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Programa ‘Garagem’ volta ao rádio em edição única na 89 FM

Atração que ficou conhecida por esculhambar nomes intocáveis da música nacional celebra 25 anos no sábado (12)

Por Chico Spagnolo
Atualizado em 9 ago 2017, 20h00 - Publicado em 9 ago 2017, 19h42
Parte da trupe com a banda americana Man or Astro-man? (Reprodução/Divulgação)
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Se a semana começou repleta de mensagens em homenagem a Caetano Veloso, que completou 75 anos na segunda-feira (7), o mesmo não deve acontecer no próximo sábado (12). Pelo menos não durante o programa de rádio Garagem, que fará uma edição especial para celebrar 25 anos de transmissão, entre diversas indas e vindas. Desde 2013, não há uma agenda fixa. A atração terá cinco horas de duração e vai ao ar pela 89 FM e também pelo site da emissora, a partir das 23h59, logo após a apresentação de Caetano em São Paulo, no Festival Coala.

O Garagem costumava ocupar as madrugadas de segunda para terça-feira e ficou conhecido por questionar ferrenhamente os louros de astros consagrados da música nacional. Em certa edição, toda a discografia de Caetano foi literalmente furada, rasgada, esfolada, fritada na chapa, lixada e até atropelada por um carro. Mas o alvo não era só o músico baiano. Outras figuras importantes e aparentemente unânimes para o gosto popular e para a crítica especializada, como Gilberto Gil, Carlinhos Brown, Gal Costa e Arnaldo Antunes, foram julgados pela trupe. Quando elogiava a música brasileira, a equipe costuma ir por um caminho mais alternativo.

A estreia, em março de 1992, na Gazeta FM, tinha como formação original a dupla de jornalistas André Barcinski e André Forastieri. Esse último acabou saindo logo no começo, mas continuou a fazer aparições esporádicas. Na segunda fase, na rádio Brasil 2000, o programa já trazia um time fiel de ouvintes (o pico de audiência foi de cerca de 15 000 pessoas) e era apresentado, além de Barcinski, pelos jornalistas Paulo César Martin, o Paulão, e Álvaro Pereira Jr., que haviam trabalhado com Barcinski no extinto Notícias Populares, jornal famoso por trazer manchetes debochadas sobre crimes e por fazer um texto fácil, sem firulas. Nesta época da Brasil 2000, a direção artística da rádio, então encabeçada por Kid Vinil, chegou a receber um abaixo-assinado pedindo o fim do programa por causa das brincadeiras com os artistas.

As músicas escolhidas a dedo pelos apresentadores eram majoritariamente internacionais e iam desde as melodias facilmente assoviáveis do conjunto galês Manic Street Preachers, até a barulheira mecânica do Ministry, grupo norte-americano de rock industrial, cuja estreia no Brasil se deu no programa. “A nossa ideia sempre foi colocar som alternativo e de ponta, bandas que estavam nascendo naquela época”, comenta Paulão. Ainda assim, de vez em quando rolava uma escorregada nostálgica, e conjuntos clássicos do naipe de The Clash, MC5, The Cramps e The Stooges iam pro ar.

garagem rádio
Ian Mcculloch (de jaqueta de couro), líder do Echo & the Bunnymen, e o sambista Alexandre Pires em um encontro inesperado e promovido indiretamente pelo Garagem (Marcio Custodio/Divulgação)
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“Vários ícones nacionais foram entrevistados por nós, inclusive muita gente que já se foi, como o ator Jorge Loredo (famoso pelo Zé Bonitinho), o cantor Jerry Adriani, Jacinto Figueira Júnior (o Homem do Sapato Branco) e muitos outros”, lembra Paulão. Outras figuras sabatinadas pelo Garagem são o jornalista Marcelo Rezende, o ator e diretor José Mojica Marins, também conhecido como Zé do Caixão, a cantora Chan Marshall (Cat Power), Ian Mcculloch, vocalista da banda Echo & the Bunnymen, Gretchen, e por aí vai. Isso sem falar nos talentos revelados pelo Garagem, dentre os quais se destaca o sorumbático Jota C, praticamente um Morrissey (ex-vocalista do The Smiths) brasileiro.

Além dos apresentadores, faziam parte do programa os “escravos” (espécie de estagiários), a “espetacular Larissa” e a “destemida Verônica”, que atendiam as ligações dos ouvintes, os DJs, responsáveis por equalizar as microfonias, o comentarista Fábio Nipo-luso, um descendente de japonês fanático pela Portuguesa, que só se vestia com camisetas do clube, e muitos outros. Mas a grande protagonista era a Ana Maria Broca, uma furadeira responsável por tratar os desagrados musicais dos apresentadores de forma pouco católica.

Outro elemento constante eram quadros como o “Vivo ou Morto?”, que convidava os ouvintes a acertar o paradeiro de grandes personalidades, e as promoções. Nessas, os ouvintes precisavam inventar soluções criativas para as perguntas boladas pela turma. Em uma das edições, a questão era: “Qual seria o nome da biografia de Caetano Veloso se ela fosse escrita por Paulo Coelho?”. O escritor tinha acabado de ser nomeado membro da Academia Brasileira de Letras. Entre as respostas, só criações geniosamente impublicáveis. Os vencedores geralmente ganhavam DVDs e CDs recém-lançados, além de ingressos para as festas promovidas pelo Garagem, todas produzidas na raça, com poucos recursos e sem lucro para os apresentadores – assim como tudo por lá.

“Para nós, era um hobby e uma brincadeira. Tínhamos e temos noção da importância dos artistas que criticávamos, mas achamos importante fazer frente a quem não tem o costume de ser questionado”, lembra Paulão. Todo esse universo caótico deve ser relembrado e reproduzido no sábado. Os ouvintes também poderão participar de quadros, de uma promoção, e gargalhar com trechos de programas passados e a presença de convidados. Até lá, quem quiser aquecer os ouvidos pode acessar o acervo digital, que reúne boa parte da história do Garagem.

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