Neste sábado, é meu aniversário. Dá uma sensação estranha fazer 56 anos. O mundo mudou muito no espaço da minha vida. Às vezes dou palestras em escolas. É difícil explicar às crianças como era minha infância. Não havia celular nem computador doméstico. Nem se imaginava o que seria a internet. Na cidade em que eu morava, Marília, no interior do estado, não existia transmissão televisiva. Só conheci televisão muito mais tarde, aos 15 anos, quando mudei para São Paulo. Ter telefone em casa era difícil e demorado. Era preciso se inscrever e aguardar cinco, seis anos até que instalassem a linha – luxo reservado a poucos! Quando explico, os alunos me observam como se eu fosse um ser estranho, vindo de um planeta esquisito. Como seria um mundo sem internet? – imaginam eles! No entanto, é a minha vida! E o pior: a idade parecia pesar tanto! Lembro-me de uma prima de uns 25, 26 anos, ainda solteira. Minha tia comentava, entristecida:
– Não casou até agora, não casa mais. Vai ficar para titia.
A tal prima subiu ao altar somente aos 30. Um alívio para o pai:
– Desencalhou!
O namorado de outra morava no Paraná. Só se viam poucas vezes por ano. O último encontro foi marcado no cemitério, no dia de Finados. Ela chorou, mandou cartas. Ele nunca mais apareceu. Ela continua solteira até hoje. Talvez por sorte. Casar com um sujeito que marca encontro no cemitério não ia ser legal! Se uma mulher ficava viúva aos 40, 50 anos, era normal botar um vestido escuro e nunca mais pensar em namoro ou casamento. Filha solteirona nunca saía da casa dos pais!
Quando eu tinha uns 12 anos, pensava nos 20. Seria um adulto. Falavam muito no ano 2000, quando talvez o mundo acabasse. Para mim, era tão distante! Eu estaria com 49 anos.
– Serei um velho! – exclamei.
Mais tarde descobri que as coisas não eram bem assim. Aos 20, estava iniciando a faculdade. Havia tanto pela frente! Aos 30, espantei-me ao cruzar com um parente que, com 52 anos, anunciou estar se aposentando.
– Nunca mais quero trabalhar! – declarou. – Vou descansar.
Assustei-me. Ele parecia tão novo, cheio de energia. Ficar sem fazer nada parecia incompreensível!
Junto com as inovações tecnológicas que ocorreram durante meu tempo de vida, mudou também a forma de sentir a passagem dos anos. As pessoas se tornaram mais jovens, não importa a data de nascimento. Se fica sozinha, a mulher madura está livre para um novo amor, em vez de se trancar em casa! Muitas pessoas descobrem uma nova profissão depois de longos anos de trabalho em outra área. A juventude transformou-se, para um bom número de pessoas, em um estado permanente. Não no sentido duvidoso de tentar aparentar uma idade que não se tem. (Embora ninguém tenha obrigação de cultivar as rugas, pelo contrário!) O importante é a sensação de que não há idade para iniciar novos projetos, relacionamentos, tirar da gaveta um sonho há muito guardado e torná-lo real! No espelho descubro meu rosto mais maduro. Tenho cabelo grisalho. Mas, por dentro, o tempo não passou! Tenho amigos de 20, e trocamos confidências porque tanto eu quanto eles fazemos planos para o futuro! Aposentadoria, nem pensar! Há tanta coisa que quero escrever! Cursos, viagens, quem sabe mais o quê? Quando me lembro do garotinho que eu fui, penso que continuo ainda aquele menino! Aniversário após aniversário, eu descubro que, todos os dias, a vida recomeça! Pode até parecer melodramático, mas de fato o coração nunca envelhece!