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“Investir na Bolsa é mais fácil que em startup”, diz nova Shark Tank

Substituta de Cristina Arcangeli, a CEO Carol Paiffer afirma que muitos empreendedores procuram investimentos sem saber quanto seu negócio vale

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 Maio 2024, 17h20 - Publicado em 16 out 2020, 02h30
Carol Paiffer, do Shark Tank
Carol Paiffer, do Shark Tank (Divulgação/Divulgação)
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CEO da Atom, empresa de investimento listada na bolsa de valores, a porto-felicense de 32 anos vai estrear na TV em 20 de novembro. Mais nova integrante do “tanque dos tubarões”, Carol será uma das investidoras interessadas em dar apoio financeiro e se tornar sócia de pequenos empreendedores com grandes ideias. Ela vai disputar com nomes consagrados, como João Appolinário (Polishop), Jose Carlos Semenzato (SMZTO Holding de Franquias) e Camila Farani (investidora-anjo).

A senhora entrou no lugar da empresária Cristiana Arcangeli, que tinha fama de brava. O seu perfil no Shark Tank Brasil também será linha-dura?

Não sou brava, mas dinheiro não aguenta desaforo. Não dá para ser muito mole, pois estou colocando o meu dinheiro em jogo. O meu objetivo ali é investir, não só olhar o projeto das pessoas. Estou curiosa para saber como ficará a edição do programa. A gente grava muito mais tempo do que vai ao ar. Espero que não fique com fama de má.

Fez bons negócios no programa? Pode nos adiantar algo?

Se eu falar algo, não serei convidada para a próxima edição. Vocês terão de ver o programa. Mas posso dizer que fiz bons negócios, sim. Alguns mexeram com paixões antigas. Ah, e me apelidaram de Baby Shark, por eu ser a mais nova.

É mais fácil investir na bolsa ou em uma startup?

Na bolsa é bem mais fácil, pois as variáveis são menores. No programa você compra o empreendedor, mas não tem nenhum acesso prévio a eles. Nenhuma informação sobre o negócio, zero. Só lhe dão literalmente um caderninho.

Teme alguma roubada? Quais mecanismos o programa apresenta aos “sharks” para que os senhores não invistam em algo com risco de naufragar logo de cara?

Em todas as empresas a gente fará uma due diligence (diligência prévia), para olhar os números e fazer uma análise profunda. Se o empreendedor mentir ou omitir algo grave, a gente não é obrigado a seguir.

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Quais os principais erros cometidos por quem busca recursos para lançar ou ampliar sua empresa?

São dois: o primeiro é de matemática. Quando o negócio é pequeno, não é lucrativo. E, se você procurar um investimento alto, não ficará claro o tamanho do retorno desse investimento. Quando o projeto está no campo das ideias, em uma fase muito iniciante, não há muitas métricas de quando haverá retorno. Portanto é um erro o empreendedor procurar dinheiro nesse momento. Tem de estar com algum teste em andamento e dizer “testei o mercado, faturei tanto”.

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E o segundo erro?

O segundo é o valuation (o valor da empresa). Muitas vezes o empreendedor avalia muito mais do que ela vale e coloca o valor de mercado na Lua. A probabilidade de tomar um não é maior.

Isso vale não apenas para quem busca parceiros no Shark Tank Brasil, mas para quem procura investidores-anjo e até empréstimos no banco, não?

Sim. Quem não conhece seus números não conhece a empresa. Não adianta falar “ah, mas não sou bom de matemática”. Tudo bem, mas ele precisa que a conta tenha sido feita. E que esteja na ponta da língua. Quem busca investimento precisa defender seu peixe. Quando vou investir em uma empresa na bolsa, olho os números dela. Já deixei de comprar ações porque o valor de mercado está maior do que o payback (retorno) vai me render. Há empresas que valem mais do que o retorno que vão me dar.

“Não sou brava, mas dinheiro não aguenta desaforo. Não dá para ser muito mole”

Qual, por exemplo?

O Magazine Luiza é um exemplo. As ações tiveram uma valorização muito rápida no ano passado. Quando isso ocorre, o investidor precisa olhar se o valor da empresa condiz com o retorno do investimento: quanto vai faturar, quanto vai dar de lucro nos próximos anos. Quando se é sócio, tem de olhar a valorização das ações e os dividendos.

Quem trabalha no mercado financeiro vive como um médico quando encontra uma pessoa e logo é “convidado” a dar uma opinião sobre determinada doença. A senhora recebe muitos pedidos de dicas de investimentos?

Isso acontece sempre. As pessoas não só perguntam sobre uma determinada ação como pedem para eu fazer as operações para elas. É aquele negócio de terceirizar responsabilidade, sabe? Muitos têm medo da bolsa, como se fosse um bicho de sete cabeças.

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Mas não é? Um estudo da Fundação Getulio Vargas mostra que só 0,01% das pessoas que fazem day-trade (compra e venda de ações no mesmo dia) consegue ganhar 100 reais por dia de lucro. O restante perde ou desiste.

É por falta de estudos. Muitos abrem uma conta e colocam dinheiro para aprender. Na verdade, eles colocam para perder. Outros entram no momento errado.

E o momento atual é certo ou errado para começar a investir?

Para quem vai investir a longo prazo, a bolsa ainda está barata. Não chegou aos patamares de antes da crise. Mas tem um fator agravante: eleições dentro e fora do país. Os próximos sessenta dias serão de volatilidade (oscilação que pode ter risco).

Seu irmão e sócio, Joaquim Paiffer, foi condenado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a pagar 2,4 milhões de reais por manipulação de mercado. O que houve?

Foi muito ruim — para a nossa imagem. A CVM acompanha os spoofing (oferta falsa de compra de um ativo, sem a intenção de executá-la, apenas para manipular intencionalmente o preço) há muito tempo. Nos Estados Unidos, eles usam robôs, mas não foi o nosso caso. A gente nem tinha como manipular o dólar. Mas a CVM queria começar a punir (a prática). Os grandes bancos fazem isso.

O valor da multa foi pago?

Não, estamos recorrendo.

Em 2014, a senhora e seu irmão foram condenados na Justiça do Trabalho a pagar 6 000 reais (11 000 atuais) por manter uma funcionária doméstica sem registro na carteira por seis anos. Além disso, pagavam a ela menos do que um salário mínimo por mês. Por que isso ocorreu?

Eu nem lembrava mais disso. Só tive um processo na vida. A gente não fez nada ilegal. Ela ganhava muito bem, trabalhava pouco. Inclusive trabalhava como diarista em outros apartamentos do nosso prédio. Pagamos sempre muito bem. Já peguei ela dormindo, o porteiro tomava café com ela na nossa casa. Sempre a tratamos com carinho, ao contrário do que ocorre em muitas famílias. Ela deve ter passado por alguma necessidade e um advogado vendeu a ela a ideia de que poderia ser bem-sucedida. Eu entendo. Não concordo, mas entendo.

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* Este texto foi atualizado dia 16 de outubro, às 21h.

Publicado em VEJA São Paulo de 21 de outubro de 2020, edição nº 2709

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