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Clube de Regatas Tietê perde direito ao terreno onde está há 102 anos

Decadência do clube acompanhou a poluição do rio que leva seu nome - prefeitura não vai renovar contrato

Por Da Redação
Atualizado em 5 dez 2016, 19h06 - Publicado em 3 nov 2009, 12h01

Localizados no bairro da Ponte Pe­­quena, os 64 000 metros quadrados do Clube de Regatas Tietê, que completou 102 anos em junho, devem ganhar novos visitantes em breve. Proprietária da área, a prefeitura anunciou que não renovará o contrato de co­­modato vencido na quarta passada (28) e vai transformá-la em Clube Escola. A última renovação ocorreu há quarenta anos. Este pode ser o capítulo final da história de uma associação que viveu tempos de requinte e prestígio mas teve seu brilho ofuscado pela poluição do rio que a batizou. Até os anos 70, o Re­­gatas Tietê era frequentado por integrantes de famílias paulistanas tradicionais, que praticavam ali natação, esgrima, balé, judô e atletismo. João Senna, avô do piloto Ayrton, remava nas então límpidas águas do Tietê. O presidente de honra da Fifa, João Havelange, e a primeira atleta sul-americana a disputar uma Olimpíada, a nadadora Maria Lenk, começaram a dar suas braçadas ali. Das quadras de tênis saiu Maria Esther Bueno, vencedora do torneio de Wimbledon em 1959, 1960 e 1964.

Mas as glórias do passado ficaram na memória. Há uma década, o clube reunia 30 000 sócios. Hoje, restaram 3 312, dos quais apenas 800 são pagantes regulares. A mensalidade cobrada é de 35 reais. Com o objetivo de aumentar a receita, a administração aluga suas dependências para a realização de casamentos, festas de aniversário e baladas. O valor cobrado varia entre 12 000 e 30 000 reais. So­­madas, as arrecadações dão, em média, 170 000 reais por mês. Mesmo assim, o clube amarga 30 milhões de reais em dívidas – especialmente oriundas de ações trabalhistas. ‘ A prefeitura poderia nos dar mais um voto de confiança ‘, afirma Edson Oliveira Rocha, esgrimista e presidente da entidade. ‘ Vou entrar na Justiça para impedir que nos tirem esse espaço.

Segundo Walter Feldman, secretário municipal de Esportes, Lazer e Recreação, a decisão é irreversível. ‘ Entendo o descontentamento da atual gestão, mas as administrações passadas afundaram o lugar ‘, diz. Instalados parcial ou totalmente em terrenos municipais, clubes como Palmeiras, Corinthians, Portuguesa e Espéria não enfrentam a mesma ameaça. ‘ Essa devolução é restrita ao Tietê. Não dá para um terreno gigante ficar na mão de tão poucos. ‘ Nesta semana, o secretário vai discutir a transição da área. Criado em 2007, o projeto Clube Escola consumiu 114 milhões de reais dos cofres municipais para a realização de obras em 320 espaços (entram na lista campos de futebol de várzea e quadras poliesportivas). Em sua nova destinação, o complexo, que conta com sete quadras de tênis, cinco piscinas, cinco quadras externas, cinco ginásios fechados, um campo de futebol oficial e uma pista de atletismo, pode abrir as portas ao público já a partir do ano que vem. O corpo conselheiro do Tietê se sente injustiçado. No início do ano, Feldman e o ministro dos Esportes, Orlando Silva, pediram ao clube que aceitasse a instalação da Faculdade Zumbi dos Palmares no local (veja o quadro abaixo). ‘ Fomos enganados, pois disseram que assim renovariam nossa concessão ‘, afirma Sally Palmeiro, integrante do grupo.

João Batista Jr.

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Bom Retiro, Luz, Barra Funda, Ponte Pequena…

Em seis anos, a Faculdade Zumbi dos Palmares está em seu quarto endereço

Criada em 2003 pela ONG Afrobras, a Faculdade Zumbi dos Palmares nasceu com o objetivo de ter metade de suas vagas ocupadas por alunos autodeclarados negros. Hoje, 87% dos 1 800 estudantes de seus quatro cursos, que pagam em média 295 reais de mensalidade, se enquadram nessa proposta. Mes­mo em expansão – em 2010, terá graduação em publicidade e pós-graduação em gestão es­­tratégica de negócios, gestão fi­­nanceira e ges­tão de re­­cursos humanos -, teve de cumprir ordem de despejo em dezembro passado. O motivo? Atraso de pagamento do aluguel de 225 000 reais, referente ao imóvel de 15 000 metros quadrados que ocupou na Barra Funda por três anos. Assim, instalou-se às pressas em um prédio que fica no Clube de Regatas Tietê. Acertou de repassar apenas 40 000 reais mensais ao clube para os custos de água, luz e manutenção. ‘ Até hoje não recebemos nenhum centavo ‘, afirma o presidente do clube, Edson Oliveira Rocha. A faculdade nega. ‘ Pagamos nossas contas, sim”, diz a diretora financeira e vice-presidente Raquel Costa. O secretário Walter Feldman não pensa em tirar a Zumbi dos Palmares dali. ‘ Mas ela terá de arcar com suas despesas. ‘ O anúncio é um alívio para os alunos. Antes de mudar da Barra Funda para a Ponte Pequena, a faculdade já havia passado pelo Bom Retiro e pela Luz.

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