Aos 60 anos, estagiária sonha em ser professora de literatura no interior de SP
Cláudia Rodrigues Alves conta que, depois de aposentada, sentiu que se tornou invisível às pessoas
Uma sala de aula é acompanhada por uma estagiária que pretende lecionar literatura para o ensino médio. A professora e seus alunos discutem qual será o livro escolhido para a leitura bimestral. “O Cortiço” de Aluísio de Azevedo é a obra votada, e a estagiária se propõe a reler o livro para também acompanhar as aulas, mesmo que sua autora favorita seja mesmo Clarice Lispector.
Esse é um dia da rotina de Claudia Rodrigues Alves, de 60 anos, que acaba de concluir seu estágio na Escola Estadual Professor Francisco de Souza Mello, localizada em Mogi das Cruzes, na Região Metropolitana de São Paulo. Mesmo já aposentada há 6 anos, revela que ainda tem grandes planos para atuar como professora e conta que já se inscreveu no processo seletivo do Estado de atribuição de aulas.
Seu caso não é exceção. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), entre o final de 2012 e 2024, o número de pessoas idosas ocupadas subiu quase 69%, chegando a 8,6 milhões.
“Depois que eu me aposentei, eu me tornei uma pessoa invisível”. O desabafo de Claudia é comum entre muitos idosos durante esse período, segundo Alessandra Neumann, pesquisadora sobre o tema pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A especialista aponta que, muitas vezes, essa população deseja voltar ao trabalho após a aposentadoria, como forma de recuperar um sentido de propósito e utilidade.
Além disso, a atividade laboral também passa a significar fonte de identidade, valor cultural, memória de trajetória e certa autonomia financeira. Há situações diversas em que essa retomada é acompanhada por perspectivas novas e até mesmo possibilidades de outras carreiras. Esse foi o caso de Claudia que, apesar de formada em Engenharia Química, foi atrás de uma formação em Letras para complementar a renda da sua aposentadoria e seguir um sonho que perdeu na juventude.
“Minha mãe fez magistério e deu aula para o Ensino Fundamental”, lembra a estagiária que, além da herança materna, acompanhou as aulas de sua irmã 10 anos mais velha ainda na infância. Claudia também comenta como foi o processo de procura de estágio: “A questão da idade é impactante. Eu fui em várias escolas e as pessoas não te dão muita atenção, mas aqui, nessa escola, eu fui muito bem recebida”.
Com o estágio, a futura professora, Claudia Rodrigues Alves, expressa satisfação com a participação nas aulas com as crianças e professoras. Ela iniciou a experiência profissional nas turmas de Ensino Médio e, agora, acompanha alunos do Ensino Fundamental, ajudando aqueles com dificuldades nas atividades.
“As pessoas te enxergam, te veem de outra maneira. E começando a lecionar também acho que vou sentir minha autoestima muito melhor”.





