Terreno na Avenida Paulista é alvo de disputa
Impasse envolve proprietário, o governo fluminense e a prefeitura de São Paulo
Pelos 2,8 quilômetros da Avenida Paulista, onde o metro quadrado chega a custar 8.000 reais, estão espalhados 112 prédios e onze casarões. Restam também oito valorizadíssimos terrenos. Um deles é, atualmente, pivô de um impasse entre o governo do Rio de Janeiro e a prefeitura de São Paulo. No começo do ano, a administração municipal anunciou que transformaria em praça pública a área de 5.000 metros quadrados localizada no número 1853, na esquina com a Alameda Ministro Rocha Azevedo. Ela pertencia ao Banco do Estado do Rio de Janeiro (Banerj), privatizado em 1997. Hoje, quem a administra é o governo fluminense. O município de São Paulo pretende desapropriar o terreno, pelo qual já ofereceu 6 milhões de reais. De acordo com o secretário da Casa Civil do Rio, Régis Fichtner, há interesse em vendê-lo, mas não pelo preço proposto. “Em uma avaliação preliminar, a Justiça estipulou um valor mínimo de 20 milhões de reais”, afirma. O Banerj comprou o terreno em abril de 1976 para construir uma agência, o que nunca aconteceu. Em 1998, o governo fluminense o alugou para um estacionamento, fechado em 2005. De IPTU atrasado, há uma dívida acumulada que ultrapassa os 5 milhões de reais, segundo a prefeitura. Só neste ano, é de 900.000 reais. Para o secretário das Subprefeituras, Andrea Matarazzo, a quantia oferecida – e estipulada pela Secretaria de Negócios Jurídicos do município – é justa. “Afinal, o local é tombado e suas árvores não podem ser cortadas”, diz. A corretora de imóveis Valentina Caran, especialista na região, confirma que, por causa das árvores, o custo do terreno pode cair – mas não tanto assim. “Como a vegetação não pode ser tocada, a área útil diminui e deixa de ter o valor de mercado”, explica. Ela estima um valor de 22,5 milhões de reais para o terreno. Se não houvesse a restrição, aumentaria para 35 milhões. A discussão ferveu quando, em fevereiro, agentes da prefeitura entraram lá para recolher o lixo do terreno. O governo do Rio considerou o ato uma invasão e pediu na Justiça que a prefeitura suspendesse as atividades e desocupasse o local. “Não fomos informados sobre a ação”, diz o secretário Fichtner. Do lado de cá, Matarazzo garante que foi um mal-entendido. “A área estava suja, nossa intenção era apenas fazer uma limpeza.” Fichtner afirma que a manutenção do terreno costuma ficar a cargo do próprio governo fluminense, mas Matarazzo diz que moradores de rua faziam fogueiras ali, botando a vegetação em risco. A área agora apresenta tapetes naturais de grama, bem como novas grades. “Caso eles queiram manter o terreno, que dêem uma finalidade a ele, como abrigar ali quiosques de informações sobre turismo no Rio, sobre o Pan-Americano…”, sugere Matarazzo. “Mas que seja um espaço aberto ao público.”