Mike Tyson narra sua vida em documentário
Infância pobre, carreira de sucesso e escândalos são revisitados em filme do diretor James Toback
Mike Tyson voltou aos holofotes nos últimos tempos. Menos por uma façanha no ringue, do qual já se aposentou, e mais pela participação na comédia de sucesso Se Beber, Não Case!, vencedora do Globo de Ouro. O brutamontes, inclusive, prestigiou a entrega do prêmio no dia 17 de janeiro ao lado dos atores da fita. Quem o via socar com gosto os adversários não imagina: por trás daquele corpanzil esconde-se um sujeito de língua presa, fala mansa e ciente de erros passados. É, portanto, um Mike Tyson além do estereótipo o que o espectador vai encontrar no documentário Tyson.
Amigo pessoal do ex-pugilista desde a década de 80, o diretor James Toback resume seu registro a uma longa entrevista entremeada com antigos depoimentos e imagens de arquivo. E só. Trata-se de um projeto de formato arriscado, sobretudo por ser uma biografia autorizadíssima e chapa-branca — Tyson é um dos produtores do longa-metragem. Desde as primeiras imagens, porém, nota-se que ele está afim de encarar a lente da verdade. Entre lágrimas, relembra a infância sofrida no Brooklyn, em Nova York, as entradas e saídas de reformatórios e o início no boxe, aos 14 anos, incentivado por Cus D’Amato, seu mentor. Foram cinquenta vitórias, 44 nocautes e o título de o mais jovem boxeador campeão dos pesos pesados — em 1986, aos 20 anos. Houve também os tombos: o fracassado casamento com a atriz Robin Givens, a acusação de estupro, a temporada de três anos na prisão, as brigas na Justiça com seu então empresário, Don King. Lá no fundo, há uma edificante lição nessa trajetória de altos e baixos, sopros e bordoadas. O diferencial: saem de cena a fantasia e a ficção para prevalecer a desconcertante realidade.