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Sete horas de peça. Vai encarar?

Início da temporada de 2011 surpreende ao trazer quatro montagens que exigem um tempo maior da plateia

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 14 Maio 2024, 12h55 - Publicado em 4 fev 2011, 23h45
Naotemnome - 2203
Naotemnome - 2203 (Cláudia Elias/)
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Nas décadas de 50 e 60, os palcos de São Paulo e do Rio de Janeiro conheciam, enfim, a maturidade com atores prontos para encenar os clássicos e um público em busca de grandiosidade. As montagens do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) ou das companhias das atrizes Cacilda Becker e Maria Della Costa nunca duravam menos de duas horas e meia. Lançado em 1967, o drama “Navalha na Carne”, de Plínio Marcos, levou os produtores a ouvir reclamações por cobrarem um ingresso semelhante ao da concorrência por uma hora e quinze minutos de apresentação. “Enfrentamos muita resistência”, lembra o ator Sérgio Mamberti, um dos protagonistas. “Os espectadores demoraram a entender que cada espetáculo tem seu tempo, e o nosso era tão consistente quanto os outros, apesar de não ter dois ou três atos.” Com o passar dos anos, o comportamento do público mudou, e a regra virou exceção. Raras são as peças que hoje ultrapassam uma hora e meia. O início da temporada de 2011, no entanto, surpreende ao trazer quatro montagens que exigem um tempo maior da plateia. 

Estruturado em quase sete horas, O Idiota — Uma Novela Teatral pode ser visto em duas sessões ou na íntegra. A adaptação do romance do russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881) ainda passeia pela área externa do Sesc Pompeia e leva o público a caminhar por diversos ambientes. “Gostei tanto que cheguei a assistir à peça duas vezes, a primeira dividida e a segunda na íntegra”, diz o administrador Mario van Vliet. “Mas, na íntegra, foi doloroso, afinal, eu saí do trabalho para o teatro e estava cansado”, completa ele.

O ator Aury Porto, que passa o tempo inteiro em cena, dorme pelo menos onze horas na véspera de cada sessão, além de fazer exercícios de alongamento e massagem. “Para me manter hidratado, como maçãs e tomo chá, evitando exagerar, porque não posso ir ao banheiro.” O analista de sistemas Edison Tadeu Augusto da Silva não encarou “O Idiota”. No entanto, para assistir ao espetáculo Naotemnemnome organizou seu dia saindo do trabalho, em Santos, às 3 da tarde, para enfrentar as duas etapas propostas. A montagem dura cerca de três horas e traz seis atores que interpretam situações baseadas em entrevistas — agendadas previamente — com o espectador. Por quarenta minutos, um questionário de oitenta perguntas investiga diferentes assuntos pessoais. “Como ele é marcado com antecedência, é comum parte do público ligar avisando que não vai poder comparecer à entrevista e virá direto para o espetáculo, mas metade passa pela conversa”, conta o diretor Emanuel Aragão.

Sob a direção de Isser Korik, a trilogia Enquanto Isso… oferece liberdade à plateia. Trata-se de três peças independentes que totalizam quatro horas. Todas mantêm vínculos entre si, porém não é necessário assistir a todas para compreender a história. “O autor Alan Ayckbourn criou esses textos justamente para divertir os hóspedes de uma colônia de férias da Inglaterra e não transformar a ida ao teatro em obrigação”, diz o diretor. “Muitas vezes, alguém que já assistiu a uma parte tem uma compreensão diferente e ri de cenas que, a princípio, não soam engraçadas para aqueles que estão lá pela primeira vez.”

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Embalado por uma temática mais densa, o drama político Ópera dos Vivos, da Companhia do Latão, atravessa quatro horas. O grupo chegou a cogitar dividi-lo em dois dias, mas a diversidade de linguagem, que inclui números musicais e até a apresentação de um filme, deu dinamismo à montagem. “Não podemos ignorar a ansiedade do público e devemos ter a preocupação de fazer com que aquilo seja o mais prazeroso e o menos cansativo possível”, afirma Ney Piacentini, um dos atores da Companhia do Latão.

EM NOME DA DIVERSÃO

Algumas dicas para que o espetáculo não se torne um fardo

■ Informe-se sobre a duração exata da peça.

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■ Evite assistir aos espetáculos nos dias em que sua rotina for mais pesada.

■ Calce sapatos confortáveis, especialmente se for conferir “O Idiota — Uma Novela Teatral” ou “Ópera dos Vivos”, que exigem o trânsito do público.

■ Uma almofada pode ser uma boa pedida, já que nem todas as cadeiras são estofadas.

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■ Uma garrafa de água mineral sempre é um conforto enquanto o intervalo não chega.

■ Procure se informar sobre o horário de fechamento dos estacionamentos próximos. Alguns encerram o expediente antes do fim do espetáculo.

■ Lembre-se de que teatro é diversão, logo, se você estiver incomodado e decidir sair no meio do espetáculo, tudo bem, mas seja discreto e não perturbe a encenação.

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