“A Desumanização”, de Valter Hugo Mãe, duplica irmãs no teatro
Fernanda Nobre e Maria Helena Chira protagonizam versão para o palco do romance do escritor português dirigida por José Roberto Jardim
O palco do Sesc Santana é dividido em duas estruturas iguais que simulam quartos. Por eles, circulam duas mulheres idênticas (interpretadas pelas atrizes Fernanda Nobre e Maria Helena Chira) em movimentos coreografados e muito semelhantes em sua simultaneidade. É assim que o diretor José Roberto Jardim encena o drama A Desumanização, adaptado por Fernando Paz do romance do português Valter Hugo Mãe, trabalhando o tempo inteiro com o duplo, como um opressor jogo de espelhos.
O espetáculo transporta o conflito no tempo, mesmo que seja indefinido, para traçar um futuro para a personagem Halla. Hoje uma mulher, ela perdeu a irmã gêmea, Sigridur, antes de entrar na adolescência. Em seu monólogo, Halla redimensiona memórias, e não faz diferença se é representada por Fernanda ou Maria Helena. Ali surgem complexos de alguém que resistiu ao tempo e deparou com a amargura da perda precoce, com a violência psicológica e sexual e também com a necessidade de ficar calada.
O diretor usa recursos de imagens diferentes no que diz respeito à exposição das atrizes. Fernanda, na maioria das vezes bem-sucedida, expressa as emoções através de uma câmera que a projeta como em um depoimento psicanalítico. Maria Helena, por sua vez, obedece em parte a esse recurso, mas percorre também uma trilha mais desprendida do vídeo em sua crise existencial, pronta para perturbar a plateia.
O contraste de projeções culmina em uma relativa frieza, mas é condição para cravar a assinatura de José Roberto Jardim, um dos encenadores mais surpreendentes consolidados na segunda metade da década de 2010 (70min). 14 anos. Estreou em 10/5/2019.
+ Teatro do Sesc Santana. Avenida Luiz Dumont Villares, 579, Jardim São Paulo. Sexta e sábado, 21h; domingo, 18h. R$ 40,00. Até o dia 30.