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Estado e prefeitura repassaram 2,3 milhões de reais a atléticas do Mackenzie

Universidade nega envolvimento e diz que nome foi usado ilegalmente

Por Estadão Conteúdo
Atualizado em 5 dez 2016, 12h42 - Publicado em 13 mar 2015, 14h12
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mackenzie (Reprodução/Google Maps/)
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A Prefeitura de São Paulo pagou 113 000 reais pela locação de ambulância por 91 dias para a realização de um evento que durou apenas dez, dentro da Universidade Presbiteriana Mackenzie, envolvendo apenas calouros da faculdade, no ano passado. Esse é um dos dados encontrados pela Agência Estado entre os convênios firmados por três entidades esportivas de alunos do Mackenzie. Juntas, elas receberam 2,301 milhões de reais em dezesseis convênios firmados com as secretarias municipal e estadual de Esporte de São Paulo, ambas então comandadas pelo PTB, entre 2013 e 2014. O Mackenzie nega o envolvimento com os convênios e diz que seu nome foi usado ilegalmente.

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As três atléticas são ligadas a Thiago Scapulatiello, estudante do Mackenzie desde 2002 e que até pelo menos o fim do ano passado era presidente do Conselho dos Presidentes da Federação Paulista Universitária (FUPE), presidida pelo vereador Aurélio Miguel (PR), que destinou emenda à Liga Atlética Mackenzie, presidida por Scapulatiello.

Doze competições internas da faculdade foram realizadas com dinheiro público, nos últimos dois anos, nas quadras do Mackenzie. A instituição garante que não cedeu recursos financeiros para ajudar na organização dos eventos.

“Se hoje o esporte do Mackenzie está salvo, devemos ao deputado Campos Machado”, disse Luiz Henrique Ribeiro, gerente de Esportes do Mackenzie, conforme declaração reproduzida no site do PTB, em maio de 2014. Luizão, membro do PTB Afro, também expressou publicamente, em vídeo, apoio à candidatura de Aurélio Miguel em 2012.

O vereador e o deputado estadual são os dois principais nomes por trás de um suposto esquema revelado pelo jornal O Estado de S.Paulo nesta quinta-feira (12). Campos Machado não soube explicar a razão dos elogios a ele e diz que não destina emendas para o Esporte. Aurélio Miguel, por meio de sua assessoria de imprensa, primeiro negou, depois confirmou a destinação de emendas à Liga.

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Suspeitas

O Inter-Calouros – torneio entre calouros dos cursos do Mackenzie, nas quadras da instituição – custou 269 683 reais aos cofres da prefeitura. Foram produzidas 3 500 medalhas e 73 troféus. Só em camisetas foram gastos mais de 28 000 reais, para 1 300 pessoas de staff. A prefeitura aceitou a prestação de contas com a contratação de ambulância sem médicos por 91 dias, apesar de o plano de trabalho ter apontado que o evento seria entre maio e junho.

O Mackenzie afirma que cedeu suas quadras apenas de 28 de maio a 7 de junho, “não podendo precisar quais os dias específicos em que as quadras foram utilizadas e para quais modalidades”. A reportagem conversou com pelo menos vinte alunos e nenhum disse ter participado ou sequer soube da realização do torneio, que envolveu todas as faculdades do Mackenzie. Scapulatiello diz que o evento durou dez dias.

Já o Pré-Inter só contou com alunos de Engenharia e Economia, com a previsão de no máximo seis jogos amistosos entre os times de futebol society, masculino e feminino, de ambas as faculdades. A centenária Atlética Horácio Lane, da Engenharia, que recebeu o repasse, justificou a proposição à prefeitura como “um evento com o intuito de estimular os jovens que estarão às vésperas de seus jogos mais importantes do ano” – referência ao Economíadas e ao Engenharíadas, torneios interfaculdades que aconteceram antes do “Pré”. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Análise de Parcerias (CAP) da Secretaria Municipal de Esportes, que tem representantes do gabinete do prefeito Fernando Haddad (PT) entre seus membros.

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Pela locação de um complexo de quadras na Zona Oeste da capital paulista, o Playball da Pompéia, a Atlética pagou 7 000 reais à Tiba Sports, uma loja de roupas esportivas de Itaquera, conforme documentação obtida pela reportagem. A mesma empresa forneceu doze árbitros (2 400 reais), dois troféus (800 reais), sessenta medalhas (960 reais), cinquenta bolas ( 7 950 reais) e oito redes (2000 reais). A Atlética admite que incorporou as bolas ao seu patrimônio, contrariando a legislação.

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Já a empresa Felipe Augusto Furlam (que usa a sigla FK como nome fantasia) foi contratada para servir churrasco para 250 pessoas, recebendo 6 250 reais. Também cobrou 3 500 reais pelo serviço de dez produtores e 7 616 reais pelo “sistema de som para anunciar as equipes”. Felipe Furlam era, na ocasião, o presidente da atlética de economia, a Eugenio Gudin. Foi ele quem entregou, a Campos Machado, em um evento da sua faculdade, a placa de “Padrinho do Esporte Mackenzista” ao deputado estadual.

No total, doze convênios foram destinados a eventos fechados do Mackenzie. A prefeitura pagou 1,203 milhão de reais por oito deles: Jogos da Lecom/2014 (apenas para funcionários), Copa Universitária de Seleções/2014, Jogos da Olimack 2º semestre 2013 e 2014, Torneio Mack de Inverno/2013, Inter-Calouros/2014, Inter Panelas/2014 e Jogos Pré-Inter/2014.

Só um outro evento interno de universidade foi realizado com verba municipal em 2014: as Olimpíadas de Uniesp, graças à emenda de Aurélio Miguel para o “Instituto do Terceiro Setor”. USP, Unesp e Unifesp não foram beneficiadas.

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Já o governo do Estado financiou outros quatro eventos internos do Mackenzie: Olimack 2012/2013 (o valor foi liberado no fim de 2012 e utilizado em 2013), Copa Universitária/2013, Inter Mack/2013 e Olimack/2014, somando 554 000 reais. Os outros quatro eventos que receberam verbas públicas, entre eles uma corrida de stand up paddle, teriam acontecido fora do Mackenzie.

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A Liga ainda obteve recursos (440 000 reais) por meio de Lei Estadual de Incentivo ao Esporte, para um evento de kitesurfe. Em 2013, o site Esporte Universitário, especialista na área, revelou eventos do Mackenzie que supostamente não foram realizados.

Outro lado

O Mackenzie diz que as atléticas usam ilegalmente sua marca e proibirá que os eventos continuem usando o nome Mackenzie. A entidade não respondeu a perguntas da reportagem na última semana sobre a duração dos eventos para os quais cedeu suas quadras. A instituição também afirma que não sabia da existência dos convênios, apesar de a publicidade ser regra durante o evento. De acordo com o Mackenzie, Luiz Henrique Franco Ribeiro não fala em nome da instituição.

A Prefeitura alega que os projetos recebidos pela SEME são avaliados “sob o ponto de vista esportivo e em razão da razoabilidade dos valores indicados nas planilhas dos projetos, de acordo com o mercado”. O governo do Estado não respondeu até esta quinta-feira (12) às perguntas enviadas na terça-feira (10).

A ex-presidente da Atlética Horácio Lane, Anne Nunes, diz que a Tiba Sports recebeu pelo aluguel do espaço para a confraternização, não das quadras. Já Felipe Furlam afirma que serviu o churrasco no Playball. Ele diz que só viu Campos Machado em dois eventos do Mackenzie e não tem qualquer relação com o deputado.

Thiago Scapulatiello diz que não pode comprovar a duração do Inter-Calouros porque a máquina que registrou as imagens quebrou. Ele, entretanto, enviou à reportagem fotos de três troféus e algumas medalhas. A reportagem tentou diversos contatos com a Tiba Sports, sem sucesso.

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