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Viva o cinema cearense: ‘Estranho Caminho’ é um dos melhores filmes do ano

Longa dirigido por Guto Parente cria representação fantástica para a dura realidade da morte e da pandemia

Por Mattheus Goto
2 ago 2024, 10h00
Em 'Estranho Caminho', Lucas Limeira interpreta o jovem cineasta David
Em 'Estranho Caminho', Lucas Limeira interpreta o jovem cineasta David (Linga Acácio/Divulgação)
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É de um primor extraordinário todo o trabalho envolvido em Estranho Caminho. O diretor cearense Guto Parente (Estrada para Ythaca) começou a traçar o percurso da obra em abril de 2020. Com as restrições da pandemia, ficou isolado e reconstituiu a perda do pai. “Depois que ele morreu, em 2017, eu tinha uma vontade grande de fazer um filme que permitisse me reconectar”, conta.

O fruto desse processo foi a história de David (Lucas Limeira), um jovem cineasta que volta a Fortaleza, sua terra natal, para lançar seu primeiro longa. Com o avanço da Covid-19, se vê obrigado a procurar o pai, Geraldo (Carlos Francisco), com quem não fala há mais de dez anos. Mas o reencontro não ocorre da melhor forma e acontecimentos estranhos afetam o convívio.

As filmagens foram realizadas em 2021, após uma forte onda de casos de coronavírus, que desafiou a produção, ainda mais nas cenas em hospital e aeroporto. O projeto superou as dificuldades e chega agora aos cinemas como um dos melhores do ano, após ser premiado em Tribeca, no Rio e em Tiradentes.

Carlos Francisco dá vida ao peculiar Geraldo em 'Estranho Caminho'
Carlos Francisco dá vida ao peculiar Geraldo em ‘Estranho Caminho’ (Linga Acácio/Divulgação)
Fotografia de Linga Acácio
Fotografia do filme é assinada por Linga Acácio (Linga Acácio/Divulgação)
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O roteiro equilibra comédia com drama e proporciona profundas reflexões sobre luto e “incomunicabilidade” entre pai e filho, como descreve Parente. “É uma história pessoal, mas tem essa sensação universal”, analisa. Houve colaboração dos atores para construir o texto. “Durante os ensaios, surgiram muitas questões minhas. No dia seguinte, o Guto chegava com a cena alterada”, afirma limeira.

Outra atenção especial foi a montagem, que levou vinte meses — o corte final é o de número 40. A fotografia tem tanta personalidade que fala por si e o elenco destaca-se pelo timing humorístico.

O diretor acrescenta um caráter experimental autêntico à narrativa e executa com maestria a proposta. Tudo se concretiza com a mensagem ao final: “Para Geraldo, meu pai, e todos os nossos mortos”.

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NOTA: ★★★★★

Guto Parente, diretor de 'Estranho Caminho'
Guto Parente, diretor de ‘Estranho Caminho’ (Taís Augusto/Divulgação)
Publicado em VEJA São Paulo de 2 de agosto de 2024, edição nº 2904

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