O arquiteto paulistano mais reconhecido na China do que no Brasil
Fernando Brandão, autor do projeto da Livraria Cultura, do Conjunto Nacional, faz sucesso no Oriente
O paulistano Fernando Brandão, de 58 anos, é um raríssimo arquiteto brasileiro a fincar sua prancheta na China, hoje a potência da arquitetura mais ousada (e milionária) do mundo. Tudo começou quando ele venceu o concurso para fazer o pavilhão do Brasil na Feira Universal de Xangai de 2010. A fachada verde e as referências ao futebol fisgaram o público (o evento recebeu 73 milhões de visitantes). “Eles nos acham alegres, mas não sabem muito da nossa história. Como fui o autor do pavilhão nacional, começaram a me chamar de ‘melhor arquiteto do Brasil’ ”, diverte-se.
A vitrine lhe rendeu muitos convites. Brandão virou professor em uma faculdade, o que permitiu que ele abrisse uma filial de seu escritório no próprio câmpus (atualmente com dez colaboradores). Além disso, recebeu encomendas para projetar um shopping, uma biblioteca, catorze restaurantes, o retrofit de antigas fábricas em Liyang e até um complexo de “baixo carbono” em Shenzhen. Ele aproveita uma onda que começou no fim da década de 90, quando surgiu o primeiro escritório particular de arquitetura na China. Desde a Olimpíada de Pequim, a arquitetura vistosa, aberta a estrangeiros, se espalhou pelo país.
Choques culturais não faltaram. “Nas faculdades chinesas, há uma ênfase enorme em como montar um escritório, em como transformar arquitetos em empreendedores, empresários. Eles aprendem mais capitalismo em sala de aula que no Brasil”, compara. Brandão chegou a considerar fincar raízes no gigante asiático. Então se apaixonou pela gaúcha radicada em São Paulo Angela Magdalena. Por ela, encara a “ponte aérea” de quase vinte horas de viagem. Até reabriu seu escritório em Pinheiros. Do outro lado do mundo, ele foi rebatizado. “Os chineses não conseguem falar nem Bra nem Dão, então me deram um novo nome: Long Bai Du, ou o dragão que ajuda as pessoas.”
O apelido combina com o trabalho que garantiu prestígio a Brandão. Em 2005, assinou o projeto da Livraria Cultura no Conjunto Nacional, que exibe um dragão de madeira suspenso no ar. Por aqui, ele também planeja uma série de bibliotecas em miniatura, implantadas em escolas da periferia. O desenho contou com a participação de duas estudantes do Colégio St. Francis. Com patrocínio da Brasilit, a primeira unidade deve ser inaugurada em julho, no Colégio Mão Amiga, em Itapecerica da Serra. “Não basta projetar uma estrutura, quero saber o que as pessoas vão sentir ali”, afirma o arquiteto.
A economia de materiais e o aumento da produtividade estão na pauta. “Entrega rápido quem tem fome. Profissionais europeus fazem sessenta projetos ao longo da vida. Eu, sozinho, tenho mais de 2 000.” Parte deles está no livro Belonging, lançado em novembro para comemorar trinta anos de carreira. Mas ainda há outros por vir, como um complexo de três torres envoltas por um espelho-d’água em Xangai, com mix de residências e escritórios. “A previsão é que saia do papel daqui a dois anos”, diz, otimista, o dragão Brandão.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 22 de maio de 2019, edição nº 2635.