“Bom Retiro 958 Metros” tropeça na dramaturgia inconsistente
Espetáculo mantém como proposta a intervenção em lugares improváveis
No ano da celebração de suas duas décadas, o Teatro da Vertigem transita — e leva a plateia junto — por quase um quilômetro de um bairro onde muitos circulam diariamente, mas poucos prestam atenção aos detalhes. O espetáculo “Bom Retiro 958 Metros”, encenado pelo diretor Antônio Araújo com base no texto do escritor Joca Reiners Terron, mantém a proposta do grupo paulistano: a intervenção em lugares improváveis aliada ao enfoque de questões sociais e personagens míticos. Por duas horas, os espectadores acompanham os atores transformarem-se em diferentes tipos nas cenas externas e internas, algumas de rara beleza plástica e outras de mera contemplação.
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Predominantemente comercial, o Bom Retiro vira um deserto quando as lojas e as galerias fecham as portas. Nesse tempo, fantasmas consumistas, frustrados ou ansiosos por uma mudança de vida vagam por lá, como símbolos de uma realidade opressora. Uma manequim com defeito de fábrica (papel de Sofia Boito) serve de metáfora para a inadequação ao mercado, enquanto um morador de rua (Roberto Audio, o melhor dos intérpretes), obcecado por uma pedra, representa os viciados da região. Também simbólica é a mulher (personagem de Luciana Schwinden) incapaz de comprar o vestido de seus sonhos.
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Apesar das situações interessantes, a dramaturgia mostra-se pouco consistente no aprofundamento desses temas. Fica a sensação de que a esmerada produção e a pesquisa limitaram-se a uma visita guiada costurada por performances. Muitas vezes, o público não se apega à trama e à atuação e passa a mirar as vitrines ou os prédios, desprezando o objetivo inicial: a peça de teatro. O elenco de quinze integrantes traz ainda Laetitia Augustin-Viguier, Beatriz Macedo, Conrado Caputto e Elton Santos, entre outros.
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