Hora da matrícula: dicas para encontrar o colégio ideal das crianças
A seleção da escola dos filhos não é simples e deve ser criteriosa, já que envolve uma série de fatores decisivos para o futuro dos pequenos
Nove milhões. Esse é o número de alunos em escolas privadas hoje no Brasil, segundo a Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar). No estado de São Paulo, são quase 11 000 colégios com 2,3 milhões de estudantes e, só na capital, 1,2 milhão de alunos em 1 200 instituições. Diante de tantas opções, cada uma com seus diferenciais, a pergunta que fica na cabeça dos pais é: qual a escola certa para matricular meu filho?
De acordo com especialistas, na verdade, não há a escola “certa”, mas aquela que mais se aproxima das necessidades de cada criança, considerando suas características individuais, e dos valores e expectativas da família. “O que existe é um alinhamento dos princípios da família em se identificar com o que a instituição oferece. Os pais devem conhecer seus filhos para avaliar o que é melhor para eles”, ressalta Cristiana Tolosa Pontes, coordenadora pedagógica da educação infantil da Sphere International School.
Por outro lado, Giselle Magnossão, diretora pedagógica do Colégio Albert Sabin, lembra que raramente haverá um lugar que corresponda aos anseios dos pais em 100%. “A escola funciona como uma transição entre o espaço da família e o social – ao mesmo tempo que busca o atendimento às individualidades, é uma instituição com o mesmo perfil para todos os alunos. Por isso, dificilmente vai haver uma alternativa que caia como uma luva para todos e também para cada um”, diz.
A seleção da escola não é fácil, afinal trata-se de definir quem será o parceiro na educação dos filhos, e vários aspectos devem balizar essa decisão. Mas, de forma geral, eles envolvem três tipos de questões: as práticas, as estruturais e as de aprendizado.
“Cabe na nossa realidade?”
Os questionamentos devem começar por pontos práticos. Um deles, sem dúvida, é o orçamento da família. Realmente será possível arcar com o valor da mensalidade, mais matrícula, material, uniforme, transporte, alimentação e afins? Tudo isso sem comprometer as demais despesas essenciais da criança e da casa? Outro filtro inicial é a localização. Em uma cidade do tamanho de São Paulo, nem sempre é possível que o colégio seja muito perto da residência, mas o tempo e a facilidade de deslocamento devem ser levados em conta.
“O que, à primeira vista, parece contornável – como passar um longo tempo no trajeto de ida e volta ou fazer um esforço para suportar uma mensalidade acima das possibilidades financeiras da família – pode se tornar um grande fardo e acabar causando sofrimento pela necessidade de transferência no meio da escolaridade”, alerta Giselle.
Vale também checar se a rotina da escola se encaixa com a da família. Confira horários de entrada e saída, normas para uniforme, alimentação, tolerância com faltas e atrasos, período de atendimento na secretaria, regras para o uso de celular, exigências para quem for buscado por terceiros etc.
“Tem a infraestrutura esperada?”
Na sequência, deve ser observada a infraestrutura oferecida, que engloba as condições das instalações, a segurança no entorno, se há biblioteca, refeitório e quadras de esporte, o limite de alunos por classe, recursos tecnológicos usados em sala, se existem uma enfermaria e profissionais de saúde para casos de emergências, entre outras coisas.
A qualidade e formação dos professores são, certamente, outra questão fundamental. Grande parte do êxito de uma instituição está vinculada ao preparo de seus educadores. Assim, procure se informar com o coordenador pedagógico sobre a trajetória acadêmica e a experiência do corpo docente, como os profissionais são selecionados e se recebem formação continuada.
“Que tipo de pessoa queremos formar?”
Por fim, é preciso avaliar se o colégio está alinhado com os valores e anseios da família e que aprendizados duradouros os pais desejam para a criança – o que passa pela filosofia da instituição e a proposta pedagógica. “Por exemplo, se acreditam na necessidade de desenvolver a autonomia nas crianças, devem buscar uma instituição que tenha esse aspecto entre seus pilares. Colégios com valores diferentes dos defendidos pelas famílias são escolhas erradas”, diz Wilton Ormundo, diretor da Escola Móbile. “É preciso haver uma comunhão de pensamentos entre família e escola”, complementa Roberto Prado, diretor executivo da Abepar.
É importante então definir o que é imprescindível e o que é desejável, como aconselha a diretora pedagógica do Albert Sabin. Prefere uma escola confessional, leiga ou tanto faz? Deseja que sejam trabalhados conceitos morais ou não é a prioridade? Esses são alguns dos questionamentos.
Na opinião de Cristiana, da Sphere, a escola precisa ir além das disciplinas tradicionais. “Deve possibilitar que os alunos façam relações entre questões locais e globais. Além disso, pode aproximar profissionais de diversas áreas, que dialoguem com os conteúdos escolares. Especialmente para os pequenos, o trabalho transdisciplinar ajuda a criar possibilidades de indagação, conexão, análise, não colocando os saberes em caixinhas separadas.” Prado, da Abepar, ressalta que os conteúdos são importantes, mas como se chega a eles pode variar muito de escola para escola. “Formar uma pessoa crítica e bem informada é essencial. Por isso, trabalhar a dimensão socioemocional é imprescindível. Os conteúdos são importantes com qualidade, não quantidade.”