Continua após publicidade

Outdoor de grife

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 14 Maio 2024, 12h04 - Publicado em 18 ago 2011, 18h40

Estou cercado de roupas. Camisetas, calças, bermudas e casacos se amontoam em torno de mim. O vendedor corre de um lado para o outro à procura de peças que possam conter minha barriga. O que, convenhamos, nem sempre é uma tarefa fácil. Vejo de longe uma camiseta colorida.

— Quero essa! — aviso.

Ele encontra meu número. E que maravilha, é laaarga! Mas, na frente, em letras garrafais, está estampado o nome da grife. Boto de lado.


+ Confira o blog do Walcyr na VEJINHA.COM

+ Glossário do luxo: veja oitenta grifes do segmento de alto padrão

Continua após a publicidade

+ Os modelos mais caros das grifes mais cobiçadas

— Não tenho vocação para outdoor — explico.

— Mas todo mundo valoriza isso — ele argumenta.

Explico que mesmo assim não quero. E começa o problema. Quase todas as peças ostentam a marca. Transformam a roupa em propaganda. Saio sem comprar praticamente nada.

Continua após a publicidade

Boa parte das pessoas que conheço age de maneira oposta. Adora exibir a etiqueta. E, se não está aparente, dá um jeito de dizer qual é. Mulheres mostram, orgulhosas, malas e bolsas de uma marca conhecida com as iniciais do criador por todo lado. Eu acho supercafona.

Tenho uma amiga que só consegue comprar roupas e peças caras. Sente-se chiquérrima. Mostra a bota e avisa que é da marca tal. Estende o pulso, exibe o relógio, é de outra. Gasta uma grana que não tem. Paga tudo em vezes suadas. Será chique estourar o cartão de crédito? E para quê? Mal se vira, as amigas, também carregadas de grifes, comentam:

— Ah, mas aquelas botas não ficaram bem para ela.

— O vestido não faz o gênero dela. Parece pendurado num varal!

Continua após a publicidade

+ Ivan Angelo: Às vezes complica

+ Xaveco Virtual: nossa ferramenta para paquerar no Twitter

Fiquei sabendo que garotos de periferia se matam para comprar uma camiseta de etiqueta famosa em dez pagamentos. Botam orgulhosos, é sua melhor roupa. E, claro, querem ostentar a marca. Assim sentem que pertencem a um mundo do qual, de fato, não fazem parte. Mas eles eu entendo. Vivemos em uma sociedade que, na prática, tem preconceito contra a pobreza.

Ser “chique”, “elegante”, é um valor implantado desde cedo na cabeça das crianças. Como se a pobreza fosse vergonha, um fracasso pessoal. A roupa de grife supostamente avaliza a entrada em um mundo da elite. Só supostamente, óbvio. Isso explica as garotas que compram bolsas com as famosas iniciais em camelôs. Falsas! (Aliás, bolsa fake existe em todo o mundo.) Mas e daí se são clonadas? A maioria das pessoas nem percebe. Ainda mais de noite, na balada. Às vezes estou numa festa e observo as pessoas ostentarem suas roupas e peças. Vou dando mentalmente apelidos:

Continua após a publicidade

“Aquela lá é a senhorita dez vezes sem acréscimo”.

“Aquele botou a camiseta do camelô e está se sentindo o máximo”.

O que me espanta é que até pessoas bem de vida querem parecer mais através das marcas. A necessidade de status é tão grande que artistas e até socialites costumam pedir emprestados joias e carros de luxo para ir a festas e programas de televisão!

Reconheço: roupas e peças de grife se tornaram desejadas porque oferecem desenhos especiais, tecidos bons. Caem melhor no corpo. Assim, não acho errado usar esses produtos. Mas não se pode esquecer: nomes nacionais também oferecem o mesmo caimento e elegância. O que eu acho tremendamente cafona é se transformar em vitrine, ostentando o nome dos fabricantes por todo o corpo. A pessoa fica igual a uma geladeira carregada de ímãs. Na última vez, quando o vendedor me apresentou a décima peça estilo outdoor, perguntei:

Continua após a publicidade

— Mas quanto vão me pagar para fazer propaganda da marca?

Quase fui expulso. Acho que ele nunca tinha ouvido essa pergunta. E, para mim, não haveria nada mais lógico.

 

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de São Paulo

a partir de 35,60/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.