Para rodar sua estreia nos cinemas, o paulistano Fernando Grostein Andrade, de 28 anos, teve a oportunidade de conhecer dois dos maiores ídolos de qualquer um de seus colegas de profissão: o italiano Michelangelo Antonioni (1912-2007) e o espanhol Pedro Almodóvar. Os dois cineastas são personagens de Coração Vagabundo, documentário sobre o cantor Caetano Veloso previsto para chegar às salas da cidade na próxima sexta (24). “Com o meu olhar jovem, consegui mostrar um Caetano leve, que eu nunca havia imaginado”, diz Andrade, que quando iniciou o projeto, em 2003, acabara de descobrir sua vocação para o cinema. Ele já fez de tudo um pouco: foi criador de orquídeas, estagiou em uma agência de publicidade e em uma rádio, participou de campanhas políticas, trabalhou em uma ONG, foi DJ e escreveu para alguns sites e revistas. “Precisava experimentar”, conta. “Aprendi com meu pai a importância de fazermos aquilo de que gostamos.” Ele é filho do jornalista Mário Escobar de Andrade, que dirigiu a revista PLAYBOY e morreu em 1991, a quem dedica o filme. “Tivemos pouco tempo juntos, mas foi o suficiente para ser influenciado por seus valores.”
Em dúvida sobre qual carreira seguir, o rapaz decidiu estudar administração de empresas na Fundação Getulio Vargas. Entre cálculos e planilhas, percebeu que seu maior prazer naquele tempo era ir ao cinema. Foi aprender roteiro e direção em Nova York e em Los Angeles. De volta ao Brasil, aliou seu trabalho de conclusão de curso à vontade de fazer um curta-metragem profissional – assim nasceu De Morango, de 2002. Mandou seu filme para cerca de trinta produtoras em busca de uma chance. Apenas Paula Lavigne, dona da Natasha Produções e ex-mulher de Caetano Veloso, respondeu, com o convite irrecusável para dirigir o clipe de Você Não me Ensinou a te Esquecer, canção-tema do longa Lisbela e o Prisioneiro. Na sequência, ela o chamou para comandar as gravações do DVD musical do álbum A Foreing Sound, de Caetano. “O Fernando é persistente e tem um olho bom. Vai longe”, elogia Paula, conhecida por seu estilo linha-dura. Diante da oportunidade, ele foi além. Durante dois anos, acompanhou Caetano em viagens a Nova York, Tóquio, Kyoto e Osaka. A fita, com duração de uma hora, traz belos números musicais, depoimentos reveladores e flagrantes surpreendentes. Segundo o novo cineasta, consequência de uma relação franca entre documentarista e documentado. “Quando o Fê apareceu era um menino ainda, mas já obsessivo e determinado com seu trabalho”, afirma Caetano. “Ele é adorável e bonitinho, o que ajuda.”