Saiba mais sobre as safras de 2018 e 2020, ótimas para vinhos brasileiros
Beneficiados pelo clima perfeito, os dois anos oferecem rótulos de qualidade
A excelência de um vinho depende primordialmente da qualidade de sua matéria-prima. A uva é um insumo agrícola e, como tal, suscetível às flutuações da natureza. Por isso, uma boa safra é fator determinante na hora da escolha da bebida. Mas o que faz uma colheita ser considerada realmente boa?
Os fatores mais importantes são a insolação do terreno usado no plantio, assim como a quantidade de chuva que a fruta recebe em cada momento de seu ciclo anual. Fenômenos como pragas, geadas, granizo, secas e enchentes podem influenciar de maneira definitiva o resultado. É importante lembrar que um ano pode ser excelente em uma região, mas ruim em outra.
Em Bordeaux, por exemplo, 1991 foi o pior ano daquela década, enquanto na Serra Gaúcha foi a melhor safra do século. No Brasil, 90% dos vinhos vêm do Rio Grande do Sul. A principal região é a famosa Serra Gaúcha, de clima temperado úmido, com chuvas que, às vezes, insistem em incomodar no período errado. Porém, nos anos em que as nuvens dão lugar ao sol, a qualidade dos vinhos sobe. Foi o que aconteceu em 2018 e 2020, já consideradas por especialistas as duas das melhores safras da história nacional. O que esses anos tiveram de tão especial e quais regiões se destacaram?
“Em 2020, o resultado foi ainda melhor, com nível
de excelência em quatro estados: Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais”
A Embrapa Uva e Vinho mede todos os anos, por meio de estações meteorológicas, as condições climáticas nas principais áreas vinícolas do Rio Grande do Sul. Desde 2012, também faz esse acompanhamento em Santa Catarina. As métricas são as horas de sol e o volume de chuvas acumulados durante o ano.
Com base nessas informações, se analisa a safra em cada região de três grupos de uvas: (A) as de colheita precoce, como chardonnay e pinot noir (utilizadas principalmente em espumantes); (B) intermediárias, como a merlot; e (C) tardias, como cabernet sauvignon e tannat. Todos os anos compilo a performance de cada região para cada grupo de uvas. Para 2018 e 2020, o resultado foi de alta qualidade para a maioria das regiões e uvas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
Excelentes em 2018 foram: Serra Gaúcha (para uvas do grupo C), Serra do Sudeste (A, B, C), Campanha Gaúcha (A, B, C), Campos de Cima da Serra (B), Serra Cata- rinense (B). Em 2020, o resultado foi ainda melhor, com nível de excelência nos dois estados: Serra Gaúcha (A, B, C), Serra do Sudeste (A, B, C), Campanha Gaúcha (A, B, C), Campos de Cima da Serra (B, C), Serra Catarinense (C).
Para os vinhos de São Paulo e Minas Gerais, que seguem o sistema de dupla-poda ou colheita de inverno, a realidade foi semelhante. Segundo Murillo Regina, mentor dessas bebidas no Brasil, “2020 sem dúvida foi a melhor safra de todas até agora para os vinhos de inverno, com seca prolongada e noites frias”. No Nordeste, entretanto, a realidade foi bem diferente.
Para Ricardo Henriques, enólogo-chefe da Rio Sol, maior produtora do Vale do São Francisco, “2020 não foi das melhores, 2015 e 2016 foram muito superiores”. Outras safras de qualidade superior na Serra Gaúcha foram: 2015, 2012, 2008, 2006, 2005, 1999, 1991 (histórica) e 1986. Os vinhos de maior guarda da safra 2018 estão chegando ao mercado neste ano, junto com os mais jovens de 2020.
Confira abaixo três vinhos da safra de 2018 e onde achá-los
Miolo Lote 43 2018
Ícone da Miolo, este 2018 é um dos melhores vinhos da história do Brasil. É elaborado com merlot e cabernet sauvignon do Vale dos Vinhedos, com doze meses em carvalho.
Muita fruta negra, balsâmicos, especiarias. Paladar de grande estrutura, taninos finos, 15% de álcool, acidez marcante. Um vinho ainda jovem, para longa guarda. R$ 195,00,
Onde comprar: Americanas.
Campaña Cabernet Sauvignon 2018
A Bodega Sossego fica na Campanha Gaúcha, uma das regiões vinícolas mais promissoras do país. Com doze meses em barricas, frutado, com notas balsâmicas e de especiarias. Paladar encorpado, com taninos presentes e ótima acidez. Para beber ou para levar, custa R$ 99,00 no Prosa e Vinho (tel. 3151-3692).
Vivalti Sangiovese 2018
Santa Catarina vem se destacando nos vinhos desta casta italiana. Com doze meses em barricas de carvalho francês, com aroma de frutas vermelhas, especiarias da madeira, bom corpo e a típica acidez gastronômica da sangiovese (R$ 9,00, 30 mililitros). Para tomar no Bardega (tel. 2691-7578).
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