Rayssa Carvalho é primeira brasileira a usar a moderna prótese Sprint
Atleta amputada treina para superar seus limites e virar corredora profissional
Aos 12 anos, Rayssa Carvalho já praticou muitos esportes: judô, natação, capoeira, basquete, futebol e handebol. Sua meta agora é o atletismo. Numa época de crianças hiperativas, tal desempenho passaria longe do extraordinário. Não fosse por um detalhe. Há sete anos, a garota precisou passar por um procedimento de correção de pé torto. Complicada por problemas vasculares, a cirurgia foi malsucedida. O caso chamou a atenção do ortopedista e traumatologista Marco Guedes, que conseguiu operar Rayssa gratuitamente no Hospital Sírio-Libanês. “Tivemos de amputar parte de sua perna esquerda”, conta Guedes, que desde então tem acompanhado sua recuperação. “Ela é uma guerreira.” Aluna da 6ª série do colégio Pueri Domus, no Itaim Bibi, e matriculada na Fórmula Academia, Rayssa tira boas notas e não falta aos treinos. Por sua dedicação, foi escolhida pela Associação Desportiva para Deficientes (ADD) para receber a moderna prótese de corrida Sprint, feita de fibra de carbono. É a primeira brasileira a usar o modelo que ficou conhecido por causa do sul-africano Oscar Pistorius, ganhador de três medalhas de ouro na Paraolimpíada de Pequim.
Amputado em razão de um acidente de trabalho numa metalúrgica, o atleta e treinador Paulo de Almeida, da ADD, trouxe a prótese de Rayssa dos Estados Unidos. Depois de completar dez vezes a Maratona de Nova York e participar de corridas de aventura e provas de triatlo, ele sonhava em ver uma criança velocista. “A Rayssa vai aparecer por suas conquistas, não pelas deficiências”, diz, emocionado. “Ela vai começar a correr com a Ferrari das próteses, pode ir longe.” Rayssa ganhou a Sprint há um mês e tem segurado a ansiedade de dar voltas na pista. Serão necessários ao menos três meses de exercícios de musculação antes de iniciar os treinos para as provas de 100 e 200 metros. Para o dia a dia, a menina nascida em Teresina, no Piauí, e que mora há sete anos no bairro de Capão Redondo, na zona sul da cidade, usa uma prótese diferente, que simula a movimentação do tornozelo. Rayssa não tem vergonha de deixá-la aparente. Usa short e sandálias quando quer. Não gosta de maquiagem, brincos nem de colares. Mas deixa escapar seu lado vaidoso ao mostrar a Sprint: “É muito bonita, não?”. Como qualquer menina de sua idade, assiste a filmes na televisão e brinca na internet. Além do sonho de tornar-se atleta profissional – agora mais próximo –, tem planos acadêmicos. “Quero ser médica ortopedista”, diz.