O que é felicidade, segundo a visão de mundo quântica
Consciência do coletivo é a base de tudo e caminho para a felicidade, afirma o físico nuclear Amit Goswami
A maioria dos cientistas atuais acredita em uma visão de mundo materialista, com a matéria sendo a base de tudo o que existe. Até experiências humanas seriam resultado de interações materiais, regidas por neurônios e hormônios. Essa visão surgiu em contrapartida a outra mais centrada na religião, que dominou o mundo por muitos séculos. Mas essas não são as únicas visões de mundo que existem.
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Desde o começo do século passado, a física quântica, que explora objetos submicroscópicos que constituem a energia e a matéria, tem realizado descobertas que apontam para algo mais complexo. Uma descoberta significativa, por exemplo, foi a que, no nível subatômico, a matéria pode se comportar de forma dual: às vezes como partículas, às vezes como onda. O que deveria ser paradoxal, já que essas duas possibilidades são completamente diferentes, e funcionam de forma perfeitamente harmônica.
A visão de mundo quântica, criada por mim, se baseia na resolução desse paradoxo, afirmando que é a consciência, não a matéria, a base de tudo o que existe. E a matéria é apenas uma das muitas possibilidades que a consciência pode escolher para manifestar. Você pode pensar “consciência” e achar que estamos falando da mente humana. Porém, a consciência é muito mais do que a mente de um ou outro ser humano.
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É a consciência que as tradições espirituais e os místicos de outrora chamavam de “divino”. A nossa consciência individual, conhecida como a “consciência do ego”, é limitada. Viver apenas no material e se apegar a essa consciência contraída pode causar muito dano ao indivíduo e ao mundo. Se ficamos centrados no ego, nos tornamos autocentrados e egoístas. Mas se lembrarmos que não somos apenas seres individuais vivendo vidas isoladas, e há muitos indícios que indicam que isso é mais fato do que teoria, podemos deixar nosso ego de lado e alcançar uma felicidade mais pura e duradoura.
Normalmente, quando falamos de felicidade, nos referimos a estados de prazer. Comemos, fazemos sexo, fazemos compras, e nos sentimos felizes. Mas essas são experiências efêmeras. A real felicidade defendida pela ciência quântica vai além, e busca alcançar novos estados mais alinhados com a consciência. É lá que podemos encontrar a real felicidade.
Como chegar lá? Essa é, claro, a pergunta de 1 milhão de dólares. Podemos investir muito tempo discorrendo sobre isso, mas a ideia principal é reduzir os ruídos mentais, cheios de pensamentos e dúvidas, e focar mais em meditação, mergulhando assim no que chamamos de “inconsciente”, que por sua vez nos coloca mais próximos de possíveis saltos de criatividade. Devemos deixar de lado então o material e viver apenas no inconsciente? Não. Estudos com pessoas que meditam provaram, com o uso de ressonância magnética funcional, que meditar ao longo da vida altera o cérebro. Confirmando assim que material e divino convivem e se completam. Então a felicidade não é apenas um momento, mas uma jornada.
A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galante. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br.
Publicado em VEJA São Paulo de 1 de dezembro de 2023, edição nº 2870.