Olivetto deixou legado para a publicidade
Ganhador de 50 prêmios em Cannes, publicitário morreu no último dia 13, no Rio de Janeiro
Se o primeiro sutiã a gente nunca esquece, o primeiro comercial de TV que abordou o tema com a delicadeza que ele merecia, também não. Foi o caso do filme Meu Primeiro Sutiã, criado para a marca Valisère, em 1987, sob direção de Washington Olivetto. O publicitário paulistano, que conquistaria o Leão de Ouro em Cannes (apenas um dos cinquenta prêmios amealhados no prestigiado festival francês) pelo filme — que falava sem tabu sobre a intimidade feminina —, morreu domingo (13), no Rio de Janeiro, anos 73 anos. Um dos maiores nomes do setor, Olivetto marcou uma época considerada de ouro para a publicidade nacional, com comerciais bem-humorados, que falavam diretamente ao consumidor — sem formalidades ou artificialismos.
Em uma entrevista ao jornal Meio & Mensagem, em 2016, ele falou sobre sua obsessão: fazer a propaganda entrar para a cultura popular do país. “Sempre procurei transformar o consumidor em mídia”, disse o publicitário, que já criava filmes “virais” quando o termo nem existia e a internet era apenas um sonho futurista. “Trabalhar ao lado do Washington foi a melhor experiência que eu poderia ter tido como profissional e como homem”, escreveu em sua conta no Instagram o diretor, músico e criador da produtora AD Studio, Jarbas Agnelli.
Nascido em 1951, no bairro da Lapa, em São Paulo, Olivetto iniciou a carreira profissional em 1969, aos 18 anos. Em 1970, chegou à DPZ, agência onde criaria outras pérolas, como o Garoto Bombril (1978), personagem do ator Carlos Moreno na inesquecível série de comerciais que durou até 2004. Em 1986, deixou a DPZ para associar-se à suíça GGK, criando a W/GGK, que se tornaria a W/Brasil — nome imortalizado pela música homônima de Jorge Ben Jor. O publicitário ainda seria citado em Engenho de Dentro (1993), do mesmo compositor, que dizia: “A cabeça do Olivetto / É igual a uma cabeça de negro / Muito QI e TNT do lado esquerdo”. “Meu pai era o meu amor, o meu exemplo, e não consigo resumir a influência dele na minha vida em um único parágrafo”, diz o diretor e roteirista Homero Olivetto. “Seria injusto com o tamanho dele em mim”, afirma. “Queria que ele estivesse aqui, ao meu lado, me ditando uma frase genial, com o poder de síntese que só ele conseguia ter.”