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Organizadora de mostra do Mickey teme fim de parceria com Disney

Celeste Chad, da ONG Orientavida, que capacita mulheres ao trabalho com bordado em Potim, diz que "todos ficaram muito abalados" com episódio no JK Iguatemi

Por Matheus Prado
Atualizado em 26 mar 2019, 17h37 - Publicado em 25 mar 2019, 19h44
 (Divulgação/Divulgação)
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Uma exposição sobre os 90 anos de Mickey, o mais icônico personagem da Disney, instalada no JK Iguatemi, ganhou notoriedade na última semana por motivos não tão festivos. Isso porque uma excursão com alunos da rede pública de Guaratinguetá, que chegou mais cedo do que o combinado no local, teria sido desencorajada a comer no centro de compras, por se tratar de um ambiente “de elite”.

Muito foi dito sobre o incidente e sobre a funcionária que teria agido de forma preconceituosa, mas pouco se falou sobre a ONG responsável pelo evento. Maria Celeste Chad, 56, é fundadora e diretora da Orientavida, localizada em Potim, Vale do Paraíba, e fundada em 1999.

Nascida em Aparecida do Norte, se mudou para a cidade após seu casamento. Ela conta que, por se tratar de um lugar pobre, sempre quis fazer algo para ajudar as mulheres que ali viviam. Quase vinte anos depois, já bordaram lençóis para o Papa e hoje são a única ONG do mundo licenciada pela Disney. Perguntada sobre como conseguiu tanto partindo de um local tão pequeno, ela brinca. “Talvez eu seja ousada demais”.

Com o episódio da última semana, Celeste viu a integridade de sua marca sendo questionada e recebeu insultos e reclamações por todos os lados. Ela lamenta o ocorrido, mas evita culpar sua colaboradora. “Existe uma diferença muito grande entre o que eu falo e o que você entende”, diz. Para ela, não passa de um mal-entendido.

Celeste Chad, da ONG Orientavida
Celeste Chad, da ONG Orientavida (Divulgação/Veja SP)

Confira a entrevista:

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Como surgiu a Orientavida?

O projeto nasceu em 1999, inspirado pelo Artesol, iniciativa que buscava desenvolver artesanato raiz em regiões carentes e era tocado pela então primeira-dama Ruth Cardoso. Potim é um lugar muito pobre e não tem uma referência de artesanato, então fui buscar algo diferente para capacitar as mulheres da região. Em 2003, consegui que a presidente do Museu do Boutis (estilo de bordado), na França, passasse dois meses na ONG ensinando a técnica para as mulheres. A partir disso fui buscando novas técnicas para ampliar a capacitação e a geração de renda no local. Em 2007, por exemplo, nossas meninas bordaram – com o Boutis – lençóis para o Papa.

De onde veio sua relação com a Disney?

Nós somos a única ONG do mundo licenciada pela Disney. Eu sempre gostei da marca e quis trabalhar com eles, mas eles recusavam respeitosamente. Até que a designer Ana Strumpf recebeu um convite para trabalhar com eles criando uma coleção para a Alice no País das Maravilhas. Ela nos contatou e disse que toparia se a gente topasse. E fomos. Hoje temos o nosso Mickey monocromático e também fazemos outros produtos.

Como é a estrutura da Orientavida?

Temos um grupo de funcionárias CLT, algumas artesãs que trabalham de casa e também realizamos um projeto com presidiárias de Tremembé. Então o número de pessoas envolvidas varia conforme a ativação que estamos realizando.

Como surgiu a ideia de criar a exposição Mickey 90 anos?

Quando o Mickey fez 88 anos eu fui à Disney e tive essa ideia. Entramos e contato com eles para conseguir as informações necessárias e contratamos um ex-funcionário da marca que sabia tudo de Mickey. Fechamos também uma parceria com a Caselúdico, que cuidou da cenografia. Lançamos a exposição em janeiro, no JK Iguatemi, e desde então recebemos escolas e entidades, como nossos convidados, às segundas-feiras.

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O que ocorreu na segunda-feira (18)?

Esse grupo era para chegar às 15h30, mas chegaram às 12h30. Eles só chegaram três horas antes do programado. Nosso time chega às 13h, 13h30, para ligar os equipamentos, ar condicionado, preparar a exposição. Tinha uma única funcionária, da produção, que estava no local para resolver um problema do ar condicionado, aí ela desceu para tentar entender o que estava acontecendo. Eu chamo o ocorrido de mal-entendido. A forma como você fala e a maneira como o outro entende tem um grande espaço. É um perigo eu falar para você uma coisa e você entender outra. As crianças não foram atingidas, elas nem perceberam.

Se foi um mal-entendido, por que dispensar a funcionária?

A gente não dispensou, a gente afastou. Nós vamos cumprir o contrato dela. Vamos pagar o contrato dela inteiro. Na verdade, o que a gente quer fazer com ela é acolher. Se a Orientavida é um projeto de acolhimento, ou seja, se a gente acolhe mulheres em momento de vulnerabilidade e temos uma pessoa com um problema como esse, de uma maneira grosseira, complicada, ela precisa ser acolhida. A gente não pode pegar essa pessoa e marginalizar. Não existe isso. Eu não acredito que a funcionária tenha sido preconceituosa. Ela foi, durante muitos anos, monitora de escoteiros. Por isso eu acho que foi mais um mal-entendido.

Conversou com ela depois do ocorrido?

Sim. Ela está super abalada, aborrecida. Triste com tudo isso.

Muito foi falado na internet sobre o shopping em questão cultivar esse tipo de comportamento. Você concorda?

Imagina. Se aqui é um lugar esnobe, eles estariam me chamando para dentro? Para dar um exemplo, uma entidade ficou desesperada com o convite porque queria muito vir, mas não poderiam pagar o ônibus e o lanche. Conversei no JK e eles falaram que podia trazer (a excursão) que eles pagavam.

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Como ficou sua relação com o JK e a Disney? Conversaram depois?

Sim. Ficamos todos abalados. JK é super parceiro, Disney a gente tem licenciado há dez anos. Todo mundo se abalou muito, porque ninguém conta com um problema desses.

Mas e na prática, a confiança se manteve?

Espero que sim. Espero e conto com isso.

Esse caso fez com que você mudasse a orientação dos funcionários?

Sim, com certeza. Na verdade, a gente tem um manual básico, falando do acolhimento, do que é o nosso trabalho. Então acho que a gente tem que manter a fala, mas com mais potencial.

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