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“Para eles, o Copan tem de morrer como um velho”, diz síndico do prédio

Affonso Prazeres faz críticas aos órgãos de proteção ao patrimônio enquanto diz querer construir um museu na cobertura do icônico edifício

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 Maio 2024, 19h22 - Publicado em 15 out 2021, 06h00
affonso prazeres fotografado de baixo para cima olhando para o horizonte. atrás dele há uma placa e ao fundo está o edifício copan
Apesar das polêmicas acumuladas ao longo dos anos, Affonso Prazeres é síndico do Copan há 28 anos (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Quando Affonso Celso Prazeres, 82, assumiu a sindicância do Copan, em 1993, o edifício estava à beira da interdição por parte da prefeitura. Na época, outro prédio famoso, o Baronesa de Arary, na Avenida Paulista, passava pelos mesmos problemas e foi interditado. No Copan, na época, seus 22 elevadores viviam mais parados do que funcionando, as paredes não possuíam pintura e o térreo havia virado ponto de prostituição e drogas. Para conter esses dois últimos, Prazeres, que mora no espaço desde 1963, diz ter usado colete à prova de bala, o qual guarda até hoje em uma caixa.

Agora a briga é para reformar a fachada do prédio, cuja autorização (parcial) do Conpresp (órgão municipal de preservação) levou mais de dez anos, após inúmeras divergências. Mas a falta de recursos tem tirado o sono do síndico, que recebeu críticas de parte dos moradores durante a condução da pandemia e é visto como centralizador, ações que ele nega.

Quando as obras vão começar, quanto vão custar e quais trabalhos serão realizados?

Não sabemos quando iniciaremos os trabalhos, pois ainda não temos orçamento. Temos 20 milhões de reais em caixa, mas o valor é insuficiente, apesar de ainda não termos fechado o valor total dos custos. Só saberemos em novembro. Quanto às obras, serão apenas de troca de pastilhas.

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Mas e os problemas estruturais e visíveis na fachada, não serão sanados?

É só pastilha mesmo. Alguém inventou que tem problema estrutural, mas é tudo bobagem. Aqui existe oposição e muitos não têm o que fazer. Você acha que eu iria esconder algo? Eu seria irresponsável.

Há laudos que mostram desprendimento de concreto, exposição de armaduras, infiltrações e queda de pastilhas.

Tudo isso fará parte do trabalho de troca das pastilhas.

A Lei Cidade Limpa prevê que reformas em prédios tombados, como o Copan, recebam patrocínio de empresas, que poderão exibir publicidade nas fachadas durante as obras. Alguma empresa mostrou interesse?

Apareceu uma empresa que ofereceu irrisórios 65 000 reais para um ano de contrato.

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Qual foi essa empresa e quais valores seriam justos na sua avaliação?

Não posso dizer qual empresa nem o valor total que esperamos, mas os 65 000 reais que eles propuseram pagar por ano não valem nem um mês do que imaginamos.

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Como é viver há mais de uma década com a visão ofuscada por uma tela na janela? E qual o tamanho da desvalorização do prédio por causa do embargo das obras, em 2015, feito pelo Conpresp?

É cansativo, nossos apartamentos ficaram mais escuros. A gente acostuma. Quanto à desvalorização, o valor é incalculável. Não quero entrar em choque com o Conpresp, criar celeuma agora, pois tudo ficou no passado.

“Queremos transformar o Copan no prédio do passado e do futuro, com museu, mirante e pesquisa”

Nos seus 28 anos como síndico, não apareceu nenhum concorrente para lhe tirar o posto?

Apareceram vários, mas nenhum teve voto suficiente para me vencer. Na última eleição, em março passado, apareceram alguns moradores falando um monte de besteira, mas eu acabei reeleito.

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Nessa época moradores reclamaram publicamente que as regras sanitárias não eram respeitadas no prédio nem pelo senhor.

Essa gente conseguiu denegrir o próprio prédio. Falaram que um banheiro estava sujo e não tinha nem papel higiênico. Mas esse banheiro era dos lojistas e eles é que devem colocar papel e limpá-lo. Fomos elogiados pela nossa condução da pandemia e trouxemos até a Saúde para vacinar moradores que não podiam sair de casa.

Outra queixa que fazem é que o senhor é centralizador em demasia.

Recentemente acabamos com a figura do zelador e designamos três zeladores, além de um eletricista que fica à disposição para quaisquer ocorrências. Isso é ser centralizador?

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O senhor chegou a falar que não se candidataria mais, mas não foi o que ocorreu. E agora, pretende se eleger novamente em 2023?

Se eu tiver condições, com certeza. Quero entregar essas obras e construir um museu.

Qual a ideia do museu?

Quero construir um museu na cobertura para contar a história do Copan. Antes da pandemia, recebíamos em média 500 pessoas por dia para apreciar a vista, mas não tínhamos nada para oferecer a elas. Temos mais de 1100 pranchas originais da construção que estão na FAU-USP. Quero trazê-las para serem usadas em pesquisa aqui. Temos dezenas de fotografias da construção que expusemos há alguns anos. Queremos transformar o Copan no prédio do passado e do futuro, com museu, mirante e pesquisa. Mas vai ter uma grande resistência por parte do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH). Eles não aceitam inovação. Para eles, o prédio tem de morrer como um velho.

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Enquanto essa briga não começa, dá para lembrar de outras? O senhor costuma dizer que eliminou a prostituição e o tráfico de drogas no prédio. Como foi?

Foi logo que eu assumi. Reuni as meninas e dei quinze dias para elas saírem do prédio e dos apartamentos. Você não faz ideia da quantidade de caminhão de mudança que encostou aqui.

Mas esse é seu papel? E o direito de moradia?

Falei com os proprietários dos apartamentos, que não queriam ver seus imóveis mais desvalorizados, e eles as despejaram.

Foi nessa época que o senhor usou colete à prova de bala?

Passei a usar logo na sequência, mas por dentro da camisa. A polícia fez uma batida aqui e prendeu dois traficantes. Eles acharam que eu tinha sido o denunciante e me ameaçaram. Mas não fui eu. Passei mais de um ano andando com o colete.

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Publicado em VEJA São Paulo de 20 de outubro de 2021, edição nº 2760

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