Cuidar de si e também do outro
Eduardo della Maggiora, fundador e CEO da Betterfly, fala sobre como nossas ações podem mudar a história de outras pessoas
Há 25 anos, meu pai sofreu um mal súbito enquanto dirigia. Eu tinha 15 anos e estava sentado no banco de trás. Naquele momento, minha vida mudou para sempre. Além de perder a pessoa que mais amava no mundo, nossa família lutou economicamente por muito tempo após o acidente, já que ele não possuía um seguro de vida.
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Alguns anos depois, minha mãe foi diagnosticada com leucemia. Dessa vez, tivemos uma cobertura que foi usada para pagar seu tratamento, o que fez toda a diferença. Esse acontecimento me fez repensar o que estava fazendo da minha vida e como eu poderia mudar a minha trajetória. Aos 34 anos, morava em Nova York e trabalhava no J.P. Morgan, onde passei mais de uma década com os profissionais mais inteligentes e brilhantes do setor de serviços financeiros e seguros.
Em 2014, larguei meu emprego e me mudei para a Tanzânia, onde passei seis meses como voluntário em uma escola primária local, dando aulas de inglês. Alguns dos meus alunos eram HIV positivo, quase um terço deles era órfão, e a maioria sofria de desnutrição. Pude ajudar crianças a terem uma refeição completa e que, por vezes, era a única que teriam no dia. Lá na África, percebi quanto nossas ações podem mudar a história de outras pessoas, garantindo mais bem-estar, saúde, acesso e possibilidades. Eu não sabia disso na ocasião, mas ali nascia meu maior sonho e realização profissional.
Dois anos depois, enquanto andava de bicicleta, uma ideia maluca passou pela minha cabeça: e se pudéssemos “converter as calorias queimadas’’ nos exercícios em alimentos para crianças carentes? E se pudéssemos capacitar as pessoas a proteger suas famílias, comunidades e o nosso planeta apenas vivendo as suas melhores versões? Algum tempo depois, comecei a trabalhar em um projeto detalhado para dar vida a essa ideia.
E sigo com o questionamento: alguma vez você já se perguntou qual impacto positivo promove na vida de outras pessoas? Ou como suas ações têm reverberado no mundo? Após os ensinamentos trazidos pelo período de isolamento social imposto pela pandemia da Covid-19, acredito que todo mundo já se fez uma dessas perguntas, em algum momento. Foi essa reflexão que mudou o rumo da minha história. À época, me vi diante de um dilema: permanecer como estava ou gerar pequenas mudanças capazes de grandes transformações na minha vida e na do próximo.
A decisão de mudar de caminho, com a ajuda de outras pessoas, me permitiu impactar comunidades que estavam a centenas de quilômetros de distância da minha realidade. Estou falando da possibilidade de alcançar crianças em vulnerabilidade social em toda a América Latina por meio da doação de refeições; populações no Chile, México e Brasil que tiveram acesso à água potável — algumas, pela primeira vez —; contribuir para o reflorestamento do planeta e auxiliar a fertilizar solos com o plantio de árvores; e, ainda, ajudar no desenvolvimento físico e intelectual saudável de crianças com a entrega de 50 000 litros de leite.
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Contudo, essas ações tornaram-se volumosas a partir da atitude de várias pessoas que escolheram adotar um hábito saudável todos os dias. Escolhas simples como caminhar, pedalar, subir ou descer escadas, por exemplo. Escolhas que podem transformar muitas vidas.
Segundo um estudo internacional da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2020, até 5 milhões de mortes por ano poderiam ser evitadas se a população em todo o mundo fosse mais ativa. Além disso, outros dados da mesma organização apontam que um em cada quatro adultos não pratica atividade física suficiente. Em nível global, a estimativa da OMS é que isso custe 54 bilhões de dólares em assistência médica direta.
A partir de pilares como prevenção, proteção e propósito, consegui chegar a um modelo que gera bem-estar, proteção financeira e impacto social. Com essa estrutura, pude acompanhar de perto a experiência de um rapaz que perdeu 85 quilos em um ano. A cada 500 calorias perdidas, ele doava uma refeição para uma criança da África. Ao final desse período, ele doou 150 pratos de comida, salvando essa vida da desnutrição infantil.
Ainda caminhamos a passos tímidos diante dos desafios no mundo. Mas juntos, cada um assumindo sua parte, vamos comprovando que somos capazes de impactar a nossa própria vida, por meio do autocuidado, e também a vida de muitas outras pessoas. Fazer a nossa parte é o que nos deixa mais próximos da felicidade.
Publicado em VEJA São Paulo de 30 de novembro de 2022, edição nº 2817
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