Chef de cozinha é estrela de musical de Villa-Lobos
Não, não estou falando de nenhum cozinheiro célebre. Desista. A história aqui é outra. Já disse algumas vezes aqui no blog que sou fã de ópera. Desta vez, porém, não tratarei de mais uma delas, mas de um musical do mais genial dos compositores brasileiros. Ele, sim, o carioca Heitor Villa-Lobos. É Magdalena, composição concluída […]
Não, não estou falando de nenhum cozinheiro célebre. Desista. A história aqui é outra.
Já disse algumas vezes aqui no blog que sou fã de ópera. Desta vez, porém, não tratarei de mais uma delas, mas de um musical do mais genial dos compositores brasileiros. Ele, sim, o carioca Heitor Villa-Lobos. É Magdalena, composição concluída em 1948 sob encomenda da dupla de letristas americanos Robert Wright e George Forrest. O maestro a desenvolveu a toque de caixa para que fosse encenada na Brodway.
Inédito nos palcos paulistanos, o musical ganhou uma montagem em fevereiro deste ano no Teatro Municipal para comemorar os 90 anos da Semana de Arte Moderna, da qual Villa-Lobos foi um dos participantes. Para ser bem sincero, a trama de Magdalena não me empolgou muito, nem mesmo a produção de figurinos e cenários, importados do Théâtre du Châtelet, de Paris, onde havia sido encenada em 2010. O nome Magdalena refere-se a um rio da Colômbia, onde se passa a maior parte dos dois atos – a parte restante transcorre em Paris, tudo no ano de 1912.
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Algo em especial me interessou no musical: o fato de um dos protagonistas ser chef. Isso mesmo. Acredito ser esta a primeira vez que um cozinheiro virou personagem de um espetáculo cantado, aliás uma mulher. O papel de mestre-cuca coube à meio-soprano Luciana Bueno, dona de uma linda voz. Ela interpretou Teresa, uma personagem glamourosa, divertida, maliciosa e cruel.
Teresa é dona do restaurante parisiense Little Black Mouse Café, no qual conhece o General Carabaña, um balofo dono de minas de pedras preciosas na Colômbia e um esbanjandor dinheiro em prazeres na capital francesa. À chef, não resta dúvida que um homem se pega pelo estômago e torna-se amante dele.
O militar se vê obrigado a voltar ao país natal, porque a jovem Maria, da tribo dos muzos, lidera um movimento de trabalhadores que querem direitos sobre as minas. Para arrastar Teresa, Carabaña lhe promete um colar de esmeralda. Mas as coisas se complicam às margens do Rio Magdalena e, para abrandar o movimento dos trabalhadores, o general pede Maria em casamento com a promessa de dar a ela o mesmo colar que seria de Teresa.
As coisas azedam na panela. A cozinheira prepara um grande banquete para homenagear o gordalhão e sua nova noiva. Como em A Comilança, filme dirigido pelo italiano Marco Ferreri em 1973, esse personagem come até morrer, motivado não pelo niilismo encontrado nas telas, mas por um plano diabólico de Teresa.
Aliás, ela canta para ele:
“Veja meu General, com o casamento que se aproxima, você merece o mais rico dos jantares. Pois eu lhe preparei um banquete! Zoggie, sirva o jantar, sopa, carne, salada, peixe, souflé, e para o gran finale…minha pièce de resistance!
(ao concluir seu plano)
Eu servi a pièce de resistance: a morte à la Teresa.”
Não é só nessa canção que Teresa brilha. Veja nesta outra parte reservada para ela:
“Toujour l’amour, só tem glamour, se tem toujour pavê…aahhh, não, estúpido, imbecil!!! Você não pode abrir uma ostra com um porrete! Uma ostra é recatada, romântica…”
(mostrando para o ajudante), “você tem que flertar com uma ostra! Você faz uma cócega, cutuca, incomoda, a ostra relaxa…voilá, é o amor que abre a ostra!”
(para outro ajudante), “no banquete de hoje a noite os convidados estarão sentados na Colômbia, mas com a barriga em Paris! Me excita ver os homens comendo a comida que eu fiz, e sentir a paixão que vive no seu estômago!”
Como vale a pena ver, selecionei um trechinho de um vídeo de La Bueno em cena:
https://www.youtube.com/watch?v=xUmq28ldu1M
Caso queria saber mais sobre essa obra de Villa-Lobos, leia Um compositor brasileiro na Broadway: a contribuição de Heitor Villa-Lobos ao teatro musical americano, entusiasmante dissertação de mestrado de Rosane Viana, defendida na Universidade Federal de Minas Gerais em 2007.
Para encerrar, uma sequência de fotos de La Bueno em cena:
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