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Estilista Carlos Miele é um sucesso

Prestes a abrir a terceira loja paulistana da grife que leva seu nome, o estilista estima faturar neste ano 320 milhões de reais com suas criações

Por Álvaro Leme
Atualizado em 5 dez 2016, 19h07 - Publicado em 19 out 2009, 12h30

Estilista cabeça-quente briga com a turma da moda em sua terra natal, tenta a sorte no exterior e retorna ao país por cima da carne-seca anos depois. A história, com jeitão de sinopse de filme ou novela, resume o período mais recente da carreira de Carlos Miele, paulistano que em 2001 largou a São Paulo Fashion Week após desentendimentos com o diretor do evento, Paulo Borges, e por se considerar injustiçado pela crítica. “Fechei muitas portas sem necessidade”, diz Miele, em tom de mea-culpa. Agora, depois de se firmar no circuito fashion internacional, ele abre sua terceira loja em São Paulo – Miami, Nova York e Paris também têm filiais. Com coquetel para 300 convidados na terça (20), passa a ocupar o imóvel de 300 metros quadrados no Shopping Iguatemi onde antes funcionava a Clube Chocolate. Sem gostinho de vingança em relação aos desafetos, garante ele. “Sinto mesmo é alívio de ver que minhas ideias deram certo.”

O novo endereço abriga, claro, os vestidos de festa que são sua especialidade – custam, em média, 5 000 reais, embora alguns possam sair por quatro vezes esse valor. Mas não só. Entre as novidades estão as peças da linha Miele Jeans, criada para concorrer com marcas de um segmento de jeans chamado de premium, atualmente dominado pelas grifes Diesel, Forum e Seven. O preço médio das calças é de 400 reais, o dobro do cobrado na M. Officer, rede de lojas que ele fundou e que até hoje é sua vaca leiteira. São 146 lojas em todo o Brasil, de cujos caixas sai boa parte dos 320 milhões de reais que a holding de Miele estima faturar em 2009. Apesar de graduado em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas, ele nunca quis se envolver com a parte financeira e operacional do negócio. Quando muito, vai à fábrica, em Osasco, duas vezes por ano. O interesse dele é a criação. “Sou centralizador apenas com o que gosto, como desenvolvimento de produtos.”

Qual é a receita de sucesso de Miele? Em primeiro lugar, produtos de qualidade. Seus vestidos combinam fendas, decotes e comprimentos que deixam a mulher sensual sem parecer vulgar. Ainda hoje, no entanto, há editoras de moda brasileiras que se derretem em elogios ao comentar seu lado homem de negócios e ficam monossilábicas quando perguntadas sobre suas criações. As mais venenosas (que maldade!) dizem que ele se deu bem nos Estados Unidos “porque americano é tudo cafona”. A jornalista Erika Palomino, que por sinal já foi alvo de críticas dele, sai em sua defesa. “Carlos tem mostrado cada vez mais domínio do tecido e do movimento”, afirma. “Ele gosta de deixar a mulher bonita, e isso todas nós queremos ao comprar uma roupa.”

Um tanto de sorte também deve ser computado: Miele surgiu para os olhos estrangeiros no exato momento em que o Brasil começava a despontar como economia sólida. Merece destaque especial a maestria em capitalizar aparições esporádicas de famosas com peças dele. Estrelas como Sarah Jessica Parker, Jennifer Lopez, Beyoncé, Eva Longoria e a preferida dele, Camila Belle, exibiram modelitos da grife em premiações e programas de TV. Seu sonho de consumo (não no sentido da maioria dos homens) é Scarlett Johansson. ” Vestir uma atriz traz o mesmo retorno para a imagem da marca que um desfile”, afirma. Por fim, sua personalidade forte engrossa – e, às vezes, entorna o caldo. É, ao mesmo tempo, bênção e maldição. Se, por um lado, o impulsiona a batalhar, inclui em sua biografia manchas como ter sido expulso de nove colégios ao longo da vida escolar. “Estou mais tranquilo”, garante.

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Milionário, com um apartamento em São Paulo, uma casa maravilhosa em Florianópolis e endereço próprio em Nova York, bonito, corpo sarado mantido em sessões de ioga e boxe tailandês, Miele hesita em responder se as mulheres o paqueram muito. Vê-lo falar sobre as pessoas com quem se estranhou passa a impressão de que o polemista de dez anos atrás ganhou uma versão “paz e amor”. Continua, porém, com a mania de bater o pé no chão o tempo inteiro enquanto está sentado, de tão inquieto que é. Antes seguidor do candomblé, agora ele não se declara adepto de um só credo. Por via das dúvidas, pretende tomar um belo banho de sal grosso antes da inauguração da loja do Iguatemi.

Afinal, quer expandir ainda mais seu império. “Quando resolver investir num negócio global, tenho certeza de que será muito rápido”, diz. A consultora de moda e estilo Gloria Kalil assina embaixo: “Miele provou que chega aonde quiser. É só ele traçar a meta”.

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