Cia. Os Fofos Encenam afasta hipótese de censura e aposta em debate para verificar “o que incomoda as pessoas”
O espetáculo “A Mulher do Trem”, lançado em 2003 e aplaudido por mais de 60 000 espectadores, se transformou no centro de uma polêmica envolvendo racismo e os limites da arte. A apresentação programada para a próxima terça-feira, dia 12, no Itaú Cultural foi cancelada depois de uma reação nas redes sociais que critica o […]
O espetáculo “A Mulher do Trem”, lançado em 2003 e aplaudido por mais de 60 000 espectadores, se transformou no centro de uma polêmica envolvendo racismo e os limites da arte. A apresentação programada para a próxima terça-feira, dia 12, no Itaú Cultural foi cancelada depois de uma reação nas redes sociais que critica o fato de dois atores interpretarem personagens negros com o rosto pintado de preto. Na mesma data, às 20h, em uma decisão conjunta do Itaú Cultural e do grupo, será promovido um debate sobre preconceito racial. “A manifestação verificada no final de semana foi muito forte e apresentar a peça poderia parecer um chamado para o confronto”, afirma o ator Eduardo Reyes, integrante da companhia. “Não nos sentimos censurados. Só queremos saber o que incomoda as pessoas.” Os nomes que farão parte da mesa ainda estão em negociações, mas, entre eles, deverão figurar pesquisadores, historiadores, atores negros e, possivelmente, algum militante que se manifestou nas redes contra a peça.
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O recurso conhecido como “blackface”, disseminado nas representações no século XIX, segundo os internautas, incentiva o racismo e ofende os negros. Fundado em 2001, o grupo é conhecido pela pesquisa na linguagem do circo-teatro e carrega em seu currículo os reconhecidos prêmios Shell e APCA, entre outros. Escrita em meados do século XIX pelos franceses Maurice Hennequin e George Mitchell, a comédia “A Mulher do Trem” traz os típicos personagens e situações da dramaturgia da época – o que justificaria a adoção do recurso cênico no espetáculo. Às vésperas do casamento, o noivo confidencia ao sogro suas aventuras de solteiro, entre elas a noitada numa viagem de trem. Escondida, a sogra megera ouve tudo e planeja uma vingança sem se importar muito com a felicidade da filha. A foto publicada no site do Itaú Cultural para divulgação do evento traz o ator Carlos Athaide, com o rosto pintado, na pele da criada Enedina.
Em carta divulgada à imprensa, o Itaú Cultural afirma que “a ideia desta ação é que todos possam refletir sobre a questão e os desafios da produção artística na atualidade”. A montagem deverá ter uma data reagendada para, enfim, ser conferida e levar o público a tirar as próprias conclusões.
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