Skate: Obstáculos superados por Rayssa Leal no SLS são doados a ONGs de SP
Corrimãos, caixotes e bancos utilizados na final do campeonato, que ocorreu em dezembro no Ginásio do Ibirapuera, vão ajudar a formar novos skatistas no estado

Rayssa Leal conquistou o Brasil em 2021, quando se tornou a medalhista mais jovem do país nas Olimpíadas, após levar a prata no skate street feminino aos 13 anos. Em 2024, aos 16, mais uma medalha olímpica, dessa vez de bronze. Não parou por aí. A Fadinha seguiu batendo recordes e, no último SLS Super Crown World Championship — a Liga Mundial de Skate Street —, que teve a final em dezembro, no Ginásio do Ibirapuera, se tornou a primeira atleta a conquistar o topo do pódio em três edições seguidas da competição.
Agora, os obstáculos superados por Rayssa servirão para ajudar a formar novos skatistas da região metropolitana de São Paulo. Corrimãos, caixotes e bancos utilizados no evento foram doados para quatro projetos sociais do estado de São Paulo voltados para a imersão de crianças e jovens no universo desse esporte. “Meu time e eu ficamos nos questionando sobre todo o investimento que é feito numa pista, que tem o melhor material, a melhor mão de obra e só é utilizada por seis dias”, explica Pedro Dau de Mesquita, sócio e diretor-executivo da V3A, empresa que representa a SLS no Brasil.

A iniciativa, uma parceria da V3A com a Confederação Brasileira de Skateboarding e o governo de São Paulo, é uma maneira de democratizar o campeonato, que, na última edição, tinha valores variando entre 75 e 1 920 reais por ingresso. “É uma forma de contribuir para a comunidade. Com equipamentos de ponta, aspirantes a skatistas podem atingir um nível técnico, evoluir”, completa Mesquita, que doa e recicla entre 75% e 85% de toda pista usada na competição. Em 2023, primeiro ano que o evento foi sediado em São Paulo, a doação foi para a pista pública do Parque Ana Brandão, em Santo André, onde Giovanni Vianna, campeão daquele ano, arriscou suas primeiras manobras ainda criança.
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Além dos equipamentos — que neste ano serão destinados às iniciativas paulistanas Associação de Skate, Esporte, Cultura, Arte e Lazer Prafinha, no Real Parque, Clube da Comunidade Arena Radical, na Vila Olímpia, Quadrespra “Quadrinha Espraiada”, em Vila Congonhas, e Social Skate, na cidade de Poá —, a fórmica, o cimento e o acabamento de madeira das pistas são enviados para reciclagem.
Criada em 2011 por Sandro Testinha, a Social Skate, que atende 150 crianças e adolescentes, de 6 a 17 anos, instalou o mobiliário em um espaço aberto também ao público de fora do programa. Praticante da modalidade há 33 anos, Testinha acompanhou a popularização do skate, mas relata que o esporte ainda é alvo de marginalização no Brasil. “O mesmo prefeito que parabeniza publicamente a Rayssa, manda a guarda tirar os skatistas de onde eles estão andando”, critica ele, referindo-se ao mandatário do município na região metropolitana, em referência à visita que a pequena grande atleta fez à ONG poucos dias antes de se apresentar no Super Crown 2024. “Teve muita emoção, muito choro, muita alegria. Ela é um ídolo, e muito acessível”, conta o mentor, que completa: “Ela está fazendo muita diferença no skate”.

Ele conta que as crianças menores ainda estão se acostumando com o material, afinal, praticar no mesmo equipamento em que Rayssa concorreu não é qualquer coisa. “São obstáculos de um campeonato mundial profissional”, ressalta Testinha. Os mais velhos, entre 14 e 17, já conseguem se aventurar nos corrimãos, mas sempre com amigos, para gravar as manobras no celular. “Hoje todo mundo quer garantir que seja registrado, para não virar história de pescador”, diverte-se o criador da associação, que também conta com peças doadas pelo cantor Chorão e pelo skatista Bob Burnquist. “Daqui a pouco a gente vai montar um circuito só de obstáculos de gente famosa”, brinca.

Breno dos Santos, 17, na Social Skate há dez anos, vê o impacto da ação nas novas gerações. “Nosso bairro nunca teve uma pista ou qualquer obstáculo de skate fixo. Isso influencia a nova geração. As crianças da ONG entendem a importância de treinar no equipamento em que grandes nomes do skate competiram e manobraram. Espero que eles fiquem para sempre, para que os nossos filhos e os filhos dos nossos filhos possam andar também e cada vez mais melhorar nosso espaço”, diz. A bandeira da inclusão social por meio do skate — levantada por Rayssa desde o início de sua carreira — segue hasteada.
Publicado em VEJA São Paulo de 4 de abril de 2025, edição nº 2938.