Festa na Pacha
VEJA SÃO PAULO acompanhou os preparativos de uma festona na badalada casa da Vila Leopoldina
No dia 14 de outubro, uma quinta-feira, o gerente operacional Claudio Santos checava a previsão do tempo em seu computador. Procurava saber se iria chover no sábado, quando a megabalada onde trabalha, a Pacha, comemoraria quatro anos de atividade em São Paulo, período em que acumulou mais de 360 eventos, 4 000 horas de música e 600 000 clientes. Uma chuva forte anunciada na internet o deixou preocupado, pois poria em risco a estreia da nova área externa, que fora repaginada.
Numa sala próxima dali, um dos chefões do empreendimento, o sócio Eduardo Papel, cuidava do contrato das atrações programadas para abril de 2011. “Precisamos agendar com antecedência, porque todo mundo quer os mesmos DJs. Quanto mais rápido fecharmos as datas, mais fácil de termos uma turnê garantida”, dizia. Os cachês começam em 500 reais e podem chegar a 250 000 reais (valor pago ao inglês Fatboy Slim quando ele discotecou por lá em 2007).
Ainda na quinta-feira, chegavam cerca de 600 caixas de energético, cerveja, água e destilados que abasteceriam o público dali a dois dias. Elas foram guardadas em um amplo depósito protegido por arame farpado.
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Pôr de pé uma festa de qualidade dá uma trabalheira danada. São 25 pessoas responsáveis pelas tarefas do escritório, aquelas que precisam ser resolvidas no horário comercial. A divulgação dos eventos, por exemplo, deve seguir algumas regras da matriz da Pacha, na ilha espanhola de Ibiza. Em setembro, a filial brasileira produziu 400 CDs promocionais que estampavam na capa as delicadas cerejinhas-símbolo do logotipo. Em vez do tradicional vermelho, a gráfica imprimiu em roxo e foi preciso recolher a mercadoria fora de padrão.
Para celebrar o aniversário em grande estilo, a casa passou por uma reforma estimada em 1 milhão de reais: as paredes foram pintadas de azul, uma lona nova cobriu o teto, a área externa ganhou bonitos camarotes… Tudo precisa estar impecável na hora da ferveção. Por isso, como nos grandes shows, alguns DJs estrangeiros fazem questão da passagem de som. Na data da comemoração, quem estrelava o line-up era o trio sul-africano Goldfish, que ligou os pickups às 19h30 para ajustar os equipamentos e ali permaneceu por nada menos que duas horas. Mais ou menos no mesmo horário, os trinta barmen já arrumavam as garrafas, cortavam frutas e repunham o gelo. Assim como os funcionários das pequenas pizzaria e temakeria do local, que dobravam guardanapos e organizavam alimentos sem parar.
A equipe de cinquenta seguranças também costuma bater o ponto de entrada mais cedo, a fim de definir a localização de cada um deles ao longo da madrugada, quando dezoito câmeras, com imagens monitoradas ao vivo, ajudam a manter a ordem. Uma enfermeira e um médico de plantão cuidam do ambulatório, que tem uma ambulância estacionada do lado de fora, caso seja necessário — na noite da festança não houve problemas graves: a dupla socorreu cinco bêbados que passaram mal e dois homens que se machucaram em uma briga.
Com os funcionários a postos, os portões são abertos à meia-noite. O agito sempre demora a pegar. Rafinha Yapudjian, o DJ residente, esquentava a galera. Relações-públicas do clube, Thiago Prezia rondava os ambientes. “Fico de olho para ver se a música está boa, se os convidados estão sendo bem recebidos”, afirma. Nos camarins, por volta da 1h30, cinco dançarinas se enfeitavam com a ajuda de um maquiador e um cabeleireiro, antes das performances apimentadas que protagonizariam no palco. Lá fora, o movimento apertava. Em um corredor atrás da pista principal, bartenders e garçonetes corriam freneticamente. Entre um abre e fecha e outro, a porta deixava escapar o som das batidas poderosas do espaço, que costuma receber até 1 200 pessoas por noite. Um mapa dos camarotes, pendurado na parede em meio a copos, taças e baldes empilhados, servia de guia para a localização das áreas VIP.
À 0h56, chegaram os DJs. Eles seguiram direto para o camarote de um dos sócios da casa, ao lado da cabine. Estavam acompanhados da produtora Mariana Brandão, uma espécie de babá dos contratados, encarregada de atender aos desejos das estrelas. Ela busca os figurões no aeroporto, os leva para jantar, conhecer pontos turísticos… “Já me pediram um pote cheio de confeitos de chocolate só da cor azul no camarim”, conta.
Às 2 da manhã, as dançarinas entram em cena sob uma chuva de papel picado. Na sequência, o trio responsável pelos toca-discos bota fogo na pista com uma seleção de hits de house misturados a acordes de jazz. “Nesse horário, o pessoal dos bastidores costuma sossegar um pouco, porque a correria da entrada já passou e a da saída ainda não começou”, diz o gerente Claudio Silva. Com o fim do show principal, às 4h08, a galera começa a migrar para a área externa. Às 5h14, o Goldfish dá adeus à Pacha.
O salão principal perde o fôlego. Restam somente alguns gatos-pingados dançando em passos cambaleantes até terem sua alegria esfriada às 6 da manhã. Surge, então, o batalhão da limpeza. Nove pessoas com vassoura em punho amontoam quilos de latinhas, copos e papéis que descansavam na pista. Um DJ guarda seus discos, enquanto os barmen devolvem as garrafas às suas caixas de papelão originais.
Encerra-se aí apenas a primeira fase da festança. Lá fora, sob a claridade do nascer do sol, o pessoal se joga como se não houvesse outro dia. Canadense expert em electro house, o DJ John Acquaviva assumiu os toca-discos às 7 da manhã e a farra foi acabar só perto do meio-dia. Uma rotina que se repetiria na outra semana, e na outra, e na outra… Visitaram a balada naquela noite 2 800 pessoas. Para sorte delas, não caiu um só pingo de chuva durante as quase doze horas de agito.