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Por Arnaldo Lorençato Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
O editor-executivo Arnaldo Lorençato é crítico de restaurantes há mais de 30 anos. De 1992 para cá, fez mais de 16 000 avaliações. Também comanda o Cozinha do Lorençato, um programa de entrevistas e receitas no YouTube. O jornalista é professor-doutor e leciona na Universidade Presbiteriana Mackenzie
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Chef Rodrigo Oliveira, do Mocotó, fecha restaurante na Vila Medeiros

Endereço estrelado funciona somente até 7 de outubro, um domingo

Por Arnaldo Lorençato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 20 jan 2022, 14h33 - Publicado em 28 set 2018, 11h39
Rodrigo Oliveira: um dos chefs convidados pelo evento (Divulgação/Divulgação)
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A notícia é inusitada. Imagine um restaurante multipremiado, que acaba de receber pela  terceira vez as cinco estrelas máximas atribuídas pelo guia anual COMER & BEBER, fechar. Adicione à coleção de prêmios uma estrela do Guia Michelin e ainda uma menção no ranking 50 Best da revista inglesa Restaurant para a América Latina. Sim, esse restaurante existe, mas somente até 7 de outubro. Depois desse dia, encerra definitivamente as atividades. O estabelecimento em questão é nada menos que o Esquina Mocotó, endereço de cozinha brasileira autoral de Rodrigo Oliveira, na Vila Medeiros. “Quando uma coisa dá muito certo já é hora de fazer outras. Dentro desse modelo não tinha mais o que inventar”, diz Oliveira. No lugar, surgirá uma nova casa, que deve estar pronta somente no primeiro trimestre de 2019. Veja trechos da conversa que tive com o chef, que deve devolver o prêmio a Veja São Paulo:

Esquina Mocotó
Última chance: receitas como o chocolate branco caramelado, a costela de angus com cuscuz de milho croquete de porco e coração de pato deixarão de ser servidas (Bruno Geraldi/Veja SP)

O Esquina Mocotó
O Esquina era algo que a gente não sabia fazer. Deveria ser diferente do vizinho Mocotó, ter cozinha brasileira e ser exclusivo. A mensagem foi se construindo com o tempo. A gente foi evoluindo de um começo superdesafiador e aprendendo a fazer tudo. Depois de cinco anos, ficou confortável ter as cinco estrelas da Vejinha, uma estrela Michelin e estar na lista do 50 Best. A ideia é encerrar com chave de ouro esses cinco anos.

Motivos do fechamento
Nosso tíquete médio varia de 98 a 108 reais, muito barato se comparado com o de outros cinco-estrelas da cidade, mas caro para a ‘quebrada’ onde estamos, caro para as pessoas do bairro. Dá para calcular o quanto a gente lutava para manter essa faixa de preço. Para que continuássemos a ser inclusivos, precisávamos nos reinventar.

O novo ocupante
Se chamaria Rolê, mas o nome já está registrado e estamos pensando em outro. Vamos destilar todo o aprendizado do Esquina e colocar num formato mais inclusivo. Estamos criando um fast service, não é um fast food. O serviço deve ser rápido, com a meta de ter um cardápio 100% orgânico. Vai ser centrado muito no mais nos vegetais do que nas carnes. É um restaurante paulistano e suburbano. Vai conversar com a ‘quebrada’ e a cidade. Terá de oferecer mais do que comida e bebida, será um lugar de interação e formação. Traremos música, arte, pintura, fotografia. Vamos criar um espaço para esse pedaço da cidade tão carente de beleza. O que há de melhor na cidade é para muito poucos.

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Remodelação visual
Vai mudar toda a fachada, que receberá intervenções de artistas urbanos. Internamente também a decoração será mais contemporânea. Vamos trocar o grafite do Speto [que ocupa uma das paredes e era a parte essencial da identidade visual do restaurante]. Ele deve ser convidado para participar dessa intervenção. A gente tem um parceiro, um cara muito legal: o [rapper e estilista] Emicida vai assinar os uniformes.

Esquina Mocotó X Balaio IMS
São propostas diferentes. O Balaio olha para o Brasil, e o Esquina Mocotó era mais sertanejo [o chef refere-se ao restaurante sempre no passado, como se já estivesse fechado].

Função de um restaurante

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Tem um pensamento que me inquieta desde uma conversa que tive com a historiadora Adriana Salay, que é minha mulher. Ela perguntou para que serve um restaurante. Falei de uma maneira muito floreada que é um duelo da natureza com a cultura, da expressão do menu. Ela falou: é bonito, mas restaurante serve essencialmente para uma coisa fazer com que as pessoas saiam melhores do que entraram. Isso me deu um estalo, a gente tem que restaurar as pessoas não só fisiologicamente, mas uma restauração emocional e intelectual. Um restaurante pode restaurar uma comunidade. A gente acredita que sim.

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