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Primeiro grande show de rock internacional em São Paulo completa 50 anos

Apresentação do cantor norte-americano Alice Cooper levou multidão ao Anhembi em meio à Ditadura

Por Ana Mércia Brandão
Atualizado em 2 abr 2024, 17h57 - Publicado em 28 mar 2024, 14h51
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Alice Cooper fez primeiro grande show internacional de rock do Brasil há 50 anos. (Grace Lagôa/Reprodução)
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No dia 30 de março de 1974, aconteceu no Anhembi, na Zona Norte da capital paulista, o que é considerado o primeiro grande show internacional de rock do Brasil. A data completa 50 anos neste sábado (30).

O pioneiro foi o norte-americano Alice Cooper. Ele fez três apresentações na capital paulista e outras duas no Rio de Janeiro, mas a primeira noite foi a mais emblemática. O roqueiro levou uma multidão ao Salão de Exposições do Anhembi, que aproveitou o ingresso mais barato da primeira apresentação. As outras foram mais caras e não tiveram tanto público.

“O primeiro show foi mais barato, os outros foram quase o dobro do preço. Dizem que teve 180 mil pessoas. Eu duvido, mas pelo menos metade tinha”, diz Maurício Sarro, que esteve presente no show emblemático.

O historiador Daniel Sevillano, que fez seu doutorado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) sobre o rock brasileiro nos anos 1980, explica que é difícil cravar quanto de público estava presente no local. “Não tinha essa visão numérica de participantes de show, até porque não tinha eventos desse tamanho”, diz.

Ele afirma que o show foi importante para mostrar que era possível um investimento dessa magnitude no país. “Naquela época, o Brasil não fazia parte da rota de shows desses artistas internacionais. Tinha a questão da distância, a incerteza se o show daria retorno financeiro e o fato da maioria dos países da América Latina estarem sob Ditaduras Militares no período”, diz.

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Para Sarro, foi uma aventura. Ele saiu de Pirajuí, cidade de pouco mais de 20 mil habitantes a 380 km da capital paulista, acompanhado de um grupo de amigos e chegou de ônibus na manhã do dia 30. “Foi num dia de semana. Gastei todo o meu dinheiro nessa viagem. Ficamos lá esperando no sol o dia inteiro. Quando acabou o show eu estava exausto”, conta.

Na época, ele tinha 19 anos e nunca havia viajado sem os pais, mas afirma que a aventura valeu a pena para ver o primeiro show de rock de sua vida. Entre as memórias que se destacam, estão a hora de entrada do público no espaço – que Sarro afirma ter sido ao som do álbum The Dark Side of the Moon, da banda britânica Pink Floyd –, o momento em que o astro tocou sua música favorita, School’s Out, e quando quase foi pisoteado pela multidão, pois, assim que o show começou, o público que estava atrás tentou ir para frente à força.

“Teve a primeira música. Na segunda começou o empurra-empurra. Eu estava quase no olho do furacão e caí. Uma pessoa me deu a mão para levantar. A banda parou, entrou alguém falando português, não lembro o que foi dito mas o público acalmou. Aí eu pude aproveitar o show. Passou o medo que senti de que iam me pisotear”, diz.

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Multidão no show. (Redes sociais/Dennis Dunaway/Reprodução)

Passada a confusão, Sarro conta que parte do público até sentou e a apresentação do músico conhecido por suas performances chocantes, com decapitação de bonecas, choques e guilhotina, seguiu como o esperado. “ Às 23h pegamos o ônibus de volta para casa. No outro dia, dormi até duas da tarde. E aí continuou minha vida”, reflete.

O historiador Sevillano ressalta que a vinda de Alice Cooper ao Brasil em 1974 é marcante não só por ser pioneira, mas também pelo contexto de Ditadura em que o Brasil vivia. “Ele poderia vir mas não poderia falar de política. Mas a própria apresentação dele tem um sentido político por estar ali como algo contestatório. Era um sopro de liberdade para um país que estava asfixiado pelo pior período da Ditadura”, conclui.

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