“Casei comigo mesma”, diz Nathalia Arcuri após se separar de Érico Borgo
Com planos para gravar nova série de finanças, empresária comenta demissões em massa na Me Poupe!, novo ritmo de trabalho e o fim do seu casamento
No escritório em Higienópolis, Nathalia Arcuri, 38, entra acompanhada por Gabagoo, seu buldogue francês de estimação, enquanto segura uma garrafinha de vidro adaptada: dentro, uma seleção de pedras e cristais promete “energizar” a água, uma das muitas terapias escolhidas para sua nova fase de vida.
Após as demissões na empresa de educação financeira Me Poupe! e o fim da união estável de dez anos ao lado do empreendedor Érico Borgo (um dos fundadores da CCXP), as mudanças da empresária e jornalista incluem agendas menos cheias, novos hobbies e mais atenção à saúde — que, de acordo com ela, ficou em segundo plano durante toda a carreira.
Você já seguia terapias holísticas como essa das pedras ou é algo novo?
Sempre acreditei no campo espiritual, quando adolescente adorava ler as mãos das pessoas! Mas nunca tomei uma decisão baseada nisso, era só um guia a mais. Hoje em dia consulto tarô e fiz até constelação familiar. Comecei a olhar para dentro, porque metade da minha vida foi de trabalho intenso. Trabalhava catorze horas por dia e não percebia que estava doente. Perdi noção da minha identidade e a agenda parecia feita para um robô. Desenvolvi depressão há quinze anos, quando fui jornalista, e o trabalho virou uma fuga.
E como está a agenda agora?
Estou revendo coisas que gostava de fazer, como jogar vôlei, visitar as amigas, conversar por telefone. Fui passar a festa junina em São João da Paraíba e, olha só, descobri que gosto de dançar forró! Os amigos me convidavam sabendo que eu nunca aparecia, mas felizmente não desistiram de mim.
Na empresa, estou criando workshops internos para que o time seja capaz de perpetuar o que eu comecei sozinha. Foram três anos de sucessão de gestão preparando pessoas capacitadas e é por isso que posso me permitir ter mais tempo agora.
A família estranhou as mudanças no seu estilo de vida?
Foi um alívio. Todos tentavam me alertar, mas eu não enxergava essa relação abusiva com o trabalho. Só queria alcançar minhas metas, cheguei antes do que imaginava e comecei a me perder. Em 2014, esperava atingir 2% da população brasileira em dois anos e queria ganhar o Prêmio Nobel de Economia em 2023. Na minha cabeça, só poderia colaborar com a sociedade brasileira se tivesse um selo muito forte, incontestável.
Eu não desviei um milímetro do plano, só desisti do prêmio quando um dia o meu agora ex-marido chegou e falou “chega dessa história de Nobel, as pessoas até te param na rua e agradecem pelo trabalho”.
É recente essa separação?
Faz dois meses. É muito difícil desconstruir a rotina e nossos planos. Estamos vivendo juntos esse momento, assim como começamos. Somos bem racionais e a relação sempre foi pautada no respeito, não faz sentido terminar de forma diferente. Para que o processo seja menos doloroso, contamos com esse senso de amor, que vai continuar existindo. Agora estou me perguntando como faz para ser solteira, porque não quero um relacionamento tão cedo. Nunca me dei um tempo para ser sozinha.
Você já se imaginou baixando um aplicativo de relacionamentos?
Já pensou? Vou precisar saber o score da pessoa no Serasa, seria um bom sistema (risos). Mas não, quero poder ficar comigo. Eu me dei uma aliança de presente (mostra uma joia na mão esquerda), casei comigo mesma e assumi um compromisso. Como um símbolo de que preciso me cuidar para poder ter qualquer tipo de relação a partir de agora. Exige tempo e maturidade. Então hoje estou comigo mesma e estamos muito felizes! (Risos.)
“Eu sonhava em ganhar o Prêmio Nobel de Economia em 2023. Na minha cabeça, só poderia colaborar com a sociedade se tivesse esse selo”
A aliança é um gasto fora do comum para você? Onde costuma usar seu dinheiro quando quer algum agrado?
Eu me agrado muito pouco, outra coisa que estou trabalhando nessa nova relação. Preciso desejar muito antes de usar um recurso conquistado com tanto esforço. Não deixo de fazer as coisas, mas só consumo o que for muito importante. Normalmente gasto — invisto — em coisas relevantes, como minha casa no campo (no sul de Minas Gerais). Só comprei quando entendi que poderia mantê-la.
Fora isso, gasto mais com viagens, aí não me privo. Passei uma semana estudando na Coreia do Sul recentemente, além de quinze dias no Japão, e agora só viajo de executiva. É um caminho sem volta, mas prometi a mim mesma: só vou viajar de executiva quando tiver a certeza de que nunca mais vou precisar escolher a econômica. Aí junto milhas para não gastar tanto! E outro luxo é poder ajudar minha família. Bem melhor isso do que comprar uma bolsa.
A demissão em massa da Me Poupe! no começo do ano chegou a viralizar nas redes. Como foi essa decisão?
É difícil fazer escolhas pela sustentabilidade da empresa, mas precisei entender as mudanças. Claro que sem essas pessoas que passaram por aqui não teríamos conseguido levar todo esse conteúdo e criar esses cursos. A readequação de time fez parte da nossa transformação como empresa de tecnologia, mas não é a única coisa que mudou. Alteramos nossos processos, ferramentas e modelo de gestão.
E como surgiu a ideia de lançar um aplicativo financeiro?
Veio após eu começar a estudar inteligência artificial, um método treinável, que me permite automatizar boa parte dos processos para o meu treinamento. Até então, esse conteúdo tinha um valor mais alto e os cursos gratuitos não eram bem organizados. Por que não criar um app que te guia pelas decisões financeiras sem que você precise aprender todos os detalhes? Temos 10 000 pessoas usando por enquanto e a maioria nunca tinha investido antes. Ainda é gratuito, mas em breve será cobrado, algo entre 10 e 20 reais por mês.
E acabei de lançar um MBA, com coordenação do professor (Eduardo) Mira e matrículas a partir de 14 de agosto. Será uma opção para a galera que tem interesse em se especializar e ser profissional do mercado financeiro.
Você também está planejando criar uma série de TV?
É um projeto pensado para viajar o mundo conhecendo pessoas que estão ativamente, assim como eu, usando o dinheiro para um bem maior em prol da sustentabilidade do meio ambiente e da sociedade. Ainda está em desenvolvimento e vamos apresentar para os principais canais de streaming.
Publicado em VEJA São Paulo de 2 de agosto de 2023, edição nº 2852