para 2030.

E qual é a sua manchete dos sonhos?

Acho que a manchete “Brasil vira referência civilizatória para o mundo em desenvolvimento sustentável”. Seria incrível nosso país ser referência global de desenvolvimento mais equilibrado e justo para todo o mundo.

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Questões como essa ainda são abordadas superficialmente na política?

Elas são cada vez mais debatidas e presentes, às vezes de maneira equivocada, às vezes acertada. Mas só vamos ter mudanças quando a população entender que não estamos só falando de preservar uma floresta distante ou reciclar o lixo, mas de como podemos aplicar a ciência e o conhecimento para todos terem uma vida melhor.

Ainda é comum as marcas explorarem esses assuntos de forma meramente comercial?

Muitas delas fazem peças publicitárias maravilhosas, mas você vai conhecer as ações e vê que não têm nada a ver com isso. É o que chamam de greenwashing, mas tem mudado bastante. Como toda mudança de paradigma, essa também tem os tropeços entre quem está no comando da empresa e quem não está. Mas o setor privado é fundamental para o avanço dessa agenda porque tem um radar de longo prazo, olhando vinte anos à frente. Nós olhamos muito pouco e os gestores públicos menos ainda.

É possível ser sustentável vivendo em São Paulo?

Ninguém é 100% sustentável e isso é algo que prejudica: “Ah, só posso usar tecido reciclável, não posso comer carne”. Essa visão de que só tem restrições é um equívoco que devemos mudar. O que precisa ter é consciência. Às vezes você pode tomar banho de uma hora no chuveiro, mas não vai fazer isso no meio de uma crise hídrica, nem todo dia.

E de que maneiras você aplica esse conceito na sua rotina pessoal?

Sou um consumidor consciente. Compostagem é uma coisa que as pessoas precisavam descobrir, todo mundo acha que é a terra com minhocas, que vai atrair bichos, mas não. As composteiras hoje em dia são modernas e rendem adubo para quem tiver uma hortinha. Eu tenho a minha, mesmo em apartamento, e procuro usar o transporte compartilhado sempre que isso for uma opção saudável, segura e prática.

Homem branco de barba dá meio sorriso. Veste camiseta branca e posa em frente a área verde.
André Palhano, fundador da Virada Sustentável. (Zeca Prado/Divulgação)
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Publicado em VEJA São Paulo de 15 de setembro de 2023, edição nº 2859

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