O que esperar e como nos prevenir das próximas ondas de calor na capital
Temperatura ficou amena na semana, mas até o fim da primavera viveremos picos de calor e ar seco
São Paulo possui muitos atributos e vários recordes: a maior população do país, o trânsito mais intenso, a maior economia e por aí vai. Na semana que começou em 8 de setembro, a metrópole ganhou uma nova marca para chamar de sua: a de capital mais poluída do mundo por cinco dias seguidos.
A medição, feita pela plataforma suíça IQAir, na verdade, não monitora todos os municípios do planeta, mas os 120 maiores. Mesmo assim, o patamar não é nenhum refresco para quem foi atingido em cheio pelas consequências de uma “tempestade perfeita”, composta por falta de chuva, baixíssima umidade e multiplicação de queimadas.
O resultado são altos índices de concentração de poluentes no ar, como monóxido de carbono, partículas de metais e fumaça. Os primeiros males são notados pelas vias respiratórias, mas todo o organismo sente os efeitos do ar seco.
Nos hospitais públicos estaduais, houve um aumento de 10% na procura por atendimento nos prontos-socorros e internações. “Há ressecamento de lágrima, o nariz sangra, o rim precisa trabalhar em dobro e o sangue fica mais concentrado”, afirma o médico patologista Paulo Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da USP. “Nunca vi nada igual ao que vimos na semana passada. E olha que trabalho com isso há cinquenta anos. Uma exposição de poucas horas é equivalente a fumarmos quatro cigarros. Para a maior parte das pessoas, não fará mal, mas imagine quem tem alguma doença preexistente?”
Na mesma semana, o Rio Pinheiros amanheceu verde, outro efeito colateral da falta de chuva, este mais prejudicial à vida aquática — com menos água, a concentração de nutrientes levou à proliferação de algas. Embora a última semana tenha registrado temperaturas mais amenas e até alguma chuva com a chegada de uma frente fria, a previsão é de nova estiagem no fim do mês e persistência de baixa umidade.
Para evitar os sintomas mais graves, atente a sinais como febre, tosse, secreção amarelada, cansaço e alteração de comportamento, os primeiros alertas para que a pessoa procure atendimento especializado. Em forte seca, recomenda-se o uso da máscara facial (veja no final da reportagem outras dicas). “Elas são importantes para não inalarmos os chamados irritantes, pois formam uma barreira. Nesse caso, as melhores são as do tipo N95”, afirma André Luis Albuquerque, coordenador da pneumologia da Rede D’Or São Paulo.
As máscaras cirúrgicas, mais simples, também podem ser usadas, mas sua durabilidade é menor. Outra recomendação é atenção na hora de praticar atividades físicas.
Esportistas amadores precisam escolher não só os horários mais indicados para a prática de atividades ao ar livre (geralmente os períodos da manhã e da noite), como devem observar os dias úteis. “A sexta-feira costuma acumular mais poeira no ar do que a segunda, pois no fim de semana a movimentação de carros é menor na cidade”, diz Albuquerque.
Há duas semanas, a prefeitura de São Paulo criou um comitê de crise para definir ações imediatas sempre que a qualidade do ar baixar. Entre as medidas anunciadas, estão a liberação de 5 milhões de reais para o reforço no atendimento a idosos e a compra de soro fisiológico, por exemplo. “Estamos planejando a criação de refúgios térmicos em equipamentos públicos, como escolas, centros esportivos, entre outros, para que possam acolher pessoas quando houver catástrofes como a do Rio Grande do Sul”, afirma o secretário-executivo de Mudanças Climáticas, José Renato Nalini.
“É na primavera que registramos os picos de temperatura, pois há mais horas de sol e menos umidade”, diz Maria Clara Sassaki, porta-voz da empresa de meteorologia Tempo OK.
Até que o tempo nos traga bons ventos, e o paulistano possa novamente respirar ar puro, o melhor é não baixar a guarda.
Respira!
Cuidados importantes para amenizar os efeitos da seca:
Manter-se sempre hidratado;
Evitar exercícios ao ar livre no período da tarde;
Lavar narinas e olhos com soro fisiológico;
Utilizar umidificadores nos ambientes fechados;
Usar máscaras adequadas para ajudar na filtragem do ar;
Não se automedicar ao surgimento dos primeiros sintomas de desconfortos nasais.
Publicado em VEJA São Paulo de 20 de setembro de 2024, edição nº 2911.