Luan de Melo, de 25 anos, deixou a Penitenciária de Franco da Rocha em 3 de setembro. Tinha para onde ir: o pai, viúvo, roadie de uma orquestra paulistana, aguardava o dia de sua libertação em casa, um sobrado na Mooca. O garoto havia passado nove meses preso no ano anterior e voltou por mais um mês acusado do mesmo crime: tráfico de drogas (ele diz que era apenas usuário). Solto graças a um habeas corpus, teve a sorte de encontrar, no primeiro dia de liberdade, Nice Rocha, da Pastoral Carcerária, frente da Igreja Católica que visita o cárcere para evangelização e ajuda detentos e suas famílias. Como fazia frio e chovia e Luan vestia bermuda e camiseta, Nice o levou a uma loja a fim de comprar um agasalho. Pagou do próprio bolso os 90 reais da conta. O rapaz logo procurou um lixo para jogar as roupas velhas. “Isso aqui carrega muita inveja.” De quê? “De tudo, a começar pela visita que você recebe e outros não”, enfatiza. Depois da carona, partiu de trem e metrô para a Mooca. Encontrou o pai em um bar, passou na Igreja de São Rafael e surpreendeu a namorada, de 17 anos, no emprego dela, uma loja de doces. Os dois passaram a noite juntos. Dois meses depois, ele diz que voltou a ser barman em festas.
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