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Prefeitura anuncia 157 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas na cidade

Novas faixas serão em áreas de demandas antigas, como em pontes nas marginais e na Radial Leste, mas cicloativistas ainda pedem mais atenção à periferia

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 Maio 2024, 22h31 - Publicado em 28 jan 2022, 06h00
Imagem mostra três ciclistas, um em foco e os demais desfocados, esperando cada um de um lado da rua para atravessar na faixa. Ao fundo, postes, árvores e prédios.
Ciclistas aguardam para subir a Ponte da Freguesia: local será contemplado no plano de 2022 (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Com 695 quilômetros de vias destinadas a bicicletas, São Paulo possui a maior malha cicloviária do país. Apesar do posto de líder, está longe de atingir a meta estipulada pela própria prefeitura para 2030: 1 800 quilômetros.

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Entre 2017 e 2021, foram construídos apenas 197 quilômetros, contra mais de 400 feitos pela gestão anterior (2013-2016), de Fernando Haddad (ele e dois de seus então secretários são réus na Justiça desde 2018 em uma ação movida pelo Ministério Público após parte da ciclovia da Avenida Faria Lima ser construída sem licitação, por meio de ata de registro de preço. Para o MP, deveria ter havido licitação. O caso segue em curso e todos os acusados negam dolo na assinatura dos contratos).

Imagem mostra ciclista de camiseta vermelha andando em ciclovia cinza, entre um gramado e uma avenida.
Início do trecho de ciclovia na Radial Leste, no Tatuapé: promessa de ligação antiga (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Agora, o prefeito da vez, Ricardo Nunes, promete construir 157 quilômetros em 2022 e outros 150 até o fim de sua administração, em 2024. “Fecharemos o mandato com cerca de 1 000 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas na cidade”, afirma Nunes.

As ciclovias são as pistas segregadas, como as das avenidas Paulista e Brigadeiro Faria Lima. Já as ciclofaixas são as vias demarcadas por tachões (também conhecidos como tartarugas), como na Avenida Rebouças. Há também as ciclorrotas, que são as faixas pintadas no asfalto, sem divisão, em que o espaço é compartilhado entre carros e bikes (há 32 quilômetros desse tipo na metrópole).

Além de dar uma reforçada na contabilidade total das pistas para bicicletas, a prefeitura vai apostar em trajetos que ligarão rotas já existentes, demanda antiga dos ciclistas paulistanos. Ao todo, cinco pontes das marginais Tietê (Piqueri, Freguesia e Tatuapé) e Pinheiros (Jaguaré e Cidade Universitária) cederão parte do espaço dos carros para as bikes.

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“As faixas do Piqueri e da Freguesia vão superar um gargalo histórico. Dos dois lados das pontes há ciclovias consolidadas, mas quem quer passar o rio precisa dividir o espaço com os carros, motos e ônibus, o que é muito perigoso. É uma tensão enorme, pois há sempre uma subida grande e os carros que vêm da marginal andam muito mais rápido a partir das alças”, afirma o desenvolvedor de software Roberson Miguel dos Santos, 42, morador no Jardim Peri, na Zona Norte.

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Outras interligações importantes do novo plano cicloviário da prefeitura também visam a suprir solicitações históricas, caso da Radial Leste, com promessa de ficar totalmente adaptada às bikes há mais de vinte anos. Hoje, quem sai de bike do Metrô Itaquera chega apenas até a Rua Tuiuti, no Tatuapé. São 12 quilômetros que param no meio do “nada”. Agora, serão construídos mais 5,6 quilômetros, ligando de vez o extremo Leste ao centro.

“Vou duas vezes por semana ao trabalho de bicicleta, no centro, mas sei que é perigoso”, afirma o corretor de imóveis Fernando Platero, 51, morador da Mooca. Para não se arriscar ao dividir espaço com ônibus, carros e motos, Platero usa a calçada e uma passarela para se locomover.

Imagem mostra homem em bicicleta, de capacete e camiseta azul, na rua. Atrás dele, um ônibus amarelo.
O corretor Fernando. (Alexandre Battibugli/Veja SP)

“Quando a ciclovia ficar pronta, vou aumentar o número de viagens de bike, pois principalmente na volta a diferença de tempo é muito grande”, diz. Para pôr o plano cicloviário de pé e entregar 157 quilômetros de pistas para bikes neste ano, a prefeitura, além de utilizar o modelo convencional de licitação para construir 48 quilômetros, vai lançar mão de contratos existentes para fazer o restante.

Por meio da Parceria Público-Privada da Habitação (PPP), as empresas responsáveis por erguer as moradias vão se encarregar de criar as ciclovias e ciclofaixas em áreas próximas aos empreendimentos. Serão ao todo 109 quilômetros, divididos em doze lotes. “Ao implantar as habitações, as empresas são contratualmente obrigadas a construir as ciclovias, pois os empreendimentos vão impactar nos equipamentos públicos existentes”, afirma Dawton Gaia, gerente de planejamento da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).

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Um dos exemplos de ciclovias construídas por meio da PPP da Habitação é o da Avenida dos Bandeirantes. Com 9 quilômetros de extensão, vai interligar a ciclofaixa da Avenida Engenheiro Luis Carlos Berrini, no Brooklin, à da Avenida Tancredo Neves, no Sacomã.

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Também se ligará às futuras ciclofaixas da Avenida Abraão de Morais, previstas para o mesmo lote. Ou seja, quem sair pedalando do Brooklin poderá chegar ao centro, passando por Bandeirantes, Abraão de Morais, Ricardo Jafet (essa já existente), Avenida Dom Pedro I (que também será construída neste ano) e Avenida do Estado (pronta e em uso).

Parte desse futuro traçado vai ajudar o estudante de psicologia Jean Carlos do Vale, 25. “Hoje eu pego a Ricardo Jafet e subo a Rua Luis Góis, que é muito íngreme, para chegar ao corredor da Domingos de Morais. Vejo muita gente descer da bicicleta e ir andando. Agora com a ciclovia da Dom Pedro I vai ser muito melhor chegar ao centro.”

Imagem mostra homem de calça jeans e camiseta vinho atravessando a rua em uma ciclovia. Ao fundo, um monumento.
Jean, no Ipiranga: bairro vai ganhar 15 quilômetros de pistas para ciclistas. (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Na região do Ipiranga serão 15 quilômetros de faixas e pistas para bike. Além da Dom Pedro I, as ruas do Manifesto, Agostinho Gomes e Cipriano Barata (desagradando comércio local) e o Viaduto Grande São Paulo receberão faixas exclusivas no asfalto. Esse último vai se interligar com a ciclovia da Avenida Luiz Ignácio de Anhaia Melo, que possui 12 quilômetros de extensão e vai até São Mateus.

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Muitos desses próximos trajetos foram definidos após dezenas de reuniões ocorridas na Câmara Temática de Bicicleta, criada em 2015 e formada por 22 integrantes da sociedade civil e pela Secretaria de Mobilidade e Trânsito, incluindo a CET. Membro do grupo, o arquiteto Lucian De Paula Bernardi, 32, lembra, no entanto, que mais uma vez a periferia não foi contemplada como deveria.

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“Gostei da proposta da prefeitura de instalar vias na Bandeirantes, Salim Farah Maluf, nas pontes e no Jabaquara, mas a periferia raramente é contemplada”, diz. Das 32 subprefeituras paulistanas, três não possuem nenhum centímetro de ciclovia: Cidade Tiradentes, Guaianases e Perus.

“São Paulo está devendo para a periferia. Que tal a prefeitura priorizar os 300 quilômetros que serão construídos pela gestão e olhar a periferia, a 30 quilômetros do centro?”, provoca Daniel Guth, um dos primeiros cicloativistas a participar da Câmara Temática e hoje atuando como diretor na Aliança Bike, uma associação formada por fabricantes de bicicletas.

O prefeito Ricardo Nunes diz que olha, sim, para a periferia e cita locais que farão parte do plano de 2022. “Eu moro na periferia, sempre morei, você acha que não iríamos olhar para lá? Vamos criar ciclovias em Interlagos, São Miguel Paulista, Aricanduva e São Mateus”, afirma o prefeito.

Tabela em cinza e amarelo mostrando 10 avenidas da cidade e o tamanho de suas respectivas vias para bicicletas.
(Crédito/Veja SP)
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Outra queixa dos ciclistas que pedalam por meio de locomoção ou lazer é quanto à manutenção e à qualidade das pistas exclusivas para eles. “Temos medo de passar pela região da Penha na ciclovia da Radial Leste, pois tem muito lixo, muito morador de rua, é escura e há constantes assaltos. O pessoal fica escondido em pontos cegos e aproveita a escuridão para nos assaltar”, diz o vigilante Valter Caldeira de Oliveira, 51, morador de Itaquera.

“Todos conhecem aquela área como Faixa de Gaza”, diz. A prefeitura afirma que o contrato para fazer a manutenção dessa ciclovia foi encerrado e uma nova ata de registro de preços está sendo feita.

Na Avenida Rebouças, que possui ciclofaixa nos dois lados, a reclamação é quanto à largura das pistas. “É muito estreita, causa medo, pois os carros passam muito perto, sem falar nos caminhões de grandes dimensões”, afirma a assistente executiva Célia Choairy de Moraes, 44.

Imagem mostra mulher de camiseta branca e calça preta apoiada sobre sua bicicleta, em uma ciclovia entre duas faixas de carro.
Célia: na Paulista, sim, na Rebouças, não. (Alexandre Battibugli/Veja SP)

“Mas eu sei que é melhor ter ciclofaixa de má qualidade do que não ter. É um trabalho de formiguinha.” A relação da cidade com as ciclovias começou de forma abrupta, com centenas de reclamações de moradores e comerciantes que não gostaram de ver uma faixa pintada de vermelho tirando o espaço dos carros estacionados no meio-fio.

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De lá para cá, esse debate esfriou, mas não a demanda dos ciclistas por mais conexões e segurança. Nos sete primeiros meses do ano passado, foram registradas 26 mortes de pessoas que andavam de bicicleta na cidade. No mesmo período de 2020 foram dezessete óbitos, um aumento de 53%.

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Publicado em VEJA São Paulo de 2 de fevereiro de 2022, edição nº 2774

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