Trânsito: dez soluções para o caos de São Paulo
Confira algumas medidas de baixa e alta viabilidade para sanar os congestionamentos na capital
A cada dia, os 16 000 quilômetros de ruas paulistanas ganham 500 novos carros, ônibus, caminhões e vans. É como se a frota inteira da cidade de Jundiaí, com 180 000 veículos, invadisse São Paulo todos os anos. Fica fácil entender por que circular por aqui, mesmo fora dos horários de pico, exige cada vez mais paciência. De todos. A tortura do trânsito não escolhe classe social e atinge tanto o milionário do Jardim Europa que anda em carro blindado com motorista como o morador da periferia que, para trabalhar, sofre quatro horas por dia dentro do ônibus. O caos afeta a segurança (carros parados nos congestionamentos são alvos fáceis para assaltantes), causa mortes, polui o ar e gera prejuízos da ordem de 3 bilhões de reais por ano à economia de São Paulo, segundo uma estimativa do consultor Eduardo Vasconcellos, da Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP). Faz com que os paulistanos cheguem a odiar a cidade. Mais do que um problema, é um problema gravíssimo – mas que tem soluções. Exigem imaginação, competência e coragem do poder público. Aqui estão dez delas. 1. Pequenas medidas, grandes impactos – Não são apenas obras caras e idéias radicais que amenizam o caos no trânsito. Iniciativas simples, inteligentes e baratas podem causar efeitos imediatos nos engarrafamentos e melhorar a segurança. Algumas delas: tapar buracos. Além de causarem acidentes e provocarem avarias nos veículos, os buracos diminuem a velocidade dos carros, que são obrigados a desviar deles. Consertar vias estratégicas pode fazer toda a diferença. O recapeamento dos 61 quilômetros das marginais e arredores – concluído há quinze dias –, por exemplo, aumentou a velocidade dos veículos em 30%, na média; pintar faixas nas ruas. Se o motorista vê as faixas no chão, dirige com mais segurança. “As marcas organizam o tráfego e aumentam o fluxo”, diz o engenheiro Jaime Waisman, doutor em trânsito e transporte pela Universidade de São Paulo; acrescentar faixas em avenidas movimentadas. O princípio é encolher as faixas já existentes para dar lugar a mais uma. Foi o que se fez na Avenida 23 de Maio, que passou de quatro para cinco faixas. Segundo a CET, a obra consumiu 100.000 reais e o fluxo de veículos aumentou 15%. Essa mudança poderia ser adotada em outras vias da cidade, como a Rubem Berta e a Radial Leste; regulamentar as guias rebaixadas em grandes avenidas. Dos 350 imóveis da atravancada Avenida Rebouças, 90% têm guias rebaixadas irregulares – a lei manda que o rebaixamento ocupe no máximo 50% da fachada. Caso a regra fosse cumprida, a área de estacionamento diminuiria. Cada carro que vai parar em frente aos estabelecimentos comerciais gera uma fila de lentidão atrás dele. “Se houvesse fiscalização, o trânsito da região melhoraria 50%”, calcula o engenheiro de transportes Luiz Célio Bottura; construir áreas de embarque e desembarque dentro de escolas. Fila dupla em porta de escola é uma cena clássica. Colégios como o Marista Arquidiocesano, na Vila Mariana, e o São Luís, em Cerqueira César, construíram áreas especiais de embarque e desembarque de alunos dentro de seus terrenos. A CET ajudou a elaborar o projeto. É uma iniciativa que deveria servir de exemplo.