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Virgínia Bicudo: pioneira dos estudos raciais na psicanálise

Neta de escrava e negra, ela virou referência nessa área após ter vida marcada pelo racismo

Por Redação VEJA São Paulo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
6 mar 2019, 15h59
Socióloga e psicanalista, Virgínia Bicudo morreu em 2003, aos 92 anos (Reprodução/Veja SP)
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Psicanalista e socióloga reconhecida, Virgínia Leone Bicudo foi a primeira pesquisadora e professora negra a ocupar um lugar de destaque na divulgação e construção da psicanálise no Brasil. Até hoje, é a principal referência em estudos raciais.

Nascida em São Paulo, em 1910, Virgínia era filha de uma imigrante italiana branca e de um brasileiro negro. Neta de uma escrava alforriada, ela conviveu constantemente com o racismo durante a infância e a juventude. O preconceito a motivou a inserir na academia brasileira o primeiro debate sobre o racismo no campo da psicanálise. Ela também foi a primeira psicanalista não-médica do Brasil. Estudiosos também a consideram a primeira mulher a fazer análise no país.

Virgínia começou sua carreira profissional na área de educação sanitária. Formou-se em 1932 pelo Instituto de Higiene de São Paulo, o que lhe rendeu um cargo de funcionária da Diretoria do Serviço de Saúde Escolar do Departamento de Educação. Lá, dava aulas de higiene e escolas do estado de São Paulo. Quatro anos depois, em 1936, interessou-se por sociologia e começou a cursar ciências sociais na Escola Livre de Sociologia e Política.

Em 1942, Virgínia passou a fazer mestrado na mesma escola. Foi onde conseguiu aproveitar seu interesse pela sociologia e pela psicanálise para estudar a questão racial e os conflitos raciais entre brancos e negros. Com sua dissertação intitulada “Atitudes raciais de pretos e mulatos em São Paulo”, tornou-se a pioneira em estudos desse tipo na psicanálise brasileira.

Três anos mais tarde, em 1945, Virgínia conquistou uma cadeira de professora assistente de higiene mental da Faculdade de Higiene e Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Seu pioneirismo acadêmico lhe rendeu o convite para integrar o Projeto Unesco em São Paulo – uma série de pesquisas sobre as relações raciais feitas por professores de várias universidades.

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Em 1954, Virgínia foi contratada pelo Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. No ano seguinte, seguiu para Londres continuar seus estudos sobre as relações raciais no Brasil. A psicanalista ficou por lá até 1959. Durante esse período, também se especializou em tratamento de crianças.

Autora de livros como “Nosso mundo mental”, a socióloga também foi fundadora do Instituto de Psicanálise da Universidade de Brasília, onde começou a dar aulas em 1970. Virgínia morreu em 2003, aos 92 anos.

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