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A Tal Felicidade

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Como ter uma vida mais feliz segundo a neurociência

Claudia Feitosa-Santana fala sobre os elementos imprescindíveis para alcançar o bem-estar

Por Claudia Feitosa-Santana, em depoimento a Helena Galante
25 mar 2022, 06h00
ilustração de rosto feminino
 (Olga Ubirailo/Getty Images)
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Atualmente, fala-se muito de felicidade. Todos parecem estar atrás de seu final feliz. Por quê? Porque ninguém sente saudade de sofrer. Ninguém se sente bem quando está mal. Por isso, querer ser feliz a todo instante é uma obsessão da nossa sociedade. Mas infelizmente é uma tarefa impossível para o cérebro. O “felizes para sempre” é coisa de conto de fada.

Nosso mundo é feito de contrastes, e nós somos máquinas de detectar diferenças. Nossa vida é construída de momentos consecutivos, que podem ser mais ou menos discrepantes. Ou seja, há instantes de felicidade e tristeza, de bem-estar e mal-estar, e por aí vai. O melhor é chegar mais próximo do ponto em que as diferenças são mais suaves, mais mornas, evitando os extremos.

Esse caminho do meio pode parecer sem graça, mas passa a ser mais atraente se deixamos de pensar em felicidade e optamos por construir uma vida mais feliz. Se felicidade é só um momento passageiro, a vida feliz é um projeto de longo prazo. Então, o que você pode fazer para consegui-la? É aqui que a ciência pode nos ajudar: a partir de pesquisas, é possível delimitar alguns ingredientes.

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Da mesma forma que não dá para fazer pão sem farinha, não dá para ser feliz sem o devido cuidado com o corpo, pois nossos estados mentais começam pelos estados corporais. E o corpo precisa de alimento, descanso e exercício. Por isso, primeiro, se alimente de maneira saudável e saborosa. O balanço entre os dois é importante — e subjetivo. Segundo, todo mundo, inclusive você, precisa dormir bem, então tente evitar a privação de sono (e de sonho). Terceiro, lembre-se de que pouco exercício é melhor que nada. E mais é melhor que pouco. Com esses três componentes você tem a base para o bem-estar.

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Além disso, diferentemente do que se prega por aí, não somos multitarefa. Construir uma vida feliz exige foco, que pode ser atingido com a ajuda de atividades meditativas, que são o recheio da nossa receita. Cozinhar, costurar, surfar, praticar zazen ou rezar o terço — cada pessoa faz do seu jeito, e há quem esteja bem sem meditar. Quanto mais atentos ao momento presente, menos ansiosos e angustiados ficaremos com o futuro.

Gratidão virou moda e é mais usada da boca para fora do que para nos instigar a sermos, de fato, gratos. Mas, como sentimento, ela dá uma bela cobertura! Ao cultivá-la, você se desapega da busca infindável por querer se ver numa situação diferente da qual se encontra, o que é fundamental para aproveitar e ser contente em sua jornada.

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Não há, porém, uma vida feliz sem momentos difíceis. É como uma música cheia de diferentes arranjos e notas, mas ainda assim harmoniosa. Se fosse feita somente de momentos alegres, nosso cérebro se habituaria e eles seriam percebidos como banais e perderiam o sabor. É por isso que você precisa aprender a lidar com a tristeza, a frustração e as adversidades.

Por fim, a vida é complexa, e essa complexidade pede mais conhecimento de quem somos, de como a mente funciona. E que, no final do dia, não há uma única receita prática e fácil para ser feliz. Você vai ter de inventar a sua, mas, agora, terá a matéria-prima validada cientificamente para criar uma vida mais feliz.

Claudia é uma mulher branca, magra e de cabelos escuros e curtos. Ela posa para a foto com os braços cruzados e usa um macacão preto.
Claudia Feitosa-Santana é neurocientista, arquiteta e engenheira. Lançou, pela editora Planeta, o livro Eu Controlo Como Me Sinto — Como a Neurociência Pode Ajudar Você a Construir uma Vida Mais Feliz (Adriana Vichi/Divulgação)
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A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galante. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br

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Publicado em VEJA São Paulo de 30 de março de 2022, edição nº 2782

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