“O bandido que levantar arma para polícia vai levar bala”, diz governador
Fala de Rodrigo Garcia em anúncio de plano anticrime foi considerada eleitoreira; plano consiste em ampliar bicos das polícias
Pré-candidato nas eleições deste ano, o governador de São Paulo Rodrigo Garcia (PSDB) anunciou nesta quarta-feira (4) medidas para a área de segurança com o objetivo de coibir o roubo e furto na cidade de São Paulo, sobretudo os que miram os celulares e praticados por falsos entregadores de aplicativos. O mais importante deles é o que vai ampliar a possibilidade das polícias Civil e Militar trabalharem em suas horas de folga e ganharem para isso.
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“Eu quero deixar um aviso muito claro a esses bandidos, que eles mudem de profissão ou mudem de estado, porque a polícia vai atrás de cada um deles. Quem cometer crime aqui em São Paulo, vai ser preso. O bandido que levantar arma para polícia vai levar bala da polícia que, dentro dos limites da lei, vai agir com muito rigor em relação à criminalidade”, afirmou Garcia.
A fala foi considerada eleitoreira por alguns especialistas. Um deles, um coronel da reserva, considerou o tom jocoso e desnecessário, dizendo que pode levar ao questionamento se de fato as policias estão cumprindo ou não o seu papel atualmente.
Outro oficial da reserva, o coronel reformado da PM de São Paulo José Vicente da Silva Filho, disse ter observado dois aspectos classificados por ele como “ridículos” na fala do governador. “Um é o governador dando recado para bandido dizendo que a polícia vai atrás deles e vai prender. E sabemos que não é assim. A gente estima que o estado tenha de 1,2 milhão a 1,5 milhão de criminosos que produzem cerca de 500 mil assaltos por ano”, afirma.
O outro, segundo o também ex-secretário Nacional de Segurança Pública, é o nome da operação, batizada de Sufoco. “A polícia de São Paulo é muito profissional e sabe muito bem o que faz”, diz.
Para José Vicente, a fala de Rodrigo Garcia se assemelha a do ex-governador Paulo Maluf, figura que tinha entre os seus bordões prediletos “botar a Rota na rua”. “O medo está presente, estamos num ano eleitoral e o governador quer fazer alguma coisa de seu. Quem fez isso antes foi Paulo Maluf, que usava esse mesmo argumento”, diz.
A fala gerou repercussão negativa também fora da corporação. “Essa coisa de eleições eles vêm com a mesma conversa. E ele não precisa explicar para a polícia como ela deve se comportar, qualquer criminoso que atacar a polícia é claro que ele deve ser neutralizado e será usado o rigor, não precisa vir o governador falar isso. Parece que a polícia não trabalha bem e ele precisa ensinar como fazer, é bem desagradável”, afirmou Rafael Alcadipani, professor da FGV e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
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O plano anunciado hoje foi batizado de Operação Sufoco. Ele visa ampliar a quantidade de presença policial nas ruas. Para isso, a ideia é permitir que 4 740 policiais trabalhem em seus horários de folga, que, se efetivado, deve quase dobrar o efetivo atual de 5 000 homens. Isso porém, vai depender da adesão das tropas.
Dos 4 740 agentes, 1 240 devem ser pagos pela Prefeitura de São Paulo, na chamada atividade delegada, que ficou mais conhecida como bico oficial das PM (embora policiais civis também o façam), e outros 3 500 por meio de jornada extra de trabalho, que nada mais é do pagamento de horas extras para que os agentes trabalhem na interjornada –entre um dia de trabalho e outro–, este que deve ser bancado pelo estado. O custo mensal deve ser de R$ 42 milhões, já que envolve também o emprego de 1 500 viaturas e aeronaves.
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Presente na coletiva, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) também disse que irá pagar horas extras para que 750 integrantes da GCM (Guarda Civil Metropolitana) também saiam às ruas em seus horários de folga.
Todos os efetivos extras devem centrar esforços no patrulhamento de cerca de 500 pontos da cidade, tais como grandes corredores de trânsito, tais como corredor Norte-Sul, que engloba a 23 de Maio, Rebouças, e marginais Tietê e Pinheiros, além de áreas com maiores índices de violência.
Aplicativos de entrega
Outra medida foi a de firmar um convênio com empresas de aplicativos de entrega para que elas compartilhem seus bancos de dados com o Detecta, o sistema de monitoramento usado pela segurança pública. O governo pretende facilitar a identificação de falsos entregadores de delivery, que usam mochilas dos aplicativos de entrega.
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A medida é controversa e criticada até pelos próprios motoboys. Eles dão como exemplo o fato de que o crime que tirou a vida do estudante Renan Silva Loureiro, de 20 anos, foi praticado por um motociclista que tinha cadastro ativo em uma das empresas de aplicativos.
Para o presidente do Sindicato dos Motoboys de São Paulo (SindimotoSP), Gilberto Almeida dos Santos, o Gil, as medidas não atacam o principal problema em sua opinião,o fato de que as bags são proibidas por lei.
“Na prática mesmo tudo vai ficar do mesmo jeito que está”, afirma.
Apesar de ser proibido por lei municipal, a mochila bag é a mais usada por motociclistas para entregas. Isso porque ela permite que mais de uma pessoa possa usar a moto. No caso do baú, o banco do carona é praticamente inutilizado, já que o dispositivo de armazenamento térmico deixa espaço apenas para o piloto da moto.