Papo Vejinha: “Por mim, nem teria eleição”, opina Datena
Filiado ao MDB, o apresentador da Band diz que se mantém na disputa pela prefeitura em 2020, mas prefere o adiamento da votação por causa do coronavírus
Seu nome foi cotado para a prefeitura em 2016 e para o Senado em 2018, mas o senhor desistiu. Por que tantas idas e vindas?
Em 2016, estavam me vendendo o que não era real. Questão de caixa de campanha, de onde vinha o dinheiro. Para o Senado, desisti porque o (João) Doria é muito personalista e impôs muitas regras. Queria que eu dissesse o que ele diz. Eu ia ser um candidato que ficaria totalmente na mão dele. Pensei bem e desisti.
E para a prefeitura em 2020?
Sou pré-candidato pelo MDB. Existe uma negociação com o PSDB para que eu seja vice do Bruno Covas. Estou no jogo, mas, sinceramente, por mim nem teria eleição. Ah, mas vai prorrogar o mandato de muita gente que não merece? Sim, mas estamos vivendo uma guerra biológica como não enfrentamos há um século. Pega o fundo eleitoral e mete no combate ao coronavírus.
A quarentena não pegou para valer em São Paulo, principalmente na periferia da cidade.
Cumprir quarentena em uma comunidade é complicado. Dão um posto de saúde para milhares de pessoas. Aí de repente pedem ao camarada que se tranque em uma casa de dois cômodos com dez pessoas dentro? Claro que ele não vai respeitar. Outro dia quiseram colocar o helicóptero da Band para mostrar as lojas abertas na periferia. Não deixei. Para depois chegarem na porrada e fecharem a loja do cara? Enquanto isso, na contramão na história, vemos a Cracolândia abarrotada.
Por que nenhum governante conseguiu acabar com a Cracolândia?
Porque ninguém descobriu a fórmula. o cara que mais se aproximou da verdade foi o (José) Serra. Ele disse que ia derrubar os prédios que servem de hotel, mas são onde os seres humanos vivem empilhados de uma forma absurda, para esconder drogas e traficantes.
Qual sua posição sobre a internação compulsória de usuários de drogas?
Sempre achei que esses caras deveriam receber tratamento se assim aceitassem. Mas em um período de exceção como agora a internação tem de ser compulsória. Eles teriam de ser levados para um hospital. Ali sua vida seria preservada.
Qual seria seu primeiro ato como prefeito de São Paulo?
Focar o primeiro atendimento da saúde. Não adianta fazer exames como o Doria fez (Corujão da Saúde) e não dar ao cara o atendimento seguinte. O que adianta ter o exame na mão e demorar seis meses para ser atendido? Ele vai morrer antes.
Como melhorar a mobilidade?
Tem de pegar as empresas de ônibus e falar assim: ou vocês trabalham direito ou nós vamos abrir uma nova licitação para que o cidadão seja bem servido. Não adianta ter corredor de ônibus se não há mais ônibus na mesma linha. Mas isso não interessa aos caras, pois eles vão gastar mais com veículos, motoristas, pneus.
Tem plano para as favelas?
Quase 1 milhão de pessoas moram em áreas de risco. Sou a favor de removê-las para um lugar digno. Criar habitações decentes e baratas será uma das prioridades. Vou ter de arrumar bastante gente para me ajudar. Se não tiver bons vereadores, secretários notáveis, estarei fodido. Não quero ser o cara que manda em tudo. Não serei como o (Jair) Bolsonaro, que ficou discutindo com o Luiz Henrique Mandetta (ex-ministro da Saúde).
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O centro de São Paulo é outro alvo eterno de candidatos.
O centro não precisa ser aquele downtown maravilhoso. É só manter a decência e a limpeza. Também não pintarei os arcos (da Rua Jandaia) nem permitirei grafites. Aliás, (Fernando) Haddad e Doria foram dois imbecis nesses episódios. Um se acha aluno de Deus e o outro o próprio Deus.
Uma possível eleição sua poderia atrapalhar a carreira de seu filho Joel na Band? Como ele criticaria os buracos da cidade?
Duvido que o Joel me poupe de críticas (no programa Bora SP). Ele vai falar. Mesmo porque, se ele não falar, vou ficar puto. Ele é muito benquisto pela direção da Band e pode me suceder.
Como está sua saúde?
Sou cardíaco, diabético e tenho mais de 60 anos. Não pertenço ao grupo de risco, sou o próprio grupo de risco (para coronavírus). Venho para o estúdio todos os dias, mas se o movimento aumentar vou apresentar o Brasil Urgente da minha casa.
Você tem fama de ser um chefe carrasco e de maltratar sua equipe.
Chefe carrasco é o caralho. Acabei de dar uma parte do meu salário para que uma cacetada de gente aqui não fosse mandada embora. Não foi só agora, foram várias vezes. Já dei 150 000, 200 000 reais.
Críticos o acusam de ser porta-voz do presidente Bolsonaro.
As matérias que faço são interessantes. Ganhei liberdade com o Bolsonaro quando ninguém acreditava nele e eu o entrevistava. Ele era engraçado, polêmico, e eu achava que era legal. o que ganhei em troca? Nada.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 29 de abril de 2020, edição nº 2684.
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