Falta de barreiras de contenção piora sujeira na Represa Guarapiranga
Dos onze principais afluentes da Guarapiranga, só um conta com as defensas; ausência favorece acúmulo de dejetos e lixo em suas águas
A aposentada Walkiria Lopes Antonini, 67, moradora do Iporanga, na Zona Sul, não suporta mais o mau cheiro vindo do córrego Rio das Pedras, a dois quarteirões de sua casa e que é um dos afluentes da Represa Guarapiranga, responsável por abastecer 4,8 milhões de pessoas. “Cada dia mais vem piorando”, afirma sobre a situação que se estende há anos. Em outro córrego que abastece a represa, o São José, Reinaldo Pereira Júnior, de 41 anos, gerente de uma padaria, diz que em dias quentes os clientes preferem fazer suas refeições na área externa do estabelecimento, mas logo desistem. “Se levantam e pedem para arrumar lugar no salão interno pelo cheiro ruim.”
O odor fétido é apenas um dos aspectos negativos dos principais córregos que deságuam na Guarapiranga. Em visita a alguns deles, a reportagem constatou muitas fezes boiando na superfície, além de toda sorte de descarte que inclui de sacos e garrafas plásticas, passando por restos de materiais de construção e até um colchão. Associada a isso, a água turva e escura corrobora as queixas dos moradores, comerciantes e ambientalistas, entre eles Augusto Andrade, de 53 anos. “A Guarapiranga sofre um total descaso das autoridades, seja pelo esgoto jogado em suas águas, lixo, aterros e construções irregulares, além de falta de equipamentos adequados como as barreiras de proteção”, afirma.
Essas barreiras servem para conter o lixo e dejetos que chegam às águas. Substâncias presentes nesses materiais favorecem o acúmulo de vegetações no espelho da água. Entretanto, dos onze principais afluentes, a Sabesp, responsável pela captação e pelo tratamento de água da represa, mantém só um ponto em operação, A explicação dada envolve desde atos de vandalismo como roubos das boias e também a recente troca da empresa que gerencia o serviço. “A Sabesp não é polícia”, diz Rose Laganaro, gerente da Divisão de Recursos Hídricos Metropolitanos da Sabesp sobre o sumiço dos dispositivos. A executiva explica que no contrato anterior eram 1 000 metros de barreiras, número que chegará a 2 000 até 2024. Apesar da ausência momentânea das barreiras, Rose afirma que o tratamento torna a água potável e adequada para o consumo. “De fato você pode limpar qualquer água do planeta. Porém, fica muito mais custoso quando muito poluída”, diz a bióloga Marta Marcondes, da Universidade de São Caetano do Sul. Desde 2015 sua equipe produz relatórios apontando problemas na represa, como a redução gradativa de sua capacidade de armazenamento e que 59% dos pontos de coleta da água estão ruins ou péssimos.
A Sabesp questiona a metodologia empregada pela pesquisadora e diz que realiza novas conexões para redução do despejo clandestino de esgotos e monitoramento dos córregos. Já a prefeitura de São Paulo informou que as subprefeituras da região, as de Parelheiros e Capela do Socorro, fazem o corte do mato, e limpeza das bocas de lobo, de córregos e suas margens.
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Publicado em VEJA São Paulo de 5 de abril de 2023, edição nº 2835