Metalinguístico, ‘Magic Farm’ brinca com clima de improviso e amadorismo
Longa da argentina-espanhola Amalia Ulman traz perspectiva anti-imperialista

Há, em grande parte, um quê de improviso e amadorismo calculado em Magic Farm. O longa da argentina-espanhola Amalia Ulman, disponível na Mubi, brinca com um “filme dentro do filme”. Americanos produtores de audiovisual, que percorrem o mundo relatando exoticidades, viajam à cidade de San Cristóbal, na Argentina, à procura de uma boa história, mas descobrem que, na verdade, estavam enganados e erraram o local da visita.
A falta de verba faz com que eles fiquem e procurem alguma pauta para atrair a audiência digital ao vídeo. Tentam improvisar e simplesmente parecem não ver a riqueza sociocultural debaixo de seus narizes.
Por isso e por diversas falas, fica clara a perspectiva anti-imperialista da diretora e roteirista, sobre como os estadunidenses têm uma visão egocêntrica e reduzida de mundo. Inventam uma moda local, envolvem-se com a comunidade e acabam até se apaixonando. Enquanto os locais se mostram interessantes, os estrangeiros são marcados pelas canalhices.
O uso de diferentes câmeras, incluindo uma de 360°, dá um aspecto de trabalho universitário, que conversa com o amadorismo da trupe. As vinhetas sonorizadas, exceto a partir da metade da produção, acabam cortando o fluxo da narrativa.
Chlöe Sevigny é vendida como protagonista da obra, mas roubam a cena os romances de Jeff (Alex Wolff) com Manchi ‘Camila del Campo) e Justin (Joe Apollonio) com o recepcionista (Guillermo Jacubowicz).
NOTA: ★★★☆☆
Publicado em VEJA São Paulo de 1º de agosto de 2025, edição nº 2955