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Como fazer um sabático sem gastar rios de dinheiro na Índia ou no Tibete

Para Patrick Santos, dar um tempo da correria do dia-a-dia é fundamental para encontrar o seu propósito

Por Patrick Santos
Atualizado em 19 fev 2021, 10h48 - Publicado em 19 fev 2021, 06h00
Imagem é uma ilustração de pernas mergulhando em água
Patrick Santos: jornalista decidiu investir na sua essência ao invés da carreira por um ano (CSA Images/Getty Images)
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Há pouco mais de dois anos, um outro compasso do relógio começou a pedir passagem em minha vida. O mundo acelerava e eu não dava conta de acompanhá-lo. Estava refém de um tempo que não mais me pertencia. Me sentia como um hamster, correndo feito louco dentro de uma roda e me esforçando cada vez, sem conseguir sair do lugar. Algo não fazia mais sentido pra mim.

Eu estava no auge da minha carreira profissional, mas aos 45 anos resolvi que era hora de dar um tempo. Tirei um período sabático, a melhor definição que encontrei para dizer que simplesmente precisava parar, abrir espaço para algo novo nascer. Não fui cruzar os oceanos de veleiro, nem meditar na Índia ou no tibete. fui fazer outro tipo de viagem: um mergulho interno.

Subindo e descendo as ladeiras de Perdizes, o bairro em que moro em São Paulo, fui ao encontro da outra parte de mim que havia me escapado num estilo de vida em que pouco me permitia olhar para os lados.

Durante muito tempo vivi no único modelo que me venderam como sucesso: nasça, cresça, estude, entre na universidade e arranje o melhor emprego. Bata suas metas. Mantenha-se sempre em forma. Você pode tudo.

Nas minhas caminhadas comecei a questionar o que de fato faz sentido na vida. O que é necessário, o que é supérfluo? O que realmente nos traz felicidade? Por que acelerar tanto a vida se a única certeza que temos é a de que um dia ela acaba? A pausa me ajudou a olhar a vida de uma forma diferente.

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Passamos boa parte de nossa existência buscando o extraordinário quando, na verdade, a beleza da vida está no ordinário, no dia da dia, nas nossas relações humanas, passando uma tarde no parque com o filho, cozinhando com a esposa, assistindo a um filme com a família, entre tantos momentos que costumamos ignorar.

Tenho comigo que esta pandemia, em que pese toda a dor e angústia com tantas perdas, tem sido também uma oportunidade para rever valores, entender o tempo e, principalmente, propiciar uma reflexão profunda sobre nossas reais necessidades e o que queremos fazer da vida.

Foi intercalando a minha história de desacelerar a vida em 2018 com este momento do mundo em decorrência da pandemia que lancei na última semana meu primeiro documentário: Pausa: o Intervalo do Mundo. Reflito com pessoas das mais diversas áreas do conhecimento as principais lições desse período pandêmico.

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Passados dois anos da minha decisão de buscar outras formas de caminhar pela vida, muitos me perguntam hoje como tive coragem para mudar e procurar mais sentido no que faço. O tempo, sempre ele, me fez entender que coragem não é ausência de medo e, sim, a capacidade de agir apesar dele.

Ninguém precisa tirar um sabático para encontrar o seu propósito, mas pequenas pausas são fundamentais para atravessar essa jornada, até porque uma vida sem pausas adoece. Viva a vida.

Imagem mostra o escritor e jornalista Patrick Santos posando para a foto
Patrick Santos (Divulgação/Divulgação)
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Patrick Santos (@patricksantos.oficial) é jornalista e escritor. Apresenta o podcast 45 do Primeiro Tempo, nome também do seu livro. lançou o documentário Pausa: o Intervalo do Mundo, disponível no Youtube da Panflix.

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Publicado em VEJA São Paulo de 24 de fevereiro de 2021, edição nº 2726

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